Capítulo 14 - O Adeus?

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AMBAR


Dormi com Simón. No domingo de manhã, tomamos café juntos na cozinha, conversando amenidades, bem relaxados. Estávamos apenas de robe, sem pentear o cabelo, descalços. Havia entre nós uma intimidade diferente, que nunca pensei que seria possível. Todos os sentimentos pesados e conturbados que nos envolveram dez anos atrás e no início do nosso envolvimento pareciam ter sido esquecidos.

Tomando goles do meu café quente e forte, eu o observava sobre a borda da xícara, entre encantada e ansiosa. Sabia que meu tempo com ele se esvaía por meus dedos, se aproximava cada vez mais do fim, enquanto o desespero se espalhava como uma droga dentro de mim. Só de imaginar minha vida longe dele, meu corpo sem o seu, dava vontade de gritar, chorar, lutar. Mas não havia nada que eu pudesse fazer.

Simón pareceu perceber o modo como eu me sentia, pois passou a me observar também. Por fim, indagou:

-  O que você está pensando?

-Que nosso acordo está chegando ao fim. E agora estamos em uma paz relativa. – Pus a xícara sobre o pires e criei coragem para perguntar: - Por quê? O que fez você mudar comigo?

Ele não respondeu de imediato, mas parecia analisar se valia a pena contar ou não. Por fim se levantou.

- Espere um pouco. Já volto.

Recostei-me na cadeira, um tanto nervosa. Muita coisa havia acontecido em pouco tempo e às vezes parecia que eu estava sonhando. Em menos de um mês minha vida tinha dado uma reviravolta completa. Benício estava morto. E eu completamente, loucamente apaixonada por Simón.

Ele retornou segurando alguns envelopes de papel pardo. Eram três. Sentou-se e, sem uma palavra, entregou-me.

Senti seu olhar profundo, fixo em mim. Não desviei meu olhar e segurei os envelopes um tanto apreensiva. O que poderia ser aquilo?

Deixei dois sobre a mesa e abri o primeiro. Havia uma única folha impressa, com o nome de algumas empresas, inclusive uma de Simón. Ao lado havia o cargo e a função.

Fitei-o, sem entender direito. Ele explicou:

- São vagas de emprego. Algumas em minhas empresas, outras de conhecidos meus. Quero que as analise, pense qual delas se enquadra melhor às suas qualidades e escolha uma. Os salários são bons e melhoram com o tempo.

    -  Àmbar, já percebi o quanto você é inteligente. Sei que fazia faculdade de Direito na Uerj e que suas notas eram excelentes. Não é um favor. Acho que você pode ser útil em qualquer uma dessas funções. As vagas estão disponíveis.

Simón parecia sereno, sincero. Olhei novamente para o que estava escrito na folha a minha frente, sem saber ao certo o que pensar. Eu realmente precisava de trabalho. Mas até que ponto seria correto aceitar aquela proposta? Ele pensaria mal de mim?

Então, algo que ele disse chamou minha atenção. Encontrei seu olhar e perguntei:

-  Como sabe que minhas notas na faculdade eram boas?

- Sei tudo sobre você, Àmbar. – A voz dele era séria, assim como seu rosto. – Veja o segundo envelope.

Obedeci. Deixei a folha sobre a mesa e abri o envelope grande, que continham uma espécie de relatório. De início não entendi. Mas então comecei a ler tudo sobre minha vida nos últimos dez anos. Apertei os papéis com força. Antes que eu pudesse sequer olhar para ele ou entender como me sentia, a voz de Simón soou baixa, tensa:

- Paguei para que investigassem você. Eu precisava saber que tipo de mulher você era. A interesseira como sua tia, que sempre pensei que fosse. Ou a de olhar sincero e magoado que aprendi a conhecer.

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