Capítulo 4 - Na toca do Lobo.

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Ámbar


Dentro da Mercedes enorme e negra, com vidro fumê, separada do motorista por um vidro escuro, eu me sentia acuada e nervosa. Sair de casa, deixar minha filha pequena e meu marido doente, para transar com um homem que me odiava e a quem eu desprezava, era algo que eu nunca teria escolhido, se pudesse evitar. Mas há muito tempo eu não tinha mais controle de nada sobre a minha vida.

Meu reflexo aparecia no vidro fume e eu encarei minha imagem desanimada. Estava pálida, com o cabelo preso na nuca e usava jeans gasto e uma camiseta branca. Devia parecer exatamente o que eu era, uma mulher pobre, que vinha enfrentando grandes dificuldades na vida. E não uma mulher prestes a fazer sexo com um homem. Estava fria e apavorada.

Tentei enxergar o que Simón vira em mim para fazer uma proposta daquelas. Eu já fora muito bonita no passado, quando ainda era feliz e cheia de vida. Benício e várias pessoas comentavam que eu devia ter sido modelo e manequim. Era alta, esguia, com corpo bem feito e traços que, no conjunto chamavam a atenção. Todos comentavam dos meus olhos grandes e de uma cor diferente, dourada.

Agora eu nem tinha tempo de me cuidar ou pensar em vaidade. Vendera as melhores roupas que eu tinha, vivia com o pouco que me restara, não cuidava da pele, do cabelo, de nada. Minhas mãos eram de uma mulher que trabalhava duro com cloro e sabão, tentando aumentar a renda fazendo trabalhos domésticos para outras pessoas.

Pela primeira vez em muito tempo, observei-me com atenção. Estava bem mais magra e pálida. Sentia-me abatida. Mas continuava bonita. Meus olhos continuavam Azuis, a pele lisa, a boca carnuda. Senti raiva daquela aparência. Se eu estivesse feia, horrível, Simón não teria feito aquela proposta. Mas talvez também não me desse o dinheiro.

Fechei os olhos por um momento, angustiada. Há mais de dois anos eu não tinha relações sexuais com um homem. Benício ficara impotente e eu nunca o traíra. Às vezes minha natureza apaixonada reclamava e eu quase subia pelas paredes. Gostava muito de sexo e era naturalmente fogosa. Mas aprendera a dominar aqueles instintos, principalmente quando fiquei tão cheia de problemas que aqueles desejos foram relegados a último plano.

Eu recebera propostas de colegas de trabalho e conhecidos, inclusive do meu último chefe, que fizera uma chantagem parecida com a que Simón fazia agora: sexo em troca de não ser mandada embora. Eu recusara a todas. Até de alguns colegas atraentes, que poderiam ter me dado pelo menos o alívio físico. Não poderia trair meu marido, mesmo ele estando doente e impossibilitado.

Agora eu faria isso. Não com um homem horrível e asqueroso. Pelo menos havia a beleza a favor de Simón, nem que fosse apenas física. Era um dos homens mais másculos e bonitos que eu conhecera.

Lembrei da modelo famosa com ele no jornal. Devia estar acostumado com mulheres belíssimas, bem tratadas, que usavam sedas e perfumes importados. Com certeza só havia me chantageado por uma vingança idiota, baseada no passado. Tão logo conseguisse o que queria, me deixaria em paz. E eu tentaria esquecer.

Abri os olhos, percebendo que o carro percorria as ruas da Barra da Tijuca, onde o motorista informara que Simón morava. Logo chegaríamos lá. Só de me imaginar ficando nua para ele, sentia vontade de chorar. Ninguém deveria ser obrigado a se humilhar daquela maneira, em troca de dinheiro.

Apelei para meu lado racional. Não havia como fugir daquilo, então eu precisava manter a calma e encarar tudo pelo lado positivo. Pagaria minhas dívidas e poderia cuidar melhor da minha família. Só me restava rezar para que Simón não fosse violento ou repulsivo e que tudo acabasse logo.

Mas comecei a tremer quando o carro entrou na garagem de um prédio lindíssimo em frente à praia. Fiquei imóvel enquanto ele parava e depois o motorista vinha abrir a porta para mim. Olhei-o por um momento, com medo de sair daquele carro.

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