Capítulo XXVII

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— Você comeu merda no almoço, Bustamante? — Indaguei com o tom de voz baixo beirando o limite da psicopatia.

Eu tinha duas opções, ou acabava de vez com o couro do Bustamante na base da porrada, furava seus olhos com uma pedra pontiaguda que já estava em minha mira, ou tentava me acalmar e achar uma solução para a merda que estávamos enfiados. 

Eu sabia o que eles esperavam: O surto, os gritos, mas isso não estava longe de acontecer. Eu estava prestes a explodir e mandar todo mundo pra casa do caralho.

Bustamante deu um passo na minha direção.

Eu inspirei. Três vezes

— QUE PORRA FOI AQUELA?! SEU IMBECIL! EU NÃO SOU SUA PROPRIEDADE PRA VOCÊ FICAR ESMURRANDO A CARA DE QUALQUER HOMEM QUE FALAR COMIGO!! QUAL O SEU PROBLEMA? VOCÊ É DEMENTE? SEU ANIMAL!...

Diego avançou, por um milésimo de segundo meu coração bateu erraticamente e algo alertou o perigo eminente. Ele exalava cheiro de Whisky caro, era nítido que não estava embriagado, mas um ou dois copos eram suficientes pra mexer com a cabeça de alguém, principalmente quando já se tinha um histórico com bebidas.

Bustamante apertou meu pulso tentando me puxar para seu peito e eu desvencilhei rápido, empurrando-o para longe. 

— Ele estava dando em cima de você! — Diego tentou se justificar. 

Eu parecia aqueles cachorrinhos com alma de demônio, louco pra triturar a perna daquele filho da puta.

— EU NÃO ME IMPORTO! — Gritei a plenos pulmões — SE EU ACEITEI FICAR COM VOCÊ, É PORQUE EU NÃO QUERO OUTRA PESSOA! EU NÃO QUERO ISSO, NÃO QUERO NINGUÉM MANDANDO EM MIM! EU TENHO CARÁTER, NO DIA QUE EU QUISER OUTRA BOCA, EU DEIXO VOCÊ E AGARRO QUANTOS CARAS EU QUISER!

— Roberta…

— EU NÃO QUERO OUVIR!!!

— EU CONHEÇO ESSE TIPO DE CARA, PORRA!  — Ele gritou — EU ERA ASSIM, EU SEI COMO ELE PENSA, EU SEI O QUE ELE IRIA FAZER COM VOCÊ…

— VOCÊ ACHA QUE EU SOU ESSE TIPO DE PESSOA, BUSTAMANTE? VOCÊ ACHA QUE EU SOU DESSAS PUTAS QUE VOCÊ PEGA E METE A PORRA DE UM CHIFRE NESSA CABEÇA? 

— Não coloque palavras na minha boca, eu nunca disse isso!

— É o que você está insinuando, presta atenção no que você está falando...

Recuei inspirando profundamente.

— E eu não quero mais ouvir sua voz — Espalmei a mão no ar, em um sinal alto e claro que não queria que se aproximasse. Minha sanidade mental valia muito mais. — Eu não quero saber da sua versão, eu não quero saber de nada que envolva você, eu não quero conversar e muito menos ver a sua cara pelo resto da noite.

Ele passou as mãos nos cabelos desarrumado-os ainda mais, frustrado, aparentemente obedecendo meu pedido. O corte no lábio me fez sentir um aperto no peito, mas ao lembrar de como havia ficado o outro cara, minha piedade morreu tão rápido quanto havia chegado.

Após o primeiro soco do Bustamante na réplica de Jesus, os dois se enrolaram no chão em uma confusão de socos que mal conseguia enxergar quem era quem. Eu gritava em desespero para pararem, mas meus gritos eram tão inúteis quanto minhas súplicas pra alguém poder separá-los.

Eu conseguia ver o rosto de Jared com muito sangue escorrendo, os olhos arroxeados, a bochecha cortada. Eu estava entrando em pânico quando minha salvação surgiu no final do corredor sendo carregado por dois seguranças. 

Miguel e Giovanni eram arrastados sem delicadeza alguma por dois caras que mais pareciam um dos meus antigos armários, daqueles que é preciso ter um banquinho pra poder alcançar a última prateleira. Não precisava ser um gênio pra saber que os dois haviam sido pegos roubando bebidas, a garrafa na mão do armário careca denunciava isso.

InevitávelWhere stories live. Discover now