CAPITULO 3

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Sentado no canto do meu quarto, no colchão ao chão, aquela breve conversa com Rayn ecoa na minha cabeça. Ele foi muito simpático comigo, e no fundo nem precisava. Será que ele continuaria falando comigo se soubesse de toda verdade? Só de pensar nisso meu coração disparava.

Cheguei da escola e a casa estava silenciosa. Patrick deveria estar bebendo em algum beco da cidade e minha mãe provavelmente estava dobrando o seu turno para conseguir um pouco mais de grana. Nos armários de casa só havia um pacote de biscoitos com gotas de chocolate e na geladeira uma coca, o que tragicamente acabou sendo a única coisa que comi hoje. Torci para que mamãe trouxesse alguma coisa do hotel, ela só receberia no final de semana e não tínhamos absolutamente nada no armário. Toda essa situação me desgastava.

Eu também não tinha muito o que fazer, a TV estava com problemas, meu computador estava quebrado, não tinha livros para ler, não tinha amigos para conversar... a única coisa que eu podia fazer no momento era dormir ou pensar, considerando que não estava com sono algum. Passei a mão pelo meu rosto e depois abracei meus joelhos. Lembrei de tudo que minha mãe e eu passamos até aqui, e senti que só precisava ser forte e aguentar um pouco mais até sairmos dessa situação.

E então, sem avisar ou pedir licença, de forma intrusa ele visitou meus pensamentos pela décima vez desde que cheguei em casa. O garoto moreno de pele bronzeada e com o sorriso espetacular martelava meus pensamentos sem pausa. Ele era bonito e gentil, e cheira a flores, o que era uma mistura divertida e surpreendente. Ele foi a única pessoa que foi legal comigo a semanas sendo que nem precisava fazer isso. E melhor, ele queria falar comigo outra vez, eu tinha seu número, o qual ele passou espontaneamente, minha vontade agora era só ligar e escutar sua voz firme e doce mais uma vez. Fui dispensado no meio do dia, tinha mais quatro aulas antes do Diretor me chamar em sua sala, isso me levou a pensar se Rayn e eu teríamos mais alguma matéria juntos.

Tudo isso era bobagem...

Mesmo que Rayn fosse legal comigo outra vez, o que eu faria? Chamaria ele para sair? O traria para essa maldita casa onde sequer poderíamos ver televisão? O apresentaria para o italiano bruto e estúpido que é meu padrasto? Mesmo sem o conhecer, acredito que tínhamos poucas coisas em comum a não ser estudar no mesmo colégio e termos o mesmo horário de química. Ele só foi gentil, só isso. Chacoalhei a cabeça e espantei aqueles pensamentos frustrantes.

Ouvi batidas na porta da entrada, mesmo estando sentado em meu quarto no segundo andar, a casa estava silenciosa o suficiente para que eu pudesse ouvi-las. Não me movi, minha mãe era bem clara sobre as batidas na porta, poderia ser alguém cobrando Patrick pelas suas dívidas de jogo (E isso seria perigo) ou então poderia ser assistente social, o que também não era muito bom, já que estava sozinho e provavelmente minha mãe demoraria aa chegar (isso seria mais uma anotação na ficha extensa que tínhamos). Ouvi as batidas na porta outra vez, só que estás eram diferentes, duas batidas... silencio... duas batidas... silencio... uma batida...

Dei um pulo e corri para as escadas. 221, eu sabia quem estava na porta e minimamente essa visita alegrou meu dia. Quando abri fui recebido pelo sorriso largo do único cara verdadeiramente bom que já conheci na vida, Jonas, o melhor amigo da minha mãe e o cara que secretamente considero meu pai. Ele abriu os braços e eu o abracei, Jonas se afastou um pouco e deu uma olhada dos pés a cabeça depois se aproximou e me cheiro, só quando confirmou que eu não tinha bebido uma única gota de álcool ele me cumprimentou.

— Sua mãe mandou eu vir conferir como estava — Jonas colocou mão em meu ombro e apontou com a cabeça para as escadas.

— Está no seu intervalo? — Perguntei enquanto nos sentávamos no primeiro degrau.

— Tenho uma hora, hoje vamos dobrar no Club, vai ter um evento grande lá — ele explicou brevemente — Como foi seu primeiro dia no colégio?

Pior como todos os outros dias.

A PRIMAVERA QUE MUDOU AS NOSSAS VIDAS (Romance gay) (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora