Capítulo 5 - Por que ?

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AMBAR


Jonas deixou-me em casa por volta das onze horas da noite e afastou-se na Mercedes luxuosa. Na calçada, fitei a casa em que eu vivia, com muro baixo, portão enferrujado e pintura verde descascando. Uma onda de culpa me engolfou por ter estado fazendo amor com Simón em um apartamento de cobertura, enquanto meu marido doente estava ali entrevado em uma cama e minha filha devia estar sentindo a minha falta.

Os cinco mil reais e o contrato pareciam pesar toneladas em minha bolsa.

Respirando fundo, abri o portão, que rangeu, e subi os dois degraus que levavam até a varanda. Luna deixara a luz acesa para mim. Peguei a chave na bolsa, destranquei a porta e entrei. A televisão estava ligada e Luna assistia a um filme.

Olhou-me na mesma hora, preocupada.

Dei-lhe um sorriso tranquilizador e aproximei-me dela, largando a bolsa sobre o sofá e sentando-me ao seu lado.

  -   Sophie dormiu?

-     Dormiu. Queria esperar você, mas o sono acabou vencendo.

-     Ela deu muito trabalho?

-     Sabe que não. É um anjinho e nos divertimos muito juntas. Benício dormiu o tempo todo. Troquei o soro e virei-o de vez em quando. Eles estão bem.

-     Não sei o que seria de mim sem você, Luna. – ergui os olhos e fitei-a. – Obrigada por tudo.

-     Não agradeça. Você é como uma filha para mim, Àmbar. Lembra quem cuidou de mim por mais de um mês quando fiquei mal da coluna? – ela sorriu e deu um tapinha carinhoso em minha mão. Depois acariciou a mesma mão e perguntou preocupada: - Como você está?

Luna era a única pessoa que sabia de onde eu vinha e o que eu fora fazer. Não consegui encará-la, com vergonha.

-     Estou bem.

-  Acabou, querida. Tente esquecer.

-   Não acabou. – Falei baixo. – Simón havia modificado a proposta. Quer que eu me encontre com ele por um mês. Vai pagar para uma enfermeira cuidar de Benício e eu devo correr para a casa dele sempre que ele me chamar. Só assim eu poderia pegar o dinheiro. Deu-me metade agora e a outra metade receberei no final de um mês.

Finalmente olhei-a. O rosto escuro e pequeno da senhora estava surpreso e confuso.

-   Um mês? Jesus Cristo!

- Pelo menos pago aquele maldito agiota amanhã, o aluguel atrasado e posso comprar tudo o que está faltando aqui em casa. – Apertei a mão dela com afeto. – Finalmente vou poder pagar o dinheiro que você vem me emprestando todo esse tempo.

-     Esqueça isso.

-    Nada disso. Amanhã acertaremos tudo.

-   Isso não importa, Àmbar. Quero saber de você. Vamos, filha, pode desabafar comigo. Como está se sentindo com esse novo acordo? Está com raiva? Triste?

-     Claro que sim! – Eu não podia mentir para ela. Meus olhos encheram-se de lágrimas e eu levei as mãos ao rosto. – Estou com muita raiva, Luna! Raiva de mim mesma! Simón tinha razão em me chamar de prostituta! É o que sou!

 -    Não diga isso! Você não tinha escolha, querida! Estava na miséria, sendo ameaçada! Ele é que se aproveitou disso! Podia te ajudar sem exigir sexo em troca! Deus do céu, só de imaginar o que você passou e o que ainda vai ter de aguentar! – Ela balançou a cabeça, arrasada.

-      Não! – Virei-me para ela, envergonhada. – É disso que estou falando, Luna. Sinto-me suja, nojenta, canalha. Eu devia ter odiado! Devia ter sido fria! Eu sou casada! Meu marido está doente! Mas Simón... eu não pude evitar. Ele é lindo, ele me tocou e...eu cedi. Eu gostei quando ele... eu senti prazer.

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