Capítulo XXV

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Eu via os olhos da Colucci ao brincar com Harriet, transbordava paixão e ternura. Não importava se a menina estava quase arrancando seus fios loiros ou mastigando a manga da sua blusa caríssima, ela não deixava de ter um sorriso leve nos lábios e falar com a garota com uma voz insuportavelmente irritante.

Eu estava ciente que a conversa sobre a gravidez não era a definitiva, Mia tinha tantos receios que poderiam completar um caderno inteiro só com uma lista de porque não ter um bebê aos dezesseis anos. O primeiro ponto era sobre como Franco Colucci lhe deserdaria quando soubesse que seria vovô.

Ela precisava da sua aprovação. Precisava atender as altas expectativas que Franco Colucci tinha para seu futuro esplendoroso. Eu a entendia perfeitamente. Franco havia sido sua única família desde a morte da mãe, era de se esperar o medo de ficar só no mundo, se por acaso, ele a rejeitasse.

Oh sim, ainda estávamos trabalhando com hipóteses. Talvez no fim, Franco, mesmo sendo aquele homem metódico insuportável, abraçasse a ideia de ter mais uma criança pela casa — considerando que ele ainda tratava a filha como uma bebê.

Eu só precisava fazê-la entender que suas vontades também deveriam ser ouvidas, debatidas e pensadas duas vezes antes de fazer algo que a fizesse se arrepender no futuro.

Abortar não era como jogar uma fruta boa no lixo, não havia como resgatá-lo após alguns minutos de arrependimento. Seria um peso na consciência a se carregar até o fim da vida. Conhecendo como a conhecia, seu psicológico não aguentaria por muito tempo, o fardo de ter cometido uma atrocidade dessa a deixaria completamente sem chão após o feito.

E eu não me perdoaria em perder aquele brilho das orbes azuis.

Após alguns minutos, a mãe de Harriet — a mulher que eu nomeei de Sarah por simplesmente ter o rosto de alguém que se chamaria Sarah — surgiu no corredor com a expressão de quem havia perdido o horário da transa. Minhas suspeitas foram confirmadas quando alegou que a babá iria embora caso ela não chegasse em casa em quinze minutos. Às pressas, Sarah pegou a bebê, pediu milhares de obrigados e foi embora.

No mesmo instante, a música da loja foi substituída por uma voz masculina mandando os alunos do Elite Way se reunirem ao lado do Caixa da loja.

Lupita logo apareceu, afobada, avisando que havia encontrado o vestido ideal. Naquela tarde não fizemos nada além de escolher roupas, sapatos e acessórios. Madariaga queria-nos impecáveis para a noite de festa.

Eu tentei a todos os custos ignorar Diego enquanto voltávamos pra casa. E ele também não me parecia muito afim de tentar iniciar uma conversa. Deixei essa situação em um canto escondido do meu cérebro, mais preocupada nos  pedidos de Madariaga para que nos apressássemos em ficarmos prontos.

Demorei algum tempo estirada na cama, minha cabeça latejando com toda gritaria dentro de casa, roupas pra cá, secadores pra lá, resmungos de frustração, maquiagens borradas. Quando entrei no banheiro após um bom tempo esperando Lupita e Mia liberarem o dito cujo, minha cabeça chegou a doer ao sentir a água gelada escorrer pelo meu corpo. 

Era muito alívio pra muito estresse.

Eu não sabia nem em qual problema pensar. Mia ou Diego? Eis a questão. O último estava grudado na minha mente como chiclete grudado em cabelo.

Porque diabos ele não havia se aproximado? Tudo bem que eu tinha tentado me esconder o dia inteiro, mas poxa, eu não estava invisível, uma iniciativa seria o bastante pra meu coração se confortar pela sua ausência. E se ele estava arrependido de ter me dito todas aquelas coisas? De ter me beijado na frente de todos? Oh não, e se por acaso, ele detestou nossa noite juntos e só se deu conta isso hoje?

InevitávelWhere stories live. Discover now