CAPITULO 18

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O domingo estava sendo agradável. Jonas e eu acordamos cedo para ir à missa, a igreja estava cheia, o sermão havia sido muito bonito, mas eu não conseguia parar de pensar na noite anterior. Rayn me mandou mensagem logo de manhã me desejando um bom dia, e tinha mesmo tudo para ser um ótimo dia, se as 11h34 da manhã, Jonas não tivesse me contado que mamãe iria para uma clínica especial, para receber uma atenção diferenciada, e que eu não poderia visita-la. Meu coração se partiu ao meio, e no hospital, diante da secretaria, eu consegui segurar o choro ao máximo. Foi complicado aceitar que mamãe estivesse passando por isso, logo agora que estávamos livres de Patrick. Inclusive, hoje seria o enterro dele. Jonas não pediu que eu fosse, embora eu soubesse que ele estava cuidando de todos esses assuntos.

— Nicollas, ela só está um pouco assustada ainda — Jonas disse tentando me acalmar, neguei furiosamente com a cabeça.

— Diz que eu estou aqui, mamãe jamais diria algo assim! Deixa-me vê-la Jonas, por favor — implorei sentindo meus olhos ficando turvos pelas lágrimas que ali repousavam.

— Nicollas, eu não posso, não vão deixar você entrar — ele disse outra vez, tentando ser mais contundente.

— Jonas, mamãe vai mudar de ideia, por favor, deixe eu ir falar com ela — a primeira lágrima escorria pelo meu rosto. Jonas me abraçou e eu tive que ser muito forte para não desabar.

— Me escuta, vou entrar lá e tentar ser positivo, sua mãe precisa de um tempo, vou conversar com o médico e logo estarei aqui, tudo bem? Eu sei campeão, sei que está triste, que está preocupado, mas preciso que você colabore comigo, preciso que fique aqui e me espere voltar, entendeu Nicollas? — Jonas perguntou me segurando pelos ombros e eu não consegui falar nada — Nicollas, tudo bem? — Ele perguntou outra vez me encarando dentro dos olhos.

Somente quando eu concordei com a cabeça, Jonas relaxou e foi a encontro de Dona Rose. Eu queria gritar e me jogar no chão, mas de nada adiantaria, a não ser ficar aqui e esperar. Mamãe não queria me ver, e Jonas não me explicou o motivo. Ele conseguiu entrar e falar com ela. Jonas ficou uma hora e meia dentro do quarto conversando, e eu tive que ficar esperando no lado de fora. Queria que minha mãe ficasse boa, queria que ela entendesse que estava tudo bem, mas para isso, eu necessitava respeitar o seu espaço, nesse momento tão difícil. Teria que esperar entre uma e duas semanas para ver mamãe novamente.

Quando Jonas saiu, fomos em silencio para o carro. Antes de entrar ele me abraçou e deu um beijo na minha testa. Enquanto voltávamos, ele me contou o que o médico tinha dito. Minha mãe estava experimentando um estágio de pós trauma muito comum em pessoas que saem de relacionamentos abusivos, um estágio que incluía depressão, mesmo longe do perigo e finalmente longe de Patrick para sempre, minha mãe estava emocionalmente presa nesse relacionamento, e quebrar esse vínculo levava tempo. Jonas me contou que minha mãe não conseguia lidar com a culpa de ter me feito conviver com Patrick. Ouvi tudo calado, eu sentia uma necessidade extrema de chorar, mas não fiz nada, ouvi tudo e aguentei firme enquanto voltávamos para casa.

Olhei em volta, as ruas estavam lotadas, sábado sem dúvida era um dos dias mais agitados da cidade, que recebia diariamente um mundaréu de turistas, queria estar em um lugar mais reservado, onde pudesse chorar sozinho por um longo tempo. Sentia que minhas palavras e meus sentimentos me sufocavam a ponto de eu já não conseguir pensar, peguei o celular, queria muito ligar para Rayn, mas não queria falar com ele sobre meus problemas em casa, não depois da noite que tivemos.

Na segunda feira acordei com Jonas me chamando. Ele me balançou algumas vezes e desejou bom dia. Era engraçado a forma como ele agia, era quase como se ele fosse o meu pai. Levantei e tomei banho. Me sentia triste, mas conseguia ao menos raciocinar. Jonas disse que visitaria mamãe todos os dias na clínica, e isso acalmava minimamente o meu coração. Fui para o quarto e escolhi uma roupa nova para ir ao colégio, queria que Jonas visse o quão grato eu me sentia por tudo o que ele estava fazendo por nós. Escolhi jaqueta jeans, uma camiseta branca e uma calça preta. Tudo era simples, mas me deixava confortável e feliz. Depois de vestido, fui arrumar meu cabelo na frente do espelho. Tinha falhas visíveis na parte da frente, e eu estava tendo quase certeza de que estava ficando careca, meu cabelo simplesmente caia na minha mão. Tente relaxar. Se fosse estresse, isso só pioraria a situação.

A PRIMAVERA QUE MUDOU AS NOSSAS VIDAS (Romance gay) (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora