Capítulo 13 - Presentes

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A missa de sétimo dia de Benício foi em uma pequena igreja perto da minha casa. Além de Luna e mais alguns vizinhos, as enfermeiras Clara e Gilda também compareceram. Agradeci a elas e tomamos café em minha casa.


Sophie adorou a igreja e a visita das duas enfermeiras. Falou sem parar o tempo todo, principalmente sobre o seu aniversário na semana seguinte. Ela o esperava ansiosamente. Só pensava no bolo de chocolate que eu prometera fazer.

-Vocês vêm? – Olhou esperançosa para Gilda e para Clara.

- Isso é um convite? – Gilda sorriu. – Já estou dentro!

- Serão bem vindas. – Falei, enchendo os copos de massa de tomate vazios com café. – Mas será apenas um bolinho. Sábado que vem, à tardinha.

Depois que elas foram embora, levei Sophie à praça e ela ficou brincando no escorrego, no balanço e com outras crianças. Perdida em pensamentos, eu me mantinha sentada em um banco, olhando-a.

Sophie fora a melhor coisa que Benício me dera. Apesar de se parecer muito comigo, seu sorriso era igual ao dele, aberto e espontâneo. E às vezes ela me lembrava o pai.

Sentia-me triste, com saudade dele. Era estranho entrar em casa e saber que nunca mais eu o veria. Mas ao mesmo tempo, sentia uma calma que eu não sentia há muito tempo, por saber que ele não sofria mais. Eu estava conformada e, ao mesmo tempo, saudosa.

Eu sempre acreditara que não conseguiria viver sem ele. Acho que por isso suportava sua irresponsabilidade e aturava suas inconsequências. Desde a infância, meu mundo girava em torno de Benício. Um pouco antes dele ficar doente, eu já não o amava tanto e a decepção me afastava dele. Eu me cansava de suas futilidades e de sua infantilidade. Então eu ficara grávida, logo depois ele soube que estava doente e minha vida continuou girando em volta dele.

Só agora eu seguia sozinha, longe da presença e da influência de Benício. E agora eu percebia que tudo aquilo que tanto me encantara nele fora permeado por ilusões adolescentes. Eu o vira como meu príncipe encantado e ele se mantivera no pedestal, mantendo-me presa nessa ilusão. Enquanto ele se divertia e aproveitava a vida, eu sempre arrumava desculpas para seus atos. E acreditava em seu amor.

Agora tudo era diferente. Eu estava por minha própria conta e podia enxergá-lo perfeitamente. E a vida que nós tivemos. Não me arrependia de nada, mas também compreendia que parte de tudo aquilo fora uma farsa. Nosso amor não fora tão forte e nem fomos muito felizes.

Suspirei, acompanhando com o olhar Sophie correr para o escorrego. Minha mente encheu-se de imagens de Simón e o que senti era o sentimento mais forte e poderoso que eu já experimentara na vida por um homem. Não havia aquela coisa doce e sonhadora como fora com Benício. Era intenso, profundo, extasiante. Era um amor adulto, sensual, racional. Um amor que chegava a doer.

Não queria alimentar ilusões. Tentava ser firme e direta quando pensava no futuro. Em pouco tempo Simón me deixaria e eu teria que seguir em frente, reconstruir a minha vida. Pois eu sabia que ele não se prenderia a mim. Era um homem acostumado a ter belas mulheres, a ficar com elas só o bastante para se divertir e depois seguir para novas conquistas.

Pensei no que Benício dissera, sobre o interesse de Simón por mim, há dez anos. E sobre o que Luna dissera, que ele me olhava como um homem apaixonado. Balancei a cabeça. Não podia acreditar naquilo. Eu não percebia nada disso em seu olhar ou gesto. Ele me desejava. E isso devia ser tudo. Mas a verdade é que eu tinha medo de ter esperanças. Era melhor desde já me conformar com o fim iminente.

Tudo começara errado entre a gente. Primeiro entrei em sua vida como inimiga, a sobrinha de uma mulher que ele acusava de dar o golpe do baú em seu pai e que, agora eu sabia, tentara seduzi-lo. Eu significava o inimigo para ele, fechando o trio de interesseiros com minha tia e com Benício. E agora, quando nos reencontrávamos, o que nos ligava era novamente o dinheiro. Fomos unidos pelo maldito dinheiro.

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