CAPITULO 2

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Levítico 18:22 "Não se deite com um homem, como se fosse mulher. Isso é uma abominação"

Foi isso que o padre disse alguns domingos atrás no sermão. Ele esbravejava "Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos". Minha mãe concordava plenamente com isso, e a última coisa que eu gostaria era decepciona-la. Eu era filho único, não foi fácil para ela ser mãe solteira, e também não é nada fácil manter um casamento falido para que eu pudesse ter uma figura masculina no meu crescimento. Eu me sentia traindo-a por sentir atração por outros homens. E agora, ali, sentado ao lado daquele garoto, eu me sentia ainda pior.

Eu tentei mudar, ser assim me assombrava, esse desejo, os pensamentos... tudo me assombrava. Mesmo que eu tentasse, não conseguia me afastar, eu sentia que mais cedo ou mais tarde pudesse cair em pecado. Mas eu sempre fui forte, mesmo que isso me consumisse por dentro nunca deixei transparecer a mamãe que um dia pudesse tomar o caminho errado. Patrick sabia... bom pelo menos ele sempre desconfiou, as vezes ele até jogava algumas indiretas, se estivesse bêbado me acusava de algumas coisas, mas nada que deixasse mamãe alerta.

Seu perfume era inebriante, tive que ter cuidado para não ficar fungando o cangote do menino e dar bandeira da minha atração por ele. Entretanto Rayn parecia nem ter notado a minha presença, ele trocava mensagens pelo celular durante a aula e parecia estar muito entretido fazendo aquilo. Bonito e engraçado daquele jeito, ele poderia mesmo ser o aluno mais popular da escola. Ele parecia estar tão entretido com aquelas mensagens, e eu contia para não me inclinar e ver o que ele estava escrevendo. Ali de perto, ele parecia muito mais bonito. Queria perguntar se ele se lembrava de mim, e puxar assunto, Rayn parecia ser um cara sociável.

- Turma, pode resolver os exercícios – disse o professor – Folha separada para entregar!

Não era muita coisa, não passava de uma lista com dez questões facílimas e não demoraria muito para poder entregar e sair da sala. Eu já havia reprovado o primeiro ano, aquele conteúdo eu já tinha aprendido antes de fugir da escola. Queria muito passar na máquina de doces antes de ir para a próxima aula, necessitava muito que meus picos de glicose estivessem elevados para enfrentar uma aula de história mundial. Comecei a fazer as questões rapidamente, e olhei de relance para a porta, e percebi que havia um homem ali, observando os alunos pela janela de vidro. Bem que mamãe disse que aquela escola era bem rígida.

— Posso copiar? — Questionou Rayn apontando para minha folha, fingi que não havia escutado mesmo me meu coração tivesse disparado com o som da sua voz.

Como me senti idiota naquele momento por me abalar ao conversar com um garoto. Ele só havia sido gentil comigo, isso não significava nada. Eu só tinha trombado com ele no corredor e ele não me deu um soco, não podia ficar alimentando esse tipo de sentimento. Conclui com êxito os meus exercícios, guardando meu material esperando que o professor nos dispensasse. Coloquei o capuz e com cautela coloquei meus fones de ouvido, pouco antes de eu ligar a música, Rayn tocou meu braço para chamar atenção, e todos os pelos do meu corpo se arrepiaram.

— Posso copiar? — Pediu agora com uma voz mais manhosa que da primeira vez. Encarei seus olhos com um pouco de raiva de sua folga e empurrei a folha em sua direção, poderia ter dito não...

Mas o que me impediu?

— Qual seu nome? — Questionou simpático tentando puxar assunto.

Agora ao seu lado poderia notar o quanto a sua beleza era diferente. Rayn tinha traços marcantes, sua boca era fina e convidativa, seus braços torneados. Ele era bruto, entretanto a sua beleza era clássica e delicada. Sua afeição enquanto copiava, tentando distinguir minhas letras, deixava-o com um ar "intelectual". Retrai meus pensamentos, mamãe não gostaria de nenhum pouco que eu pensasse daquela forma. E eu também não queria nutrir aqueles pensamentos. Ignorei a sua pergunta, e me senti culpado, ele havia sido tão simpático comigo no corredor, ele podia ter me chutado e me chamado de babaca, mas ao invés disso ele me estendeu a mão e me ajudou.

A PRIMAVERA QUE MUDOU AS NOSSAS VIDAS (Romance gay) (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora