Capítulo XIV

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Meu mau humor matinal estava até aceitável considerando os acontecimentos desastrosos dessa manhã. O céu ensolarado me fazia crer e orar para que fosse um dia livre de irritações e de pensamentos inoportunos.

Só um dia. Um dia de paz. Era só o que eu queria.

E pra continuar com essa digníssima paz interior, ignorei completamente os pedidos do professor Madariaga para fazer alguma atividade inútil na areia com o restante do pessoal. A cadeira dobrável e o guarda sol teimavam escorregar pelos meus braços, entretanto, continuei seguindo em frente sem pedir ajudar, me fazendo de surda, louca e qualquer outro adjetivo que não fizesse ninguém se aproximar.

Não que eu imaginasse que algum aluno do Elite Way fosse tão educado a esse ponto.

Levei uma surra do guarda sol ao tentar enfia-lo na areia? Não é preciso nem responder, mas após quinze minutos lá estava: Uma cadeira - que eu julgava ser infantil pelo seu tamanho desfavorecido - um guarda sol torto quase sendo levado pelo vento forte, uma garrafinha de água de torneira jogada na areia e por fim, eu, satisfeita por está a sós com meus problemas.

Eu não me importava com a agitação dos demais á poucos metros de mim, meus ouvidos se concentravam somente no som das ondas se quebrando e espalhando a espuma pela areia fofa. Só alguns passos e a água fria tocaria meus pés.

O vento soprava em meu rosto. Fechei os olhos e inspirei o cheiro da maresia, ao abri-los novamente algo parecido com um infarto atingiu meu coração. Um par de olhos escuros me encaravam frente a frente, arregalados e aparentemente assustados.

— O que merda você quer, Giovanni? — Indaguei sem nenhuma paciência.

É PEDIR MUITO ALGUMAS HORAS DE DESCANSO? POR DEUS!

Ele se ajoelhou apoiando-se nas minhas coxas e colocou delicadamente sobre meu colo uma boa quantidade de fotos. Giovanni não tirou as mãos de cima das fotos e me encarou seriamente.

— Promete que não vai surtar?

— Porque eu tenho que prometer? O que é isso?

— Roberta, isso é sério, você não pode ver isso e querer esmurrar o primeiro que aparecer na sua frente — Disse baixo — Você precisa ter calma.

Meus dedos formigaram querendo arrancar as mãos dele de cima das fotos. Meu coração acelerou ainda mais com a ansiedade. Se Giovanni supôs da futura violência, era algo ruim, muito ruim.

— Giovanni...

— Prometa por todos os seus esmaltes escuros e por todos pôsteres de Slipknot que você não vai tirar conclusões precipitadas.

Revirei os olhos.

— Eu prometo.

— Ok... — Ele murmurou retirando a mão lentamente como se tivesse receio por está fazendo aquilo.

A primeira foto não me surpreendeu pelo fato que Pilar trair Joaquim com o Tomás já era mais que evidente, o único que ainda não se tocava disso era o próprio Joaquim. Ou talvez também a Mia, que, venhamos e convenhamos não tem lá nem neurônios pra somar um mais dois. A foto os mostrava dentro de algum banheiro escuro em meio a um amasso. As fotos seguintes se resumiam a podres dos alunos do Elite Way. Pilar, Raquel, Mia e Miguel, Madariaga e a professora Renata.

Deveria ser surpreendente, mas eu era boa com informações e chantagens em troca de favores no colégio. Eu precisava saber de boa parte dos podres alheios.

Estreitei a sobrancelha na direção de Giovanni e só com o olhar ele insistiu para que eu continuasse. Antes que eu voltasse a atenção, algo foi estendido na minha direção, uma pequena garrafa que eu não precisei de muito pra saber que tinha álcool envolvido.

— Você vai precisar disso pra ver o restante.

Agarrei-o e dei um generoso gole prevendo o desastre eminente. Giovanni se ajeitou junto aos meus pés, na areia, de lado pra mim e de frente para o mar, dando-me privacidade.

Passei para a próxima e quase engasguei com a saliva.

Era Diego e eu nos beijando no meio da floresta. Nosso primeiro beijo. Ele me imprensava na parede no momento antes de entrarmos no quartinho. Não era nítido nossos rostos, mas qualquer um que colocasse os olhos reconheceria os meus cabelos vermelhos e os cabelos negros e cacheados do Bustamante.

E por Deus, estávamos quase nos engolindo.

Meu coração se aqueceu com a foto e quis me esmurrar. Meu rosto estava em chamas. Quem mais havia visto aquilo? Merda, Giovanni tinha visto. A pergunta mais preocupante era quem infernos tinha tirado aquelas fotos.

Arrastei a foto pra debaixo e logo as demais me deixaram em choque.

Eram fotos minhas.

Fotos íntimas.

O sangue escorreu totalmente para os pés e eu me senti congelada do pescoço pra cima.

De lingerie no banheiro.

De biquini no verão passado.

No refeitório.

Na sala de aula comentando alguma porcaria da professora.

No dormitório.

E uma última que mostrava que essa loucura ainda era recente, do primeiro dia em que chegamos na casa do Bustamante. Eu de casaco e calça jeans com a cara emburrada por minha mala ter sido roubada, enquanto Miguel e Lupita estavam abraçados ao meu lado.

— Você fez isso?! — Rosnei jogando as fotos na cabeça dele.

— Claro que não, eu ainda tenho decência mesmo que não pareça — Ele resmungou catando as fotos da areia. Giovanni se ajeitou de joelhos e segurou minhas mãos que teimavam em bate-lo nos ombros. — Antes que eu conte, eu quero que me prometa que não vai armar um barraco.

— EU VOU ARMAR UM BARRACO SE VOCÊ NÃO ME DIZER QUEM FEZ ISSO! — Gritei extasiada.

Ele ficou em silêncio me fazendo tremer de impaciência. Levantei-me abruptamente e acabei batendo a cabeça no guarda sol, mas a dor não era páreo pra raiva que eu estava sentindo de quem havia ousado invadir minha privacidade.

Eu iria matar, iria trucidar quem quer que fosse.

— Quem te deu isso, Giovanni? Onde você achou? Quem... fez isso? — Perguntei novamente em uma tentativa falha de controlar minha respiração e o nervosismo.

— Roberta...

— QUEM, GIOVANNI?!

Ele suspirou baixo, passou a mão no cabelo e por fim respondeu:

— O Diego fez... Diego e Tomás estavam o tempo todo com essas fotos.

InevitávelWhere stories live. Discover now