Capítulo 11: Parada inesperada.

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Já na estrada eu começo a ler os projetos do vorpéu, é na verdade bem simples e pratico! É basicamente uma câmara com o ferrão da corda dentro, que quando  é disparado pelo gatilho uma capsula de ar comprimido se abre e impulsiona o ferrão, a corda fica amarrada num carretel cilíndrico e você precisa usar uma pequena manivela pra retrair a corda depois que disparada. Um compressor de ar é bem caro, agora faz sentido a necessidade de ser sustentado com os recursos do reino, quem sabe quantos vórpeis eles tem por lá.

Uma runa aérea configurada conseguiria fazer o trabalho do cilindro de ar, e não precisaria recarregar, só alimentar com extrato; e algumas molas fariam o trabalho da manivela. Eu acho que consigo montar um protótipo agora, só preciso conferir se tenho giz angelical e alguma chapa de minério-de-sangue pra fazer a estrutura!

Eu largo as rédeas e deixo os cavalos guiando a carroça por conta, eu abro a passagem para o compartimento secreto, onde escondo minhas armas mágicas! Uma lança, duas adagas, um machado de duas mãos e uma espada média, todas embrulhadas com um tecido de seda branco e forradas com lã de carneiro, eu não vou falar quais são as runas delas por motivos de segurança, mas de um jeito ou de outro eu irei ter de falar alguma hora, nunca se sabe quando eu vou perder a memória, e perder tudo.

  No canto do compartimento tem uma caixa com uma tranca numérica, onde eu guardo o minério-de-sangue que sobra e o gizes para fazer as runas.

Assim como eu esperava, tinha um pouco de giz angelical e duas chapas pequenas, Acho que isso deve ser o suficiente pra fazer uma tentativa.

 Inicialmente eu iria fazer um modelo baseado no do Victor, mas seria muito grande e pesado pra mim, então acabei optando por fazer um modelo próprio. Eu decidi usar um carretel circular ao invés de um cilíndrico para fazer um mecanismo menor; materiais que queimam não se dão bem com runas, então algum cabo seria mais adequado; como vou utilizar runas, não preciso de gatilho; pensando bem, uma mola não seria eficiente, talvez seja  melhor eu investir um pouco mais de dinheiro e desenvolver algum motor pra puxar a corda; pensando bem, acho melhor não fazer nada por enquanto com o vorpéu e quando eu chegar em criva passar em alguma oficina pra comprar os materiais adequados!

Eu esboço o projeto numa folha e guardo junto da caixa dentro do compartimento secreto.

Mas, Agora voltando pra viagem.

 O céu esta fechando cada vez pior e à medida que escurece vai esfriando mais, mas ainda acho que vai dar pra varar a noite. Não tem tantos animais por aqui, apenas um ou outro veado curioso que aparece na margem da estrada! A maioria das viagens entre cidades do interior é assim, a quantidade de pessoas só aumenta quando muito próximo à Capital.

Falando nisso, faz tempo que não vou pra Denéios, a capital. Imagino se tenha mudado muito desde meu ultimo trabalho lá.

Não tenho muito que escrever por agora, e eu estou ficando um pouco cansado, só vou escrever se algo relevante acontecer, porque eu quero ainda aguentar duas noites acordado para chegar lá.

Dia 27 de 400, ano 7 da era V.V,

 Manhã.

Não aconteceu nada durante a noite, não ouve lobos, ladrões, pessoas, não houve nada! Só uma ou outra coruja que pousou no alto da carroça.

Agora entramos numa região de planícies, e o tempo ainda esta piorando cada vez mais, acho que hoje chove, e muito! Talvez eu precise  buscar algum abrigo pra mim e pros cavalos. Eu já acabei com o meu estoque de carne seca, eu até podia caçar alguma coisa, mas eu não ia ter tempo de limpar o cadáver e o cheiro iria atrair predadores, em outras palavras, incômodo desnecessário! Possivelmente eu vou ter que procurar algumas frutas ou cogumelos.

Uma coisa que tem me deixado curioso é se essas terras são de algum nobre, porque são boas e bonitas, uma cidadela podia se estabelecer por aqui! Mas pensando bem, essas terras devem pertencer à guilda do gavião-de-madeira.

Os ventos estão ficando muito fortes e quentes, isso é sinal de tempestade, das sérias! Acho bom já me preparar para fazer algum abrigo para os cavalos. Galhos, troncos e folhas juntos da minha lona reserva devem dar uma boa cobertura para eles!

Durante o resto da manhã e o inicio da tarde eu coletei os matérias que precisava que estavam perto das estradas e estoquei do lado da carroça. Eu aproveitei para dar água de um córrego  aos cavalos e pegar alguns frutos de arbustos e arvores solitárias para comer durante o café e a noite.

O céu estava tão feio, que nem mesmo a luz do sol ousava passar por lá, era cinco horas e mal dava para enxergar a estrada de tão escuro que estava!

Já me preparando para descer da carroça e começar a montar um abrigo nas pressas, eu percebo um antigo celeiro abandonado por trás dos morros, no meio do nada. Podia ser muito bem o esconderijo de ladrões, mas na situação em que eu estava, preferia tomar o lugar à força do que ficar na chuva e fazer meus cavalos pegarem alguma doença.

Era um celeiro de dois andares com um portão grande principal, era feito de uma madeira cinza desgastada e estava caindo aos pedaços. Ele ficava num pequeno planalto atrás de alguns morros que tampavam sua vista da estrada principal, não tinha rastros de rodas ou cascos na trilha que levava até a entrada, então imagino que pelo menos esteja vazio no momento. Eu deixei a carroça em baixo de uma árvore  próxima a entrada e fui investigar.

Com algum esforço eu consegui abrir o portão principal; dentro o chão era de terra batida e tinha um pouco de mato seco espalhado, o segundo andar tinha algumas caixas e barris, mas fora isso não tinha nada demais. Eu acho que esse lugar vai servir!

Eu voltei e conduzi a carroça para dentro; eu a deixe em um dos cantos do celeiro e soltei os cavalos, assim o centro estaria livre para montar uma fogueira. Eu fui fechar o portão, mas um barulho de cima de uma árvore me chamou a atenção, era o abutre!

Ele estava me encarando, mas não com o olhar de sempre, parecia que ele estava mais.... inofensivo! Vendo a expressão dele, não podia deixar de convida-lo:
- Ei, quer entrar também? – Pergunto para ele, abrindo um pouco mais o portão.

Ele voa baixo e entra, pousando em cima da minha carroça, no lugar  onde eu irei construir o futuro poleiro.

Eu dou um sorrisinho de canto e termino de  fechar o portão. Foi bem na hora, depois de alguns minutos começou a chover, e a cada minuto ficava mais forte.

Eu começo a montar uma fogueira com os galhos e troncos que ia usar para fazer o abrigo, os cavalos se aproximaram e deitaram perto, esperando para poderem se esquentar; até o abutre desceu do puleiro e se juntou a nós! Com o lampião que guardo dentro da carroça, eu acendi um galho e espalhei o fogo. Ele cresceu rápido e bom, foi o suficiente para nos aquecer a noite inteira.

 Nós ficamos o resto da noite juntos sentados ao redor da fogueira, em silêncio. Eu escrevi no meu diário  na maior parte do tempo, escrevi tudo o que você leu desde que entramos aqui.

 Mas agora eu não sei mais o que fazer, não estou com vontade de dormir nem nada; eu só queria ficar aqui, , escrevendo pra você que esta lendo, seja eu ou outra pessoa! Esse é um dos momentos em que eu fico entediado, e só começo a escrever o que me vem na cabeça!

Como que o Telmar me convenceu a vir aqui? Eu estava tão bem indo para o leste, mas agora vou ter que trabalhar com ele e uma equipe! E o pior, eu não conheço ninguém da equipe, eles podem ser incompetentes que o Telmar só chamou para poder conseguir participar do evento!

Telmar.... Ele esta se forçando de mais, espero que isso não acabe ruim para ele.... mas na verdade, foi ele que escolheu isso, então se acabar.... é culpa dele!

Eu estou com vontade de dar um soco na cara dele, e eu acho que vou fazer mesmo!

Eu sou sortudo.... eu não preciso me preocupar com nada disso, tudo vai acabar no final do ano que vem mesmo!

O Registro de Ivan Whitaker. N:20Onde histórias criam vida. Descubra agora