CAPITULO 8

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Quando eu acordei na segunda feira para ir à escola, algo em mim dizia que a partir daquele dia nada mais seria diferente. Olhei pela janela do meu quarto o céu azul e o sol iluminada o topo das casas e dos prédios. Abri o vitrô para sentir a brisa suave da primavera e ouvir o baralho do bairro. Tinha algo no ambiente, alguma coisa que sussurrava em meus ouvidos que a mudança estava chegando. Eu não conseguia entender, eu só sabia.

Já estava fora da escola a uma semana. Jonas arrumou um atestado falso para que eu pudesse ficar em casa até os machucados melhorarem. Durante esses dias Patrick foi um homem normal, não tocou no assunto da briga, não nos ofendeu como de costume, e até trouxe dinheiro para ajudar com as contas. Minha mãe também estava estranha, mais estranha do que o normal. Não contei a ela que eu ouvi a conversa dela com Jonas, não sei como minha mãe se sentira se soubesse que andei bisbilhotando.

Contudo percebi que ao longo dos dias nossas coisas começaram a sumir de casa. A primeira coisa que dei falta foi de algumas roupas minhas, já que não tinha muitas, qualquer peça fazia falta. Depois reparei nossos documentos também já não estavam mais aqui, apenas os que mais usávamos e mamãe deixa em sua bolsa no trabalho. Tudo foi sumindo, os poucos brinquedos que tive e foram guardados como recordações, fotos, lembranças que minha avó mandava pelo correi no natal. Foram sete dias que os nossos rastros foram se apagando daquela casa.

Eu estava diferente também. Meu corpo parecia estar em transformação. E eu não estava falando da puberdade, isso era outra história. Meu cabelo foi o que primeiro chamou atenção. Percebi que perdia cabelo o tempo todo. Minha boca foi perdendo a cor, minha pele estava ficando pálida e surgiam hematomas por todas as partes, tão escuros como uma ameixa madura. Além disso sentia como se estivesse perdendo a força, nessa semana tudo estava mais difícil de fazer, como levantar do colchão, subir as escadas para o quarto, tomar banho. Depois de qualquer esforço mais complexo, precisava me sentar e recuperar o fôlego.

Talvez fossem os reflexos ao qual Jonas havia se referido.

Me arrumei para ir ao colégio como sempre, usei um pouco de corretivo nos olhos para esconder as marcas que ainda não saíram e coloquei uma camiseta de manga longa para esconder os hematomas do corpo, mesmo que não tenham sido causados por Patrick, ainda era bom prevenir alguma confusão desnecessária. Desci as escadas e sentei no ultimo degrau, o pouco esforço que fiz já tinha me deixado exausto. Nem teria tempo para comer alguma coisa, estava quase perdendo a hora do ônibus, deixaria para me alimentar no colégio. Enquanto descansava na escada minha mãe apareceu e levou um pequeno susto, surpresa em me ver ali.

— Por Deus filho, quer me matar do coração? — minha mãe brincou colocando a mão no peito antes de se sentar ao meu lado.

—Acordei exausto, nem sei como isso é possível — expliquei segurando a sua mão.

— Você está gelado e não parece bem, tenho que te levar ao médico — minha mãe comentou preocupada.

— Vamos gastar dinheiro atoa e receber uma receita de medicamentos genéricos que nem vamos conseguir comprar — comentei relembrando todas as consultas mal sucedidas que tivemos nos últimos tempos.

— As coisas vão melhorar filho, vou pegar mais horas extras no hotel e conseguir mais dinheiro — minha mãe tentou soar esperançosa, uma esperança que já não via a muitos anos em seu olhar — Domingo vai ter um baile na igreja, o Padre Norton falou que tem uma garota que ele adoraria que você conhecesse... talvez isso te faça bem — ela comentou dando um sorriso malicioso e dei de ombros ao que ela disse.

— Não sei mãe, vemos isso mais tarde... já estou ficando atrasado — desviei do assunto e dei um beijo em seu rosto.

Em um mundo ideal me sentiria confortável o suficiente para dizer a minha mãe que eu tinha conhecido alguém, uma pessoa que estava me apaixonando aos poucos, e ela não me julgaria por isso, ou sentiria nojo de mim, na verdade ela ficaria feliz em me acolher e ansiosa para que eu contasse mais sobre quem fazia meu coração bater mais forte. Mas não era um mundo ideal, e no mundo que eu estava vivendo agora não permitia que eu me abrisse com a minha mãe e confessasse que um garoto tinha me beijado e este beijo mexeu comigo de um jeito que jamais conseguiria explicar. E foi com essa revolta guardada dentro de mim que sai de casa para a escola.

A PRIMAVERA QUE MUDOU AS NOSSAS VIDAS (Romance gay) (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora