Capítulo VI

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Não precisei sequer abrir os olhos pra sentir a ressaca me atingir como quem é atingido por um tijolo na testa. No meu caso esse tijolo vinha com grandes escrituras em letras garrafais "Procura-se dignidade" e lembranças de uma noite constrangedora.

Uma das dúvidas que eu tinha em mente era como diabos o professor Madariaga não percebeu que estávamos terrivelmente bêbadas. Que mundo alternativo era aquele em que Mia e eu dançávamos juntas sem uma tentar quebrar a perna da outra? Será que ele não percebeu que se estivéssemos sãs, alguém já teria caído daquela mesa?

E que não seria de forma acidental?

Por Deus.

Senti o sangue se aglomerar nas minhas bochechas ao recordar do Bustamante.

Ah não.

Aquilo não deveria ter acontecido.

Eu não poderia me sentir agradecida com o Bustamante, não agora, não quando meus pensamentos o envolvendo pendiam pro lado da promiscuidade. Porra. Diego poderia ser mais magro, cabeçudo, sem dentes e que não tentasse me ajudar enquanto eu rebolava pra um bando de pervertido.

Seria tão mais fácil detesta-lo nesse momento.

Não que eu imaginasse que alguém do colégio fosse capaz de tal coisa, porém, eu não podia deixar de reconhecer que Bustamente fez a coisa certa.

Eu, levemente alcoolizada, pronta pra me entregar ao primeiro que aparecesse e tirar o Bustamante da cabeça, seria uma presa fácil, provavelmente me arrependeria no dia seguinte e infernizaria erroneamente a vida de quem quer que estivesse ao meu lado.

Diego nunca saberia disso. Principalmente pelo motivo de encher a cara e querer estar com outros caras, era pra esquecê-lo — O que seria bem difícil já que estávamos dividindo uma casa...

E não...

Não. Não. Não.

Não podíamos estar dividindo a merda de uma cama.

Abri apenas um olho encontrando uma montanha coberta dos pés a cabeça ao meu lado. Meu coração disparou e no ímpeto de desespero, eu chutei o corpo, que mal teve chance de resmungar e já estava sendo jogado ao chão sem nenhuma delicadeza.

Me encolhi no cobertor deixando só os olhos de fora, só esperando o grito de raiva do Bustamante. Mas o que surgiu na pontinha da cama foi um tufo de cabelos pretos e um par de olhos raivosos e sonolentos.

— Lupi! — Exclamei fazendo menção em ajudá-la, mas o que recebi em resposta foi a palma na mão estendida pedindo silenciosamente para não prosseguir — O que está fazendo aqui?

Ela me fuzilou.

— Estava esperando o Diego?

Meneei com a cabeça.

— É o quarto dele, não é? — Minha resposta saira como uma afirmação em meio a uma pergunta.

— É, e você não deveria está aqui.

— Nem você — Rebati.

Lupita se ergueu do chão com os lençóis enterrado em cada abertura mínima do seu corpo a fazendo quase tropeçar ao se sentar na cama.

Ela suspirou, passou as mãos nos cabelos revoltos e começou a falar, de costas pra mim.

— Diego me pediu pra dormir aqui caso acontecesse alguma coisa de madrugada com você — Ela disse com a voz preguiçosa — Você sabe, vômitos, mal estar e essas coisas que bêbados costumam ter.

InevitávelWhere stories live. Discover now