Capítulo 9 - Monstro

551 14 2
                                    

Ambar


No domingo Simón não me ligou. Passei o dia cuidando de Benício e dando atenção à Sophie. Levei-a para brincar no parquinho da praça, comprei picolé para ela, compensei-a da minha falta de companhia no sábado. Não havia trabalho nenhum para fazer e também descansei. A noite Gilda foi embora e eu dispensei Clara. Não ia sair e eu mesma poderia me encarregar de Benício. Fiquei na sala brincando com Sophie, depois fizemos um lanche e preparei-a para dormir. Ela estava deitada em meu colo, rindo de uns vídeos engraçados na televisão, quando Luna chegou.

Ficamos jogando conversa fora, falando de alguns conhecidos e sobre amenidades, quando percebi que Sophie dormia. Levei-a para cama e depois voltei à sala. Como Simón previra, eu estava dolorida, principalmente no ânus. Mas não era nada sério.

- Quer um cafezinho, Luna?

- Não, obrigada. Como Benício está hoje? - A mesma coisa. Não acordou.

- Você parece cansada. Está pálida.

Eu me sentia cansada. Não fisicamente, mas emocionalmente. Estava confusa, preocupada, tensa. Tinha medo da confusão em que eu me metera com Simón. Luna parecia perceber o meu estado. Por fim ela foi direto ao ponto:

- Você está apaixonada por ele, não é?

Quis negar e desconversar. Mas ela me conhecia bem demais. E eu confiava nela. - Estou.

- Ele sabe, Àmbar?

- Não! – Falei rapidamente. – É uma loucura, eu sei. Minha vida é uma confusão só. Sou casada, tenho uma filha, mas... Não pude evitar. É algo que não consigo controlar. Mas quando nós pararmos de nos encontrar, vou me recuperar e tudo vai voltar a ser como antes.

- Claro que sim. Você é uma mulher muito forte. – A senhora sorriu para mim. – Sabe, acho que você já gostava dele antes. Quando se conheceram.

- Era atração. Eu sempre amei Benício. - E ele, Àmbar?

- Simón?

- Sim. Ele gostava de você?

- Há dez anos? Ele me desprezava, Luna. Tinha raiva da gente. Mas sempre houve essa atração física entre nós.

- E hoje? Será que ele não gosta de você? Sabe, fiquei pensando: esse homem quis que dormisse com ele em troca do dinheiro. Quer a sua companhia. Exigiu um mês. Ontem a levou para uma festa, comprou um vestido para você. Se ele quisesse só te usar, transaria algumas vezes e pronto. Acho que ele se interessa por você mais do que gostaria.

Olhei-a detidamente. Por fim balancei a cabeça.

- Não. É como eu disse, muita atração. Parece que quanto mais nós... você sabe... mais queremos. Como um vício. Ele não gosta de mim e nunca gostou.

    - Tenho certeza. De qualquer forma, nunca daria certo entre a gente. Sou casada. Preciso me concentrar nisso e me manter fria. Com o tempo, tudo volta ao normal.

Mudamos de assunto. Evitei tocar no nome de Simón e, depois que Luna foi para casa, fui cansada para o meu colchonete.

Foi uma noite horrível, com pesadelos onde eu abandonava Benício doente em um hospital horrível e ia atrás de Simón. Depois me arrependia pelo que tinha feito e, quando voltava ao hospital, Benício havia sumido. Eu o procurava desesperadamente, chorando, e não o encontrava.

Acordei de madrugada chorando de verdade e cheia de culpa. Ajoelhei-me perto da cama, segurei a mão de Benício e pedi-lhe perdão baixinho.

Na segunda-feira Simón também não me ligou. Dediquei-me ao máximo a Benício e Sophie, como que para me livrar da culpa que me corroia por dentro. Consegui mais uma remessa de roupa para passar e ganhei apenas vinte reais, mas já era alguma coisa. Eu sabia muito bem o quanto vinte reais poderia fazer falta e guardei bem o dinheiro.

Chantageada  Onde histórias criam vida. Descubra agora