Capítulo 2: A isca.

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Campos verdes que dançam com o vento, montanhas que compões um plano de fundo já azulado pela distancia, um céu azul profundo com algumas nuvens decorativas e lagos cristalinos compõem a paisagem da região próxima de Nasha. É uma cidade com um forte atrativo turístico, muitos casais vêm para cá nas suas luas-de-mel ou coisa parecida, então também é conhecida como "A cidade do novo amor".

O dia passou muito rápido, não ouve nenhum evento especifico hoje que valha a pena escrever aqui até o momento.

O sol já caminha para o seu crepúsculo e eu começo a avistar Nasha. Os guardas já se posicionavam na entrada da cidade para o turno noturno. Imagino que com toda a migração para o leste, a cidade tenha estado um pouco mais vazia que o normal.

Ao me aproximar mais um pouco vejo um jovem rapaz jogado no meio da estrada, envolto numa poça de sangue. Ele esta chorando alto e desesperado, ao me ver ele começa a tentar gesticular para que me aproxime.

Isso é ridículo! Um truque barato que assaltantes e assassinos usam para atacar viajantes inexperientes, eles deixam uma "isca" na estrada para fazer com que o alvo desça da carroça e fique exposto; ou pelo menos impedir a carroça de passar facilmente.

Eu paro a carroça à uns 4 metros da "isca". Enquanto eu desço eu pego um coldre com uma adaga velha que deixo na sela do meu cavalo; é um coldre bem simples que eu mesmo fiz, só precisa encaixar no cinto e esta pronto. Aparentemente ele não me viu fazendo isso, porque continuou chorando e pedindo para que eu chegue mais próximo!

Quando chego próximo o suficiente consigo identificar o que seria a possível causa do desespero dele, a perna dele estava enfaixada e encharcada de sangue. Possivelmente são amadores que não conseguiram fazer um corte falso decente, e tiveram que enfaixar e jogar sangue de algum animal por cima, aposto que tem um cadáver de porco ou algo do gênero atrás de algum arbusto.

Ele começa a falar comigo:

- Você! Me ajude, rápido!

Eu permaneço em silencio, encarando ele com desgosto.

- e-ei, você não meu ouviu? Preciso de ajuda!

Eu me abaixo e falo com ele, olhando para a poça de sangue:

- hum, é um corte falso bem ruim, mas não se preocupe, o próximo vai ser de verdade!- a expressão dele deixa de ser de dor, e se torna de confusão.

Assim que termino de falar, outro ladrão salta de uma arvore logo atrás de mim com uma adaga em mãos. Eu consigo ver tudo pelo reflexo da poça de sangue no chão.

Se ele tivesse perdido uma quantidade de sangue tão grande a ponto de formar um reflexo nítido, ele já estaria morto!

Ele saltou da arvore de uma maneira desengonçada, segurando a adaga com apenas uma mão e á cima da cabeça. É um amador que nunca lutou um combate real na vida! Ele expos completamente a barriga e os órgão vitais, facilitou muito o trabalho!

Ainda agachado eu desembainho a adaga e me jogo para trás, saindo da mira dele. A adaga do assassino passa por cima da minha cabeça e eu, ainda de costas, acerto a adaga no estomago dele.

Ele trava e permanece com uma expressão assustada no rosto, imagino que seja devido ao choque de ter levado pela primeira vez um ferimento desse nível!

Mas eu não vou deixar por apenas isso!

Eu giro a adaga dentro dele e corto da barriga até o peito dele. Foi fácil de mais, acho que ele não estava usando nenhum tipo de armadura!

Ele cai morto de costas no chão. O outro permanece imóvel, mas agora estava realmente chorando e desesperado. Eu me viro para ele e caminho na sua direção, ele começa a se desesperar mais ainda e grita:

- s-s-saia de perto de mim! S-SOCORR...

Antes que ele gritasse mais e chamasse a atenção de mais alguém, dou um chute na sua boca e jogo ele para a margem da estrada. Uma facada rápida e limpa no pescoço foi o suficiente.

O silencio volta a reinar no local, sendo interrompido uma ou outra vez pelo vento cortando as árvores.

- hmm, agora não tem muito mais o que fazer , só me resta esperar ele aparec... – Um barulho muito familiar me interrompe, um barulho de asas.

Quando olho novamente para minha carroça, vejo uma figura misteriosa com a qual convivo a muitos anos! Um abutre real que tem me seguido desde meus 16 anos, se alimentando das pilhas de cadáveres que tenho deixa ao decorrer dos anos.

Eu sei que falando isso pareço uma daquelas crianças que caçaram o primeiro almoço e já acham que são os senhores da morte, Mas a realidade é outra!

Os materiais que utilizo para fazer armas magicas são raros e caros! Eu não poderia fazer uma espada de ferro comum e colocar, por exemplo, uma runa ígnea, ela iria derreter na hora!

Encantadores de nível baixo até conseguiriam fazer isso, mas não é o meu caso!

O material mais adequado pra mim seria o minério de sangue. Um mineral vermelho que é um ótimo condutor de calor e eletricidade. Mas enfim, esses materiais chegam a custar soberanos reais, as moedas mais valiosas do reino, e para consegui-las faço inúmeros trabalhos de alto risco, ( são os que pagam mais!) e nesses trabalhos, acabo tendo que matar ladrões e assassinos que me abordam na estrada.

Voltando ao abutre. Ele me encara, desviando o olhar poucas vezes para os dois cadáveres. Nisso eu converso com ele:

- Chegou na hora, só espere eu checar se eles têm algo de interessante!

Eu procuro alguma coisa útil ou valiosa nos bolsos e casacos dos dois cadáveres, não encontro nada, só algumas moedas de cobre e uma adaga mal cuidada.

Eu começo a me aproximar da minha carroça e o abutre de cima da lona roxa continua a me encarar. Eu coloco meu coldre na sela do cavalo e a adaga que eu peguei coloco do lado do banco que sento quando estou conduzindo; eu pretendo tentar limpar ela!

Eu arrasto os corpos para dentro do mato e monto na carroça.

-Bom, eles são seus, pode se divertir!- digo para o abutre.

Ele sai voando de cima de mim e pousa em cima dos corpos, repentinamente mais e mais abutres aparecem de dentro da floresta e se juntam para comer. Eu já sei a muito tempo que ele não é normal, ele não tem medo de mim e deixa até eu encostar nele, ele entende o que eu converso com ele e o mais estranho, ele não tem cheiro de nada! Nem de carniça, nem mesmo de uma ave de rapina normal, ele não cheira a nada.

-hmpt, eu acho que vou até construir um poleiro na carroça pra você!

Eu retomo o rumo da minha viagem à Nasha.

O Registro de Ivan Whitaker. N:20Onde histórias criam vida. Descubra agora