Capítulo 15 - Como devia ter sido desde o início

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AMBAR


Minha vida entrou em uma rotina feliz. Eu consegui emprego em uma firma de advocacia no centro do Rio de Janeiro, começaria trabalhando como trainee, mas mesmo assim o salário era muito bom, com plano de saúde para mim e Sophie, passagem e refeição. Era uma das firmas que Simón tinha me indicado. Não optei a dele para evitar qualquer problema entre a gente. E destranquei a faculdade, assim que começasse um novo período eu voltaria a estudar.

Luna cuidaria de Sophie durante o dia e eu pagaria a ela. Apesar da senhora não aceitar, só concordei sob aquela condição e aí acertamos tudo.

De sexta para sábado eu dormia com Simón. Passávamos o dia de sábado juntos até a tarde, mas muitas vezes eu me sentia dividida, com muita saudade da minha filha. Voltava para casa, passava o resto do sábado e o domingo com ela e aí morria de saudades de Simón. Vez ou outra jantávamos juntos no fim de semana ou saíamos, mas em geral aproveitávamos o tempo na cama, ansiosos, apaixonados, cada vez mais ligados.

Completamos um mês juntos. No segundo mês, tínhamos muito mais intimidades, ríamos juntos, andávamos na rua de mãos dadas, eu cozinhava para ele. Foi quando Simón perguntou se eu queria ir no final de semana para uma casa que ele tinha em uma das Ilhas de Angra dos Reis. Era um feriado estendido, de sexta a domingo. claro que gostaria de ir, mas não poderia ficar longe de Sophie tanto tempo e foi o que disse a ele. Para minha grande felicidade, ele falou para levá-la. E partimos para lá.

Foi a primeira vez que andamos de helicóptero. Morri de medo, mas Sophie adorou e vibrou. Simón estava um tanto calado, meio sem saber como se portar com ela, mas ela o chamava de tio, ria, nem percebia nada.

Foram dias maravilhosos no casarão de frente para o mar. Nos divertimos muito e Simón aos poucos foi se acostumando com Sophie. Já conversavam e ele até montou um castelo de areia com ela.

Quando Sophie dormia, ficávamos do lado de fora bebendo e conversando, depois nos amávamos com desejo e luxúria sobre os lençóis macios e depois dormíamos coladinhos.

Foi o início de um relacionamento mais profundo e íntimo. Agora ele convidava a mim e a Sophie para passar os finais de semana em seu apartamento e saíamos bastante. Até no Jardim zoológico nós a levamos e Simón se divertiu com a alegria dela ao ver os animais.

Eu estava feliz da vida ao completar dois meses com Simón. Nunca me senti tão realizada e maravilhada, minha vida era realmente perfeita. Até que algo novo aconteceu e eu acabei me dando conta. Naquele mês não tinha menstruado.

Pensei na vez que fizemos amor sem preservativo e ele gozou dentro de mim. E nas outras com coito interrompido. Poderia estar grávida?

Fiquei nervosa, entre feliz e temerosa. No intervalo do almoço fiz um exame de sangue e passei o dia agoniada no trabalho, esperando dar cinco horas para pegar o resultado. O tempo se arrastava e eu estava distraída, sem conseguir me concentrar em nada.

Por fim entrei no laboratório, peguei o envelope e sentei num canto, abrindo-o com o coração aos pulos. Só uma palavra gritou na frente dos meus olhos: POSITIVO>

Fiquei imóvel. Depois lágrimas desceram por meus olhos e minha primeira reação foi de júbilo. Eu estava grávida de Simón. Saí de lá como se flutuasse, sem querer pensar nos problemas que poderiam surgir daí. Acariciei minha barriga ainda pequena, feliz da vida.

Liguei para casa e avisei a Luna que me atrasaria um pouco. Depois liguei para Simón perguntando se ele estava em casa. Disse que precisava falar com ele. E parti para seu apartamento.

Durante todo o tempo me senti flutuar e fiquei sorrindo no ônibus como uma boba. Mas quando cheguei ao seu apartamento e ele me recebeu ainda de terno, lindo como sempre, um medo atroz percorreu meu corpo. Deixei que me beijasse e entrei, gelada, trêmula.

-O que houve, Àmbar? Simón estranhou meu jeito.

- Eu tenho... Preciso mostrar uma coisa.

Nós nos sentamos no sofá. Ele desfez o nó na gravata, fitando-me com intensidade. Não consegui me mover, muito nervosa.

- O que é?

Engoli em seco, sabendo que não teria palavras. Assim, tirei o exame de dentro da bolsa e entreguei a ele.

Simón franziu o cenho. Em silêncio, abriu-o e leu-o. Ficou um tempo parado, seus olhos fixos na palavra que chamava a atenção. Sua expressão não mudou. Então ergueu os olhos Castanhos e fixou-os em mim.

Tive vontade de chorar, tão na expectativa eu me sentia. Abri a boca para dizer algo, mas o que eu poderia falar?

Ficamos assim um tempo, até que ele voltou a dobrar o papel. Disse de vagar:

 Eu sabia que algo assim poderia acontecer.

-  Eu... O que...

Simón não me deixou continuar. Segurou minha nuca, seus dedos longos penetrando meu cabelo, e me deu um beijo na boca delicioso, cheio de emoção. Eu agarrei as lapelas do paletó dele, retribuindo com amor, sempre maravilhada com o gosto, o sabor dele.

Quando me olhou de novo, seu rosto bem próximo, sussurrou:

-  Você vai ter um filho meu.

-Como devia ter sido desde o início. Não entendi bem. Mas ele explicou:

 -Você devia ter sido só minha, Àmbar. Sempre minha. Mas agora está aqui e carrega um filho meu. Nunca mais vai poder me deixar.

-Eu só o deixaria se você me mandasse embora. – Murmurei rouca, emocionada.

E me beijou de novo. Nós nos agarramos, nos abraçamos e acariciamos. Estávamos mais unidos que nunca. Lágrimas de pura felicidade desceram por meus olhos. E assim ficamos, apenas nos sentindo e sabendo que uma vida nos ligaria para sempre.

- Case-se comigo.

Não acreditei. Movi um pouco a cabeça e encontrei seu olhar escurecido.

-  O quê?

- Case comigo, Àmbar.

-  Sim. – Sorri entre as lágrimas e acariciei o rosto dele. – Eu te amo, Simón.

-  E eu amo você.

Abracei-o forte, beijando-o com loucura. Logo o desejo nos engolfava, misturado com o amor e a emoção pura ao saber que seríamos pais. Nus e apaixonados nos amamos no sofá e ele gozou dentro de mim.

Ficamos lá deitados, felizes e satisfeitos.

Lembrei do passado, das nossas brigas intermináveis. E da vez que nos revimos em seu escritório e ele fez aquela proposta indecente. Naquela época o meu mundo estava de pernas para o ar e eu sofria demais com a doença de Benício e todos os problemas. E agora estávamos juntos, íamos ter um filho e nos casar. Tinha medo de acordar, de ser um sonho!

- E Sophie? – Perguntei baixinho.

-Vou criá-la como minha filha, Àmbar. Eu o abracei forte, muito forte.

O passado não importava mais. Uma nova vida nos aguardava.

A vida que sempre quis para mim.

 

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