CAPITULO 24

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Se Rose soubesse que William estaria no hospital, talvez ela tivesse colocado uma roupa melhor e penteado o cabelo. O coque alto se desfazia pelos ombros de tanto correr, a calça velha de um pijama de Jonas não combinava em nada com a regata branca suja com mingau e o cardigan beje surrado. Ela não teve tempo para pensar em mais nada, acordou com o som do telefone tocando, da notícia até chegar aqui, Rose só conseguiu improvisar algumas rezas no carro.

Ela nem sabia como ainda estava em pé, sequer teve tempo de raciocinar quando acordou, pegou a bolsa, o dinheiro do Táxi e correu para encontrar o filho. Ela não tinha muita informação, a secretaria da escola se limitou a dizer que Nicollas se envolveu numa briga, passou mal e precisou ser hospitalizado. Isso era a concretização de todos os seus pesadelos recentes. Rose insistia que Nicollas não estava bem, sua mãe achou que era super proteção e Jonas escutava a sua angustia, mas não acreditava que o enteado pudesse estar doente.

Mas Rose sentia isso.

Quando o filho nasceu, com quase quatro quilos, tudo o que Rose fez foi tentar protege-lo do mundo e gravar todos os seus detalhes, suas manias, seus trejeitos. Nos últimos anos, sentia que estava falhando em sua missão de deixar o filho bem. Agora Nicollas estava doente e ninguém acreditava nela! Rose conhecia sua respiração e notou que ele se tornou mais ofegante, o brilho na pele desapareceu, e até a puberdade parecia ter estacionado, Nicollas não tinha barba, poucos pelos no corpo! Isso não é normal.

No hospital, Rose correu pelos corredores até encontrar a enfermaria onde Nicollas estava. Assim que entrou no corredor, encontrou William parado diante de uma janela, com os braços cruzados. As pernas de Rose amoleceram, inclusive achou que iria cair, por um segundo desejou ter tido tempo para pelo menos ter ajeitado o cabelo. Ela não estava ali para isso, seu filho precisava dela, o que William pensaria ou não, não tinha importância.

— Onde ele está? — ela perguntou se aproximando dele, mantendo uma postura arredia.

William tremeu ao ouvir sua voz.

— Foi medicado e está dormindo — William foi breve em suas palavras, não queria arrumar confusão, então quanto menos ele estivesse presente ali, mais poderia fica ao lado do filho.

— O que aconteceu? Que briga foi essa?

— Eu não estava na escola, me avisaram depois, vim de casa para o hospital — William suspirou e massageou a têmpora esquerda — A inspetora de alunos relatou uma briga com um dos filhos de Kevin... se lembra de Kevin?

William não tinha certeza de que Rose se lembrava de Kevin, o cupido, responsável por unir os dois quando ainda eram jovens. Kevin era um dos melhores amigos de William, estavam juntos a tanto tempo que era estranho para William alguém o conhecer, sem conhecer sua sombra. Neste momento ele se permitiu olhar para trás e quase entrou em colapso ao ver pela primeira vez em mais de uma década um sorriso sincero nos lábios de Rose, que estava encostada na parede, de olhos fechados, experimentando uma lembrança de quando a vida era fácil e boa. E um sentimento que ele escondeu por anos também estava aqui, William não sabia como o amor poderia sobreviver a dezessete anos, mas de alguma forma o amor estava presente, como se nunca tivesse acabado.

— Kevin teve dois filhos, dois meninos, se casou com Elizabeth — William contou distante.

— Você teve mais filhos? — Rose se atreveu a perguntar, ainda com as lembranças amargas na boca.

— Não, a minha esposa não pode ter mais bebês depois de Amber...

Ele se arrependeu do que havia dito. Não queria jogar na cara de Rose a vida que teve ao lado de Chloe, mas foi tarde demais. Rose sentiu aquelas palavras como adagas, que perfuravam a sua pele e atingiam o peito, levando-a para o passado, no dia em que William disse que não poderia ficar com ela, que sua esposa estava gravida do seu segundo filho. Ela conseguia se lembrar da sensação do chão abrindo debaixo de seus pés, a humilhação que esquentou o sangue e corou as suas bochechas e a dor que não passou, apesar de ter se passado 17 anos.

A PRIMAVERA QUE MUDOU AS NOSSAS VIDAS (Romance gay) (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora