DAISY POV
Cheguei ao quarto e atirei a mochila e o casaco para o chão. Atirei-me para a cama. Estava finalmente livre de escola por hoje. Devia fazer os trabalhos mas precisava mesmo de dormir.
Acordei comigo própria que dormiria até à 20h e depois acordaria para comer algo e fazer os trabalhos.
Um bater na porta acordou do meu estado de quase dormência. Levantei-me chateada.
-Oh Agnes já te disse para andares com a chav... - abri a porta. Não era a Agnes.
-Desculpa estar-te a chatear... - disse ele coçando a parte de trás do seu pescoço. Era o Harry.
-Não faz mal. Aconteceu alguma coisa? - perguntei esfregando os olhos. Devia estar um pouco despenteada e a minha cara de sono não me devia dar o melhor aspeto.
-O castigo da Diretora, começa hoje lembraste? - pergunta ele.
-Ai não, tinha-me esquecido completamente! Estou exausta... - queixei-me enquanto me espreguiçava.
-Podes dormir na sala de castigo. - sugeriu ele rindo-se.
O que valia é que no dia a seguir era sexta e depois tinha o fim-de-semana para descansar. Atei o cabelo e peguei no meu casaco e mala.
-Vamos? - perguntei enquanto fechava a porta atrás de mim.
Eu e o Harry dirigimo-nos em silêncio à sala de castigo que era no terceiro andar, na ala F.
-Bem-vinda à sala de castigo! Foi onde passei praticamente o meu primeiro ano cá no colégio. - disse ele abrindo a porta. A sala estava vazia. Era fria e escura.
Entramos e sentamo-nos lado a lado em duas secretárias diferentes. Como se tivesse lido os meus pensamentos, o Harry disse:
-O bom disto é que não tem nenhum professor para nos vigiar, apenas aquela câmarazinha ali. - explicou apontado para num dos cantos superiores da sala. Era um objeto preto minúsculo.
-É suposto fazer-mos alguma coisa? - perguntei. Nunca tinha estado de castigo na vida.
-Se tu quiseres bebé, podemos fazer alguma coisa os dois. - disse ele na brincadeira piscando-me o olho.
-És tão ew Harry - disse eu a rir-me. Ele riu-se comigo.
Decidi meter conversa. Estas cadeiras eram desconfortáveis e certamente não conseguiria adormecer.
-Porque é que no primeiro ano que vieste para cá, estavas sempre aqui metido? - perguntei com a cabeça apoiada numa das minhas mãos.
-Vim para cá no 8º ano. A escola tinha aberto a apenas 3 anos. Era tudo novo. Estava aqui contrariado, não tinha amigos nem pretendia tê-los. A minha família andava perturbada e... os meus pais andavam "chateados" comigo, por assim dizer. Acho que eles não andavam particularmente contentes com a minha presença todos os dias na nossa casa. Esta foi solução que arranjaram. Como forma de me "vingar" por eles me terem abandonado neste lugar solitário, fazia porcaria a toda a hora. - explicou ele olhando-me nos olhos. Contudo, notava alguma tristeza no seu olhar.
-Eu... lamento Harry. Desculpa ter perguntado. - desculpei-me sentindo alguma tristeza a invadir-me.
-Não faz mal Daise, tu não sabias. - disse-me ele.
-E tu? Porque é que foste metida neste sítio horrível? - perguntou-me o Harry mudando o assunto para mim.
-Não é assim tão mau... - começei por defender.
-Não teres liberdade para saíres quando queres? Teres de fazer festas às escondidas? Oh sim, isto é ótimo. - disse sarcasticamente.
Ele não total razão, mas mesmo que tivessemos uma vida 'normal' e andassemos numa escola diurna, não poderíamos estar sempre a sair e a andar em festas. Decidi guardar essa opinião para mim, não queria começar uma disputa de opiniões que não nos iria levar a lado nenhum.
-Sempre andei em colégios internos. Essa sempre foi a melhor opção dos meus tios para não terem de lidar com a sua sobrinha indesejada. Nunca gostaram de mim e não queriam ter despesas comigo. Meter-me nestes colégios com o dinheiro que os meus pais me deixaram, sempre foi a melhor opção. - estava a tentar não chorar nem emocionar-me.
O Harry meteu a sua mão sobre a minha, e massajou-a com o polegar de modo a confortar-me.
-O que... - parou-se a si próprio. Acho que se arrependeu do que ia a dizer.
-Podes dizer, Harry. - disse-lhe tentando dar-lhe um sorriso.
-O que aconteceu aos teus pais? - perguntou ele com o olhar cheio de preocupação.
-Eu tenho asma. Quando era pequena tinha montes de ataques de asma. Numa das noites, quando eu tinha um ano e alguns meses, tive um ataque horrível. A minha mãe foi buscar o xarope para me dar e apercebeu-se que este acabara. Ela e o meu pai pegaram em mim e fomos todos logo a uma farmácia. Estava um dia de tempestade horrível e... Foi tudo minha culpa. - tive de parar. Sabia que se continuasse, acabaria a chorar desalmadamente e eu não queria que o Harry me visse assim.
Ele pôs-se de joelhos junto a mim e segurou o meu queixo.
-Hey, Daise, a culpa não foi tua. Tu eras uma bebé! Não tiveste culpa nenhuma de ter um ataque de asma e de o medicamento ter acabado. - disse ele enquanto me olhava seriamente nos olhos.
Abraçei-o sem pensar. Eu precisava de o abraçar e sentir o que sentira nos balneários de manhã. O corpo dele junto ao meu. Ele abraçou-me e beijou-me a testa.
-Não vamos falar mais disto. - decidiu ele quebrando o nosso abraço.
Concordei. Ele pegou na sua cadeira e aproximou-se ainda mais da minha secretária, e de mim.
-Fala-me sobre ti. - pediu ele com um sorriso. O mais amoroso de sempre.
-Não tenho muito a falar sobre mim... - disse enquanto pensava no que poderia fazer.
-Claro que tens! Por exemplo, qual é o teu maior sonho? - perguntou-me ele parecendo interessado na conversa.
Pensei durante uns segundos. Nunca tinha refletido sobre isso.
-Talvez conseguir encontrar alguém que me faça mesmo feliz e que goste de mim como eu sou. - acabei por dizer. Ele sorriu-me olhando atentamente para a minha expressão. -E o teu?