Desencontro Inesperado

Capítulo 23

NARRAÇÃO: MANUELA

Como não tinha mais informações comecei a seguir a Kate, era o único jeito de descobrir algo, eu já estava muito preocupada com todos aqueles hematomas e o medo que emanava dela em todas as aulas.

Infelizmente só descobri que ela fora campeã de xadrez pela escola três anos consecutivos, que ela adorava corujas por isso cuidava de uma na escola, suas plantas preferidas eram tulipas vermelhas que representam o amor perfeito e "inatingível por meros mortais" como ela dizia.

Mas nada que me levasse à alguma pista ou prova... Estávamos no quarto, cada uma em sua cama quando a Kate se levantou e sentou no pé da minha cama.

- Manu... Posso te contar uma coisa? Se não for se importar, eu preciso conversar um pouco com alguém em quem eu confio - eu faço que sim e me ponho ao seu lado.

- Claro, eu sou sua amiga e pode contar comigo sempre que precisar - talvez ela contasse o que aconteceu aquele dia.

- É que ultimamente tem um cara me perseguindo... um ex que não aceita nosso término - ela falou sem mover os olhos fixos no chão.

- Você deveria mandá-lo embora, parar de ir atrás de você.

- Esse é o problema, eu já pedi, mas ele não entende, quando eu sai da minha cidade e vim para esse lugar pensei que ele não me acharia, mas me seguiu até aqui.

- Caraca, você tem que denuncia-lo, não sabe do que ele é capaz de fazer, mas se veio até aqui atrás de você... Coisa boa não é! - Eu tento acalma-la da forma que é possível - Sem querer ser intrometida, mas já sendo, por que vocês terminaram? - Arrisco a pergunta, pode vir a ser útil.

- É uma longa história, conheci ele há mais ou menos dois anos, e foi paixão à primeira vista, eu o atropelei com a minha bicicleta e como um pedido de desculpas, eu cuidei dele e dei meu número caso precisasse. Um tempo depois nós combinamos de sair e foi mágico, não havia nada de errado com ele, sempre ajudando os outros, cuidando de animais, trabalhava com ONGs era um garoto perfeito, alguns anos mais velho do que eu - ela fez uma pausa como se tudo aquilo estivesse passando como um filme - Mas aí ele começou a me barrar, não podia sair com minhas amigas e nem ter amigos, ele dizia que estava preocupado comigo, que eu não precisava daquelas pessoas que só queriam meu mal. Eu deixei ele me controlar- vejo uma lágrima escorrer e a abraço - Quando eu fui à uma festa da escola ele surtou e acabou me batendo, eu entrei em choque, estava determinada a acabar com aquele relacionamento, mas aí ele veio com o mesmo papo de que nunca mais faria aquilo e que era medo de me perder. Eu perdoei. Até que ele bateu no meu amigo porque achou que estavamos nos paquerando. Foi aí que eu coloquei um ponto final, mas ele sempre vinha atrás de mim pedindo perdão. Cansada disso eu vim pra cá terminar os estudos longe daquele louco, e mesmo sem nenhuma informação ele veio pra cá e está atrás de mim de novo... - ela desaba em lágrimas e começa a soluçar, eu a puxo para mais perto - eu estou com tanto medo - ela me abraça.

- Por que você não denuncia ele pra polícia, ele tem que ser preso, isso é abuso, e quiser eu te ajudo.

- Não - ela diz repentinamente - melhor não, eu tenho medo do que ele pode fazer comigo e com a minha família, ele já me ameaçou se eu contar qualquer coisa ele me mata e depois meus pais e irmãos, não posso arriscar... - ela olha no fundo dos meus olhos - tem que prometer que não vai falar nada disso pra ninguém, eu preciso resolver sozinha, é sério, só te peço isso, se você é minha amiga confie em mim.

- Eu não posso fazer isso... Não posso te deixar sozinha... Ele pode te matar qualquer hora, foi ele que fez isso em você não foi? - ela assentiu.

- Por favor Manu, eu te contei isso porque confio em você e não aguentava mais guardar, mas eu vou resolver isso, pode ter certeza, apenas confie! - acho que ela falava mais pra si mesma do que para mim.

- Tá bom, faltam dois meses pro ano acabar, você tem um mês antes que as férias comecem para resolver isso, se não eu vou inteferir enquanto posso, com você longe é impossível que eu faça qualquer coisa. Está combinado? - eu estendo o mindinho como forma de juramento.

- ... Tá bom, pode ser - ela enlaça seu dedo mindinho no meu e eu abraço ela.

- Relaxa, eu to aqui pra te proteger.