Capítulo 11 - Morreu

556 19 2
                                    

Ambar

Durante o sábado, meu dia foi rotineiro, em casa com Benício inconsciente, Sophie animada, brincando e falando sem parar, a presença de Gilda e o papo com Luna, que aparecia para ver como iam as coisas e conversar. Dei faxina na casa, até ficar exausta e tudo brilhar. Estava mais calada que o normal, mas fora isso ninguém reparou que eu me sentia mudada desde aquela madrugada.

O celular tocou por volta das sete horas da noite, quando eu lia um livro na sala e Sophie fora brincar um pouco com o gato de Luna, na casa dela. Eu tremia ao atender. Não falava com Simón desde quarta-feira de manhã. Ainda sentia raiva dele e medo. Mas também uma estranha saudade, que chegava a doer.

- Oi, Àmbar.

- Estou esperando você.

-Certo. – Falei com a mesma frieza que ele. – Jonas já está a caminho?

-Sim. Esteja pronta.

E só. Guardei o celular, com aquela odiosa vontade de chorar novamente me engolfando.

Cheguei ao apartamento dele com os nervos em farrapos. Após o nosso último encontro, eu o temia e não sabia o que esperar. Muito menos aquela emoção forte e estonteante que senti quando ele abriu a porta e eu o olhei. Todo meu ser reagiu com sentimentos violentos e desconexos de vergonha, dor, paixão, luxúria.

Não dissemos nada. Entrei, trêmula e nervosa. Não sabia como ele me trataria dali por diante ou como eu deveria me portar. Parei perto do sofá, com o olhar fixo a minha frente. Fiquei surpresa ao ver vários lingeries espalhados pelo sofá, de todas as cores e formatos.

- Delfina tem suas medidas na loja. Mandei que ela escolhesse algumas peças para você e enviasse para cá. Tire a roupa e experimente-as.

Não olhei para ele. Eu sentia sua frieza congelando-me. “Daqui por diante você vai ser tratada como a puta que é”, aquelas palavras, proferidas por ele em nosso último encontro, voltaram nítidas à minha mente. Então era assim. Ele mandava e eu obedecia. Aquela ligação que havia começado a se formar entre a gente havia sido rompida. Eu seria só uma obediente prostituta.

Larguei minha bolsa, sentindo-me também fria. Desabotoei a blusa, o velho sutiã, a calça. Tirei tudo. Nua, só os cabelos densos, lisos e compridos me cobriam um pouco. Então o olhei, bem dentro das íris castanhas.

   -  O que quer que eu ponha primeiro?

Os olhos dele brilhavam muito, como se estivessem consumidos por chamas. Desprezo e algo mais estavam ali. A voz saiu gelada:

- Escolha você.

Olhei novamente para as peças. Peguei a mais próxima, sem me importar. Era um conjunto de meia calça preta, até o meio das coxas, onde era rendada, fio dental preto e sutiã meia taça preto e rendado, com bojo transparente. Sentei-me na poltrona, sob o olhar de Simón, e vesti-me. Quando fiquei pronta, levantei-me e encarei-o.

-  Quer que eu desfile agora? – Indaguei secamente.

-  Ótima idéia. – Calmamente ele se sentou em uma poltrona, muito à vontade em seu terno escuro de corte perfeito. – pode começar.

Dura e com raiva, eu andei de uma ponta à outra da sala. Não quis pensar na humilhação de me expor daquele jeito, com o corpo à mostra, tratada como uma puta.

No final das contas, eu acabava reduzida a isso mesmo. Fora a puta particular de Benício por dez anos e agora era a de Simón.

-Você parece um robô, Àmbar.

- Ah, não gostou? Lamento, é o melhor que posso fazer.

- Troque de roupa. – Ele não comentou minha ironia. – Deixe a meia calça.

Chantageada  Onde histórias criam vida. Descubra agora