CAPITULO 23

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Quando acordei, a frustração me tomou, meu desejo era ter morrido naquele corredor.

As lembranças amargas do que tinha acontecido não foram embora, continuavam a me torturar assim que recobrei a consciência. Estava deitado em uma cama de hospital, num quarto simples e pequeno, onde havia uma janela que dava para o corredor, sabia que tinha tomado algum calmante, porque o medicamento ainda me deixava sonolento. O quarto estava escuro, a única iluminação que tinha ali vinha do lado de fora, da janela imensa. Ótimo, quartos como esses estavam se tornando familiares para mim.

No corredor conseguia ver minha mãe com os braços cruzados, com as costas apoiadas na parede ignorando a presença do Diretor, que estava colado na janela, no lado esquerdo, quase como uma sombra, com toda a sua atenção voltada em mim, quando me movi seus ombros caíram (provavelmente de alivio), percebi que William chamou atenção da minha mãe, que entrou imediatamente no quarto.

Minha mãe veio imediatamente em minha direção e eu senti que precisava de seu colo, a abracei com força, me aninhando em seu abraço. Conseguia sentir quão preocupada ela estava através da sua respiração. Passar mal no colégio foi diferente de todas as outras vezes, caso contrario apenas o Diretor estaria aqui, mas dessa vez ele havia chamado a minha mãe, o que não era um bom sinal. Contudo ter minha mãe aqui foi crucial para que eu não desabasse em choro, lembrando da humilhação que Dominic me fez passar, e sentindo o sangue ferver em minhas veias eu jurei.

Aquela fora a ultima vez.

— Filho, o que você está sentindo? — Minha mãe perguntou acariciando meu cabelo.

— Estou exausto mãe, muito exausto — confessei sem levantar o olhar.

— Acabei de chegar, não consegui nem falar com o médico ainda...

— Ele está bem, conversei com o médico — o diretor a interrompeu e minha mãe bufou ao meu lado.

— Meu filho está aqui porque a sua escola consegue perseguir algumas mães, mas não conseguem cuidar dos próprios alunos — minha mãe o criticou.

— Estamos apurando o ocorrido — o Diretor reforçou expressando culpa.

O clima naquele quarto estava tão pesado que eu podia segura-lo com as mãos. Minha mãe não saiu do meu lado, eu também não queria me distanciar dela. Se fechasse os olhos ainda conseguia ouvir o som das risadas, das pessoas tirando fotos, da voz de Dominic cada vez mais alto falando aquelas merdas sobre mim. Ter minha mãe era um alivio daquele pesadelo que vivi acordado. E pior tinha passado mal na frente deles, me urinado, vomitado... meu desejo era nunca mais voltar para aquele colégio.

— Nicollas, quer falar um pouco sobre o que aconteceu? — O diretor perguntou enquanto se aproximava, recebendo um olhar mortal de Dona Rose.

— Eles me empurram, cai e... e... aí eu passei mal... não me lembro — contei envergonhado com dificuldade de lidar com aqueles sentimentos.

— Sinto muito — o Diretor lamentou percebendo meu desconforto.

— Ainda estou com a roupa molhada — comentei envergonhado.

— Comprei uma troca de roupas, pode se trocar...

Tenho certeza que se minha mãe estivesse tão preocupada comigo, a probabilidade de ela acertar o rosto do diretor com um tapa era grande. Ele parou de falar à medida que o som da respiração de minha mãe foi ficando mais audível, até ele se calar de vez. O médico entrou no quarto e minha mãe saltou, ficando alerta. Seu semblante neutro conseguiu diminuir a tensão em seus ombros. Em suas mãos ele trazia alguns exames, e no rosto um sorriso forçado.

A PRIMAVERA QUE MUDOU AS NOSSAS VIDAS (Romance gay) (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora