-Mas afinal... Porque é que ela mudou de escola? - perguntei. Nesse momento, o toque soou. Essa parte da história teria de ficar para o próximo intervalo.
-Conto-te depois. - disse ela levantando-se. Ambas limpamos as lágrimas, estavamos uma lástima. Olheiras, inchadas do choro, exaustas fisicamente e psicologicamente. A cabeça ainda me doía, principalmente agora, depois de chorar.
Estava a ir para a sala, em silêncio. Eu processava tudo o que ouvira. A Agnes não merecia isto. A Maryanne provavelmente também não, mas eu não a conhecia pessoalmente para o dizer com certeza.
-Estão bem, meninas? - perguntou o Niall assim que nos viu. Estava mesmo a entrar na sala. Estava uma confusão, o professor ainda não tinha chegado. Vi o Liam... e o Harry. Respirei fundo e tentei por um sorriso falso nos meus lábios.
-Sim. - afirmamos seguramente erguendo a cabeça. A minha tentativa de sorriso fora falhada.
Olhei de relance para o Harry. Assim que os seus olhos verdes atentos encontrararam os meus, preocupação encheu o seu olhar, provavelmente pela minha cara pós-choro. Desviei o olhar e baixei a cabeça, dirigindo-me para o meu lugar. Agnes ficou a falar com o Niall.
-Daisy...? - eu acabara de me sentar e quem é que se tinha levantado para vir falar comigo?
-Queres alguma coisa? - perguntei à voz rouca inconfundível de Harry.
-Estás bem? - perguntou-me ele. Ele estava levantado e eu sentada.
Se eu estava bem? Claro que não estava bem. Chegara há 4 dias a este colégio e já estava miserável. Drama e mais drama. Sentia-me encurralada. Encurralada nos meus próprios sentimentos. "Bem" não era definitivamente como eu estava. Não queria estar a ter uma conversa com a pessoa egoísta e maldosa que tinha feito tanto mal à minha amiga e a Maryanne. Esta não era a mesma pessoa com quem eu tinha tido estado a noite passada, a divertir-me e a conversar. A mesma pessoa que se preocupava comigo... Ou que pelo menos aparentava tal. Não podia ser a mesma pessoa. Mas a verdade, por muito dolorosa que fosse, é que era.
-Estou bem. - assegurei. Os olhos dele ficaram fixados em mim durante longos segundos.
-Queres conversar ou... - interrompi-o.
-Não, não quero conversar. Não quero se quer que fales comigo ou que olhes para mim. Não quero ter nada haver contigo. - disse-lhe um pouco mais alto do que o que pretendia. Senti olhares em nós. Uma ponta de culpa atingiu-me quando reparei o modo rude como lhe falara.
O professor entrou. O Harry não disse nada, saiu pela porta fora em passo rápido.
-Sr. Styles! - chamou o professor espantando por o Harry sair assim, daquela forma. Deveria ir atrás dele? O Harry fazia-se de durão mas não era. As minhas palavras afetaram-no. Mas porquê? Umas meras palavras severas de uma rapariga que ele conhecera há 4 dias não o deveriam afetar desta forma. Mas afetavam, pelos vistos.
A turma estava agora a fixar-me como se gritassem no silêncio "A culpa é tua!". Devia mesmo sair pela porta fora e ir procurar o Harry, mas as minhas pernas não se mexeram, o meu coração estava acelerado e nervosismo preencheu todo o meu corpo.
A Agnes sentou-se no seu lugar ao pé de mim. A aula passou rápido, tentei estar com o máximo e atenção possível. Chegou o intervalo.
Saímos da sala. O Liam e o Niall aproximaram-se de mim e Agnes. Estavam sérios.
-O que disseste ao Harry? - perguntou o Liam. Os seus olhos cansados eram notórios.
-Apenas... Disse-lhe o que me veio à cabeça. - respondi.
-Talvez devesses ter pensado antes de falares. - disse-me o Liam. Outch.
Olhei para ele, as palavras sérias dele estavam a magoar-me.
-Desculpa ter falado assim... Dormi pouco e estou cansado. O Harry vai ter uma recaída e isto não é bom. - explicou o Liam com preocupação notória na voz.
-Recaída? - perguntei confusa.
-Sempre que o Harry fica chateado refugia-se no álcool e quando ele bebe frustrado, não é bom. - continuou o Niall.
-Temos de o encontrar! Não quero que ele fica assim por minha causa, nunca pensei que o fosse afetar tanto... - expliquei olhando para o Liam e para o Niall. Agnes permanecia séria e quieta.
-Não tem haver com as palavras, tem haver com a pessoa que as disse. - com estas palavras o Liam começou a caminhar em direção ao exterior do colégio, tínhamos de encontrar o Harry.
As palavras do Liam estavam presas na minha cabeça. "Tem haver com a pessoa que as disse". Eu deveria mesmo signifcar algo para o Harry. Fomos os quatro à procura do Harry. O Liam e o Niall iam procurar no exterior, a Agnes nos balneários de todos os andares e eu no interior do colégio, em sítios que me parecessem prováveis ele estar.
HARRY POV
Tinha feito merda, como sempre.
A Daisy, ela... era diferente. Ela não me via como as outras raparigas e eu sabia disso. Não olhava para mim com desejo de estar comigo, mesmo que o sentisse. Não olhava para mim com medo. Ela olhava para mim como um rapaz normal, que andava no colégio com ela. Ela era tão linda. Eu via a forma como os rapazes olhavam para ela e isso deixava-me doente. Ela conversava comigo. Eu tinha-a encontrado e não a queria deixar ir sem pelo menos ter dado uma oportunidade a... nós. Desde a Skyler que não sentia isto. Esta vontade de estar sempre com alguém, de a proteger. Estes ciúmes de apenas olhares de rapazes.
Mas nada disto agora importava. Ela odiava-me. Provavelmente depois do que acontecera a noite passada, mesmo que ela não estivesse zangada comigo no momento em que descobriu sobre a Agnes e a Maryanne, depois de repensar, talvez tivesse visto o mostro que eu era. Ou então a Agnes lhe tivesse contado os pormenores. O quão horrível eu fora. Eu sei que o que eu tinha feito tinha sido horrível mas eu estava arrependido. Mas as circunstâncias transformam as pessoas.
Levei a garrafa à boca. O álcool a queimar-me a garganta era menos doloroso do que a dor e confusão que sentia dentro de mim.
Talvez fosse isso... Eu não estava destinado a encontrar alguém que amasse e que eu me amasse de volta. Não merecia. Mas eu compreendia. Quem gostaria de alguém tão psicologicamente fodido como eu? A Daisy merecia alguém bem melhor que eu. Por um lado era bom que ela agora me odiasse, eu não a merecia e tinha a certeza absoluta disso.
Sentei-me na cadeira de madeira escura. Gritei. Gritei para libertar a fúria. Mas nada me podia ajudar a libertá-la. Ela estava presa dentro de mim. Terminei a garrafa de gin e atirei contra o espelho. Ambos se partiram com o impacto.
E foi então que ouvi o ranger da porta a abrir-se. Não queria lidar com ninguém agora, só queria estar sozinho. Eu não era bom para ninguém.