Capítulo 6: Eu presto atenção em tudo que você diz, Matthew.

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O clima na rua estava calmo. Eu não fazia ideia de onde estávamos e onde iriamos parar. Scott parou seu carro em frente uma cafeteria, tinha pouca gente e era um lugar lindo onde duas pessoas poderiam marcar um encontro. As portas e as janelas eram todas de vidro. Haviam mesas e cadeiras pela calçada e casais sentados se divertindo, pareciam apaixonados. Estranhei o fato de Scott me trazer para um lugar "meio que romântico", mas não dei muita importância. Uma placa escrita Coffe Express Tasty¹ feita a neon caramelado estava grudada em uma das janelas. Descemos do carro e caminhando para dentro da cafeteria. A cafeteria era toda feita a madeira, igual a uma cabana. Tinha área de segundo andar e vários quadros antigos presos na parede, era mais parecidos como o início da construção da cafeteria e os fundadores. Scott apoiou sua mão de surpresa sobre minha cintura e eu me virei assustado enquanto ele sorria discretamente.
- Procure uma mesa para a gente, eu vou pegar nosso café. Você vai querer de quê? - perguntou.
- Ah... Eu vou querer apenas um café com leite, puro, por favor. - respondo.
- Tudo bem.
Scott tira a mão delicada da minha cintura e caminha em direção a recepção. Havia um moça morena de rabo de cavalo, com seu uniforme e um avental verde na cintura. Sorria toda alegre como se aquele fosse o melhor trabalho da vida dela. Passo meus olhos por todo o salão atrás de uma mesa, encontro uma ao canto da parede de frente a janela de vidro, onde podia ver o movimento por toda a rua. Caminho em direção a mesa e sento na cadeira a espera de Scott. Ele vem trazendo dois copos de café nas mãos. Senta de frente para mim e me entrega meu copo.
- Então Sr. Matthew, me conte um pouco sobre você. Eu já contei sobre a minha vida, preciso saber um pouco da sua.
Scott olha me encarando, apoia os cotovelos sobre a mesa e coloca o café ao seu lado. Parecia está realmente interessado em saber um pouco sobre a minha vida, eu pude perceber isso em seu olhar, eles brilhavam na mesma sintonia que seu sorriso exalava para mim. Isso de alguma forma me deixo mais confortável, seguro, para que eu pudesse dizer o que se passava em minha vida para ele.
- Tudo bem. Meu nome é Matthew Russell, tenho 20 anos, estou no primeiro ano de Jornalismo e buscando algum dia ganhar a vida com isso. Deixei de morar com meus pais com 16 anos quando vim morar com minha amiga Vivien. Me dou super bem com ela, ela é pra mim como uma irmã, me protege de qualquer coisa, é ótimo ter a companhia dela. Moramos em um apartamento no edifício The Stardnish², na rua Central e na verdade o apartamento é da Vivien, eu sou apenas um intruso companheiro dela. Bom, sou filho único e ainda sustentado pelos meus pais, eles que pagam minha faculdade e é por eles que eu dou a vida. Mas não sei mais o que está acontecendo na minha vida ultimamente, as vezes eu me arrisco demais e acabo sendo subestimado, é como se eu tivesse caindo em um buraco negro e não tivesse nada em que eu pudesse segurar, me apoiar, apenas cair. Eu sou fraco, não consigo lidar com influências e acabo sendo prejudicado por todas escolhas que faço, está me entendendo? Eu devo ser uma pessoa horrível, para tudo e todos.
- Ei, não fala assim, você deve ser uma pessoa incrível. E sei que no fundo todas as suas escolhas no fim terão um ponto positivo. Acredite em mim, você só terá a ganhar, eu sei disso. - aconselha.
Scott leva sua mão até a minha e começa a acariciar. Sua mão estava quente e eram macias. Suspiro e consigo notar que as coisas já não estavam mais normais como deveriam ser. Ele queria algo mais e eu não podia entregar. Retiro minha mão da mesa com calma para que ele não ficasse constrangido. Scott nota que eu estava um pouco incomodado com aquilo e se inclina para trás, suspira e volta a tomar seu café.
- Muito obrigado pelo conselho. Bom, você sempre vem aqui? - pergunto tentando mudar um pouco o assunto.
Scott sorrir e olha ao redor de toda a cafeteria.
- Sim, sim. Aqui é o lugar que me trás sossego, venho com meu pai desde que tinha 26 anos, conversávamos sobre o futuro, o que eu poderia ganhar me tornando o grande "chef" das empresas do meu pai. Sempre que posso venho para cá, é calmo, tranquilo e é o melhor lugar para se trazer pessoas que você acha interessante.
Scott volta novamente a me olhar, dessa vez com um olhar intimidador. Tomo um pouco do meu café para disfarçar e solto um sorriso como resposta.
- Sim, esse lugar realmente trás uma paz e é sempre bom trazer pessoas que gostamos para lugares que gostamos. A gente se conheceu a pouco menos de uma hora, eu não seria a pessoa certa para se trazer aqui não acha? - pergunto.
- Pelo contrário, se conhecemos a pouco tempo mas isso não deixa de mostrar que eu estou afim de te conhecer melhor e querer que você me conheça também.
- Olhando pelo lado bom é ótimo saber que você me torna uma pessoa atraente e confiante na sua vida. Estou feliz de está aqui, sentados, conversando, tomando um café e... com você.
Mordo meu lábio de nervoso e o encaro de cabeça baixa. Scott também me encarava mas não correspondia a nada, apenas me olhava sem reação e paralisado. Suspiro calmamente e apoio meu corpo contra a mesa me inclino para frente esperando uma resposta dele, mas não saia nada. Sua língua tocou-se no seu lábio inferior e deslizou rapidamente fazendo seu lábio ficar todo molhado. O que ele está fazendo? Ele está me deixando sem graça. Droga, porque eu fui falar aquilo? Como você é idiota Matthew, muito idiota. Scott jogou seu corpo para cima da mesa em apenas um segundo e aproximou seu rosto do meu. Suas mãos seguraram os meus braços sobre a mesa e seu nariz tocou o meu. Meu corpo parou, não conseguir sentir minhas pernas e minhas mãos estavam suando frias. Fechei meus olhos rapidamente e apenas respirei suavemente. Sua barba por fazer tocou-se meu queixo e pude sentir a sua respiração pulsar contra meu rosto. Seus lábios molhados tocaram-se aos meus, estavam frios e com gosto de café caramelizado. Me afastei abrindo meus olhos para o olhar. Scott se afastou no mesmo momento e abriu o olhos enquanto olhava para todos os lados menos para mim.
- Me desculpe. - sussurrou.
- Hum... Tudo bem... Acho que já tá na minha hora, está muito tarde e eu preciso acordar cedo amanhã.
- É... Acho que está tarde sim. Venha, eu te levo para casa. Deixa eu só pagar a conta.
- Tudo bem.
Nos levantamos da mesa. Scott vai até a recepção e eu caminho em direção a porta, ele volta e saímos da cafeteria. Scott passa seu braço em volta do meu corpo e posiciona sua mão sobre minha cintura. Aquilo estava me incomodando, mas não poderia dizer para ele, o clima já estava estranho e eu não queria piorar as coisas. Chegamos ao carro, entro depressa e ele dar a volta para o outro lado. Ele liga o carro e tudo que consigo fazer é evitar olhar para ele.
- Poderia ligar o som por favor? - pergunto tentando mudar o clima entre nós.
- Sim, posso.
Scott liga o som, estava tocando Renegades de X Ambassadors. Dou um sorriso de agradecimento. O.M.G É A MINHA MÚSICA FAVORITA!
- Você gosta de X Ambassadors? - falo animado.
Scott sai com o carro pela rua e olha para frente prestativo, mas ainda me encarava por uns segundos.
- Sim, os caras são sinistros. - fala empolgado.
- Sim, eles são maravilhosos e essa é minha música favorita.
- Sério? Minha música favorita é a Unsteady, super me fascina essa música. Já foi em algum show deles?
- Oh, não. Só vejo por televisão alguma coisa assim, nunca fui de sair muito, principalmente para essas festas badaladas. A Vivien que é mais disso, eu sou mais caseiro de ficar em casa, entende?
- Ah sim. Bom, podemos ir algum dia juntos. Tenho um amigo que trabalha com esses negócios de organizações de festas e ele sempre consegue arrumar ingressos pra mim. Se você quiser eu posso te levar algum dia.
- Eu adoraria.
A conversa finalmente estava saindo como eu queria que tivesse sido desde do começo. Estava empolgado, nunca tinha me sentido assim, nem mesmo com a Vivien quando saímos juntos. Eu realmente tinha encontrado alguém que me entendia e que gostava das mesmas coisas que eu e isso é maravilhoso.
- Enfim, chegamos! - Scott fala enquanto estaciona o carro.
Olho para fora pela janela do carro, estávamos parados na frente do The Stardnish. O encaro meio confuso e dou um sorriso pra disfarçar.
- Como você sabe que eu moro aqui? - pergunto confuso.
- Eu presto atenção em tudo que você diz, Matthew.
Lembro que havia o contado onde morava, mas não imaginaria que ele poderia saber onde ficava, ele deve realmente conhecer a cidade toda.
- Ah... Interessante...
Tiro o cinto de segurança e apoio minha mão na destranca da porta. Scott me puxa pelo meu braço e eu me viro rapidamente para olha-lo.
- Ei, espera aí. Está com tanta pressa de fugir de mim?
Não sabia o que falar. O nervosismo tinha tomado conta de mim por completo naquele mesmo instante.
- N-N-N-Não... Hum... Só... Só acho que já está bastante tarde, só isso.
Tento falar, mas só conseguia gaguejar.
- Foi ótimo passar a noite com você. Eu me divertir bastante.
- Eu também me divertir muito, obrigado pela noite.
- Não tem porque agradecer.
Scott aproxima seu corpo ao meu. Inclina sua cabeça para frente e aproxima seu rosto do meu. Eu sentia que ele iria fazer alguma coisa, mas eu não conseguia me mexer, estava duro que nem pedra. Sinto seus lábios tocarem minha bochecha. Seus lábios estavam quentes, dessa vez secos. Pressionou sua boca contra minha bochecha e pude sentir seu queixo roçar a minha pele. Afastou-se calmamente e abaixou sua cabeça.
- Boa noite, Matthew. - sussurrou.
- Boa noite, Scott. - falo baixo.
Abro a porta do carro e saio. Caminho até a entrada do edifício. Laura a recepcionista se encontrava sentada no sofá na sala de lazer. Aceno cumprimentando-a e caminho até a o elevador. O apartamento estava silencioso e escuro. Talvez a Vivien não tivesse chegado ainda ou estava dormindo já. Acendo a luz da sala. Vivien estava dormindo no sofá, seus sapatos estavam espalhados pelo tapete da sala, estava com a mesma roupa que foi pra festa e o cabelo todo bagunçado. Ah Vivien! Quando você vai aprender a se comportar como gente decente? Caminho até meu quarto. Pego um cobertor de seda azul que estava guardado no meu guarda-roupa e volto para sala. Enrolo Vivien e me abaixo para dar um beijo em sua testa.
- Boa noite, Vivien. - sussurro.
Volto para meu quarto. Tiro minhas roupas e enrolo a toalha sobre minha cintura. Esquento a água do chuveiro e logo entro no banho. Um flashback de tudo que está acontecendo passa pela minha cabeça, minha vida rodou em um só minuto e estava de saco cheio de pensar na droga do contrato. Amanhã será o dia que conheceria o verdadeiro eu, o meu lado ruim, e conheceria o homem que tentaria dominar esse meu lado. Isso seria bom ou ruim? Eu não sei, mas como Scott disse, eu precisaria acreditar que tudo que eu faço sempre terá um ponto positivo e isso com certeza terá vários. Termino meu banho e caminho para o meu quarto. Pego uma cueca boxer preta e minha calça moletom e visto-as. Me deito na cama e me enrolo e fecho meus olhos até cair no sono.

O dia amanheceu. Raios de luzes saindo a beira da janela contra a cortina pousaram sobre minha cama. Um barulho devastador invadiu meu quarto. Era da porta e com umas pegadas fortemente estrondosas vieram em minha direção. Estava correndo e efetivamente se jogou contra minha cama me fazendo pular para cima. Me viro assustado para visualizar quem estava em meu quarto. Era Vivien, estava empolgada, com um sorriso de orelha á orelha e apertada os dedos uns nos outros como se quisesse quebra-los, ainda estava com a mesma roupa da noite passada, parecia que ao acordar veio direto para o meu quarto.
- Como foi? - pergunta.
- Como foi o que? - respondo meio sonolento.
- A saída? O carinha? Anda quero saber de tudo.
- Ah... Hum... Bom, a gente saiu da festa, fomos a uma cafeteria e conversamos, depois ele me trouxe pra casa, encontrei você jogada no sofá, te cobri e vim dormir.
- Só isso? Apenas isso? E o beijo? A pegada? O finalmente? - pergunta indignada.
- Calma aí querida. Eu não vou sair beijando um homem que conheci nem tem vinte quatro horas. Muito menos transar com ele. Se bem que quase aconteceu um beijo.
- O que?! - Vivien se levanta da cama sorrindo e me encara diante de mim. - Não acredito que você não deixou aquele homem gostoso beijar seus lábios.
- Não, não deixei e não deixaria até que eu conhecesse ele exatamente bem. Agora se me der licença eu preciso me trocar, tenho umas coisas para fazer.
- O café está na mesa, babaca. Não demore. Vou tomar um banho.
- Vai mesmo que o cheiro não está tão agradável assim.
Vivien agarra o travesseiro da cama. Joga no meu rosto enquanto aponta o dedo do meio em minha direção.
- Babaca - sussurra.
- Também te amo. - grito enquanto Vivien vai saindo do quarto.

Hoje era o grande dia, eu iria conhecer meu primeiro cliente. Estava um pouco nervoso. Quem diria Srto. Russell o garoto que nunca fazia nada errado, o "certinho", está se submetendo a servir homens de porte grande, luxuoso, a base de uma boa vida. Reage Matthew, agora não é hora de andar para trás, pense na sua vida daqui em diante, é o que você realmente precisará pra ser feliz. Faço minha rotina de sempre, escovo meus dentes, tomo banho e me arrumo. Vestir meu suéter listrado de cinza com preto, minha calça de sarja azul escura e meu sapatênis preto e fui até a cozinha. Vivien me olhar com admiração e surpresa enquanto levava sua xícara de café até a pia.
- Fiquei até sem palavras com essa arrumação toda.
- Não vou tomar café hoje tá? Preciso ir o mais rápido possível e volto o mais rápido possível. Tudo bem?
- Matt, se eu te conheço bem você tá aprontando alguma coisa e antes você costumava me contar tudo.
Suspiro e ajeito a borda do meu suéter. Vivien está com suas mãos apoiadas na cadeira e em encarava com desgosto.
- Sim, costumava te contar tudo, mas perdi o interesse desde que você começou a sair com o Casey e não me contou.
- Ah, então é assim? Pagar na mesma moeda? Tem alguma coisa mais que queira jogar na minha cara? Olha Matt...
Interrompo-a.
- Casey? Sério Vivien? Você costumava ser mais gostosa e pegar homens mais atraente. O Casey não é boa pessoa e eu não me sinto bem sabendo que você está andando com esse maluco por aí. Ele agrediu a ex namorada dele Vivien...
Ela me interrompe.
- Ele mudou certo? Ele me disso isso, ele parou com isso. Eu acredito nele e você precisa acreditar em mim Matthew.
- Eu acredito em você, só que não acredito nele. Escuta, estou atrasado agora, vou pegar seu carro beleza? Deixa que eu coloco gasolina.
A campainha toca. Me aproximo para abrir a porta, era o Casey. Olho para Vivien com raiva e no mesmo instante volto a encarar o Casey.
- Péssimo dia, Casey.
- Bom dia para você também, Matt, não é? - pergunta com uma cara de duvida.
- Sim, Matthew. Pra você é Matthew.
- MATT! - Vivien grita do fundo.
- Ah, foda-se. Tenho que ir. Tchau meu amor e tchau pra você, Casey.
Pego a chave da Mercedes da Vivien que estava pendurada no cabide de guardar chaves ao lado da porta. Saio pela porta e dou um empurrão no ombro de Casey, normalmente queria provoca-lo, pude sentir que ele reconheceu a provocação e sussurrou baixo "Idiota". Caminho em direção ao elevador com um sorriso no rosto.


1. Coffe Express Tasty (fictício); Uma cafeteria muita frequentada pela alta sociedade e lugar preferido de Scott.
2. The Stardnish (fictício); Localizado na rua Central (fictício). Edifício onde Vivien e Matthew moram.

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