CAPITULO 1

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Desde a hora em que havia aberto os olhos naquela manhã, já me sentia diferente. Meu primeiro dia de aula na escola nova e não queria sair da cama. Bom, era o meu primeiro dia de aula, mas não o primeiro dia de aula do colégio. Era definitivamente o meu primeiro dia de aula no ano e eu não sentia vontade alguma de ir para a escola outra vez. Não que eu odiasse estudar, eu odiava mesmo era o ambiente escolar. Os alunos, os professores, os grupos, os esportes, tudo, definitivamente tudo.

Ouvi as fortes batidas na porta, que ecoaram por todo o quarto e o resmungo de Patrick. Já estava pronto para sair de casa, a questão era que eu só não queria sair. Passei a mão no rosto e encostei na parede atrás de mim e pensei em algum bom motivo para sair daquele quarto e repetir um ciclo exaustivo que consistia em: Mudar de escola, começar a tirar notas baixas, o concelho tutelar ser chamado na escola, a assistente social vir até a em casa procurar por novas alternativas até eu ser expulso outra vez.

Porque eu não podia ficar em casa e ser burro em paz?

— Por Deus Nicollas — gritou Patrick no andar debaixo — Vai acabar se atrasando! — Sua voz grossa era o suficiente para reverberar pelas paredes.

Pulei do colchão e peguei minha bolsa, corri até o banheiro do corredor e dei mais uma olhada no espelho, encarando minha imagem pálida e esquisita. Senti um frio na espinha só de pensar na gozação que os alunos fariam ao me ver vestido assim. Já estava acostumado, apesar de tudo o que eu fizesse, nada era o suficiente para afastar os comentários maldosos de mim.

Tinha cabelos loiros, na altura do queixo, minha pele branca chegava a ter um tom pálido, que destacava meus olhos azuis acinzentados. Eu tinha algumas marcas no rosto, as cicatrizes brancas disputavam lugares com as sardas discretas no nariz e nas maçãs do rosto. Estava vestindo algumas das melhores peças que tinha. Um moletom preto, uma calça jeans mostarda e o tênis que mamãe havia comprado para mim no centro da cidade. Era uma boa escola, sabia que lá deveriam ir pessoas com mais grana, com uma posição social mais relevante. E eu definitivamente não me encaixava naquele lugar.

Dei um sorriso ao Nicollas do reflexo e o desejei boa sorte antes de descer as escadas.

Patrick foi a primeira pessoa que encontrei no andar debaixo. Ele estava sentado na mesa da cozinha encarando o jornal com o cenho franzido. Não estava bêbado, o que era um grande avanço considerando que essa semana ele não havia conseguido bico nenhum. Eu não o odiava... bem as vezes quando ele bebia e nos espancava, sim... mas não quando ele estava sóbrio e agia como um homem mediano de pouca educação. Patrick era alto, com ombros largos, braços fortes e cabelos negros como a noite. Aparentava ter mais idade do que realmente tinha, já que estava na casa dos seus quarenta anos aparentando ter cinquenta e alguns, tudo isso por conta do vício.

— Bom dia Patrick... onde está minha mãe?

Perguntei entrando no seu campo de visão e ele acenou com a cabeça para a porta, onde mamãe entrou segundos depois com a sua bolsa, já pronta para o trabalho.

— Bom dia mãe!

Ela levantou a cabeça e deu um sorriso, acariciou minhas bochechas me desejando um bom dia.

— Ainda bem que está pronto, não quero que se atrase — ela falou enquanto procurava alguma coisa em sua bolsa — porque demorou tanto? — Concluiu num suspiro exausto.

— Não te vi chegar ontem, fiquei acordado até as onze... está dobrando os turnos? — Observei ao perceber seu olhar cansado parando sob os meus antes de sorrir.

— Hoje nada é sobre mim... É seu primeiro dia de aula na escola nova, preciso que acorde no horário, não se preocupe comigo, a mãe aqui sou eu! — concluiu se aproximando para beijar meu rosto.

A PRIMAVERA QUE MUDOU AS NOSSAS VIDAS (Romance gay) (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora