Capítulo 6 - Ela deu encima Do Simon

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AMBAR

Na sexta feira eu me sentia cansada e dolorida. Nunca fizera tanto sexo em uma só noite, intercalando cochilos com momentos arrebatadores nos braços de Simón. Jonas me deixara em casa às seis da manhã.

Simón se despedira frio, dizendo apenas que manteria contato. Assim, não sabia se ele ia querer me ver naquela sexta feira ou não.

Gilda cuidou de Benício, sem ter muito que fazer além de virá-lo de vez em quando, mantê-lo limpo e observar o soro. Aproveitei a presença dela para dar um banho melhor nele, sobre a cama, conseguindo até segurar a sua cabeça na beira e lavar seus cabelos. Fiz uma sopa bem rala e forte, com vários legumes, e eu mesma quis alimentá-lo pelo dreno em sua garganta. A sopa ia direto para o estômago.

Embora Gilda fosse experiente e garantisse que não precisava de mim, toda hora eu vinha ao quarto conferir o soro e perguntar se ele estava com a fralda limpa ou com a posição trocada.

A enfermeira matava o resto do tempo lendo romances, fazendo tricô e batendo o maior papo com Sophie, que adorava conversar e vinha fazer companhia a ela a todo o momento. As duas se deram muito bem.

Eu havia conseguido algumas encomendas de vizinhos para passar roupa e não podia dispensar dinheiro. Não sabia se precisaria ter mais gastos dali para frente e precisava guardar o máximo que eu pudesse. Os cinco mil que Simón me daria dali a um mês não durariam para sempre.

A sala ficou cheia de mudas de roupa e eu fiquei passando-as, mergulhada em pensamentos e lembranças do passado e atuais. Minha vida parecia uma novela, que eu rebobinava e adiantava em minha mente, sem ordem e em uma perfeita cacofonia. Meus pais, minha tia Lúcia, Benício, Simón, Carlos Alberto, o pai dele que se casara com minha tia; Sophie, em diferentes fases de sua vida; Todos eles iam e vinham em lembranças diversas durante aqueles meus vinte e oito anos de existência.

Sentia-me velha, como se já tivesse vivido muita coisa, uma eternidade. Colegas de trabalho e da faculdade também surgiam e às vezes eu sorria sozinha, lembrando de um tempo em que eu só me preocupava em estudar, ter uma boa profissão, ter um filho com Benício e ser feliz. As coisas não saíram exatamente como eu queria, mas eu não podia reclamar. Eu tinha Sophie. Se Benício não estivesse doente, o resto não teria importância.

Indaguei-me se Benício, naquele estado de semicoma teria lembranças ou consciência do que estava acontecendo. Os médicos haviam dito que não. Mas eu sofria com medo de que ele sentisse dor, desespero e estivesse consciente de que estava preso dentro de um corpo acabado, imóvel e praticamente sem vida.

Angustiada, desliguei o ferro de passar roupa e fui até o nosso quarto. Fazia um dia bonito e a janela estava aberta, deixando entrar a claridade e o ar fresco. Benício estava bem cuidado sobre a cama e tudo brilhava, muito limpo. Sentada em uma cadeira, Gilda usava seu uniforme branco impecável e fazia tricô, enquanto Sophie estava sobre uma almofada no chão, brincando com duas bonecas e falando sem parar.

-  Mãe! A tia Gilda está fazendo um vestido pra Lili e pra Lulu! – Mostrou-me as duas bonecas, feliz da vida.

-   Sophie, por que não deixa a Gilda quieta e vai brincar um pouco lá na sala?

-   Deixe a menina aqui. – Gilda sorriu, com as bochechas gordinhas bem coradas. – Ela é uma graça e está me fazendo companhia, não é, Soph?

-     É. – Sophie respondeu, satisfeita.

Sorri para ela. Era um doce de menina. Depois olhei para Benício. Sophie crescera vendo o pai na cama e não estranhava muito o fato. A princípio eu não queria que ela ficasse muito ali, com medo que fosse afetada psicologicamente. Mas não tive coragem de impedi-la, pois teríamos pouco tempo com Benício.

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