-Ok. - acabei por dizer.
-Levas-me? - perguntou ele pouco certo se era isso que eu queria realmente dizer.
-Sim, desde que te comportes. - disse eu aproximando-me mais dele.
-Juro. - assegurou ele. O Niall olhou para mim e fez-me um olhar como quem diz "boa sorte", sorri-lhe forçadamente.
-Nós vamos limpar esta bagunçeira. Até amanhã! - disse o Niall sorrindo-me. Os olhos dele azuis eram super cativantes. Mas não se comparavam aos de Harry. O Harry em si não se comparava a ninguém. Era demasiado único e hipnotisante.
-Vamos. - disse eu dirigindo-me à porta. O Harry estava a andar meio tonto, aos zigue-zagues. Decidi aproximar-me mais dele, quando já tinhamos abandonado a sala. -Podes por o braço nos meus ombros. - A príncipio ele hesitou, mas acabou por o fazer.
Começamos a caminhar em direção ao quarto dele.
-Porquê eu? - perguntei-lhe. Mas valia fazer as perguntas agora, pois sabia que de manhã ele não se lembraria.
Ele olhou para mim e parou. Ficou a fixar o seu olhar no meu. Levou os seus dedos à minha cara e afastou um mecha de cabelo que pendia sobre o meu olho direito, colocou-a atrás da minha orelha.
-És linda. - afirmou ele. Senti as minhas bochechas a aquecerem de imediato. Desviei o olhar. Estavamos tão próximos. Sentia o hálito quente dele, era uma mistura de alcóol com morangos. O cheiro do Harry era algo tão bom. Era um cheiro doce masculino, que permanecia no ar mesmo depois de ele passar por alguém.
-Não digas disparates. - pedi eu tentando não levar o comentário dele a sério. Ele estava bêbado, não sabia o que estava a dizer.
-Mas és. És mesmo Daisy, és tão bonita. - voltou a afirmar ele.
-Harry, vamos continuar a andar... - disse eu recomeçando a caminhada, ele voltou a colocar o seu braço sobre os meus ombros.
-Posso-te perguntar uma coisa? - perguntou ele incerto.
-Claro. - respondi de imediato.
-Numa escala de 0-10, quanto ficaste a odiar-me depois de saberes o que eu fiz à Agnes e à Maryanne? - perguntou ele. Porque está ele a perguntar-me isto?
-O quê? - perguntei duvidosa. Não fazia sentido ele estar-me a perguntar isto. Porque é que ele se preocupava.
-Tu ouviste.
-Devias preocupar-te com o quanto elas te ficaram a odiar, não eu. - respondi.
-Mas eu preocupo-me com o que tu achas. - respondeu. Não íamos chegar a lado nenhum.
-Porquê?
-Merda Daisy, pára de me perguntar tantos "porquês", eu só quero saber! - pediu ele parando de novo, agora um pouco irritado.
-Não te odeio. És um estúpido, otário, insensível e um cabrão para as raparigas, mas não te consigo odiar. - respondi. Ele não se ia lembrar disto de qualquer das formas, por isso acho que me podia abrir um pouco com ele.
-Porquê? Como é que é possível não me odiares depois de saberes o que eu fiz?
-Merda Harry, pára de me perguntar tantos "porquês", é só isso que precisas de saber! - imitei-o mudando ligeiramente o discurso. Obtive um sorriso a tentar ser contido de Harry. Também lhe sorri ligeiramente.
Chegamos ao quarto dele. Ele retirou o seu braço dos meus ombros.
-Obrigada Daisy, por me teres acompanhado. - agradeceu ele, a uns centímetros de mim. Bolas, ele tinha de parar de ficar tão próximo, tornava as coisas muito mais difíceis para mim.
-Não tens de quê. Até amanhã, Harry. - ele baixou-se ligeiramente e deu-me um beijo na bocheco. Os seus lábios quentes e suaves fizeram contacto com a minha pele e foi a melhor sensação do mundo. Como é que um simples beijo na cara podia mexer comigo daquela forma? O Harry ia ser o meu fim se as coisas continuassem assim. Eu não queria ter sentimentos por ele. Ele era estúpido e parvo e ahhhh tão otário com as raparigas. Provavelmente, estaria há espera que eu fosse a sua próxima conquista, para depois me deixar na merda. Mas isso não iria acontecer. Eu não podia deixar que acontecesse.
Ele sorriu-me e entrou no quarto. Eu começei a caminhar para o meu.
*
Acordei. Eram 8 da manhã. Doía-me a cabeça e sentia-me exausta. A Agnes ainda dormia.
-Agnes... Agnes! - chamei o mais alto possível. Levei as mãos à cabeça, que dor horrível. Tinha bebido demais.
-Deixa-me dormir! - pediu ela voltando a cara para o outro lado e tapando a cabeça com o lençol.
-Temos 30 minutos para estar na sala, se não levamos falta. - disse eu fazendo um esforço para me levantar da cama. -Vou tomar um duche, vê-la se te levantas.
Dirigi-me aos balneários e tomei banho o mais rápido possível. A água ajudou a aliviar a dor de cabeça. O meu corpo estava exausto e só e pensar que tinha imensas horas de aulas pela frente, só me apetecia voltar para a cama. O que me fez ficar um pouco mais animada foi o pensamento de ver e estar com o Harry. Isso não me devia deixar motivada, mas deixava. Lembrei-me da noite passada e no facto de hoje ter de lidar com a Claire. Suspirei em frustração. Saí do duche. Ainda tinha 15 minutos. Apliquei um anti-olheiras para disfarçar as poucas horas que tinha dormido. Fiz uma trança rápida e voltei para o quarto. A Agnes ainda estava na cama. Fui até à cama dela, destapei-a e abri a janela até atrás, de modo a entrar mais claridade.
-Tens de te levantar porra, tens 10 minutos para te vestires, maquilhares e comeres! - disse mais alto do que devia porque tanto eu como ela fizemos uma careta de dor. Ressaca, primeira e última.
Ela acabou por se levantar e dirigiu-se calada até aos balneários. Estavamos ambos um caco. Cansadas, com olheiras, com dores de cabeça e apenas a querer um café e dormir.
Vesti umas calças de ganga justas e um camisa branca com uma camisola de lã grossa bordeaux por cima. Estava imenso frio. Tinha precisamente 4 minutos para comer algo. Fui a andar em passo rápido até ao bar. Pedi um café e uma fatia de pão torrada. Não tinha tempo para mais, mas tinha de comer algo. Não ia voltar acontecer o episódio do desmaio. Comi o mais rápido que pude. Não vi ninguém que conhecesse no bar, que estava praticamente vazio. Já deviam estar todos na sala de aula. Corri para a sala cinquenta e quatro assim que terminei. Suspirei de alívio. Estavam todos a acabar de entrar. A Agnes ainda não estava lá.
Sentei-me no nosso lugar do costume das aulas de Filosofia. Esperava que ela não demorasse muito.
-Bom dia. - começou por dizer o professor. -A noite passada estive a estudar o perfil de cada aluno para escolher os pares do trabalho final que já vos falei para esta disciplina. Já sabem o peso e importância do trabalho, por isso, independentemente de gostarem ou não do vosso par, quero que se esforçem. Decidi colocar em cada dupla um aluno cuja média fosse mais alta e outro aluno cuja média fosse mais baixa, a Filosofia claro.
Eu ia ser claramente o elemento fraco na minha dupla. Filosofia era a minha pior disciplina. Era o que me estragava a minha média de 18.6.
O professor começou a dizer as duplas. Esperava ficar para o final, mas a dupla em que eu estava incluída, era a terceira a ser anunciada.
-Daisy Lancaster e... - o professor foi interrompido pela Agnes, que acabara de bater à porta permitindo licença para entrar.