Capítulo 12 - Aproveitar o Momento

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AMBAR


Era estranho ver o quarto vazio daquele jeito. No dia anterior, Luna me ajudara a retirar tudo que pertencera a Benício e depois eu limpara toda a casa. Agora, na terça feira de manhã, eu saía do quarto em que havíamos ocupado por anos. Eu ainda não conseguia dormir ali sozinha e o deixava fechado por enquanto. Sentia-me mais calma e controlada, mas a tristeza permanecia.

Na sala, Sophie brincava e via desenho. Fui para a cozinha, onde fazia comida e pensava como começar a procurar emprego. Luna já se oferecera para cuidar de Sophie, o que era uma preocupação a menos.

Logo Luna chegou e ficamos conversando em volta da mesa da cozinha, enquanto eu catava feijão.

-Simón telefonou? - Perguntou a senhora, em determinado momento. Olhei-a de relance.

-No domingo à noite.

-Vocês vão se ver ainda?

- Acho que sim. Nosso acordo ainda não acabou. - Incomodada, parei o que fazia e encarei-a. - Sabe, Luna, meu dinheiro está acabando e eu preciso esticá-lo pelo menos até eu arranjar algum trabalho e receber o primeiro salário. Mas mesmo assim não sinto vontade de pegar os cinco mil que Simón vai me pagar. Antes o dinheiro serviu para nos livrar de sérios problemas.

-Mas você vai precisar do dinheiro, Àmbar. Precisa pagar aluguel, as contas de casa, pôr comida na mesa. E, mesmo que arrumasse um emprego hoje, teria que esperar pelo menos um mês para receber.

- Eu sei. É que me sinto tão mal, como uma mercenária.

-Vocês têm um acordo. Se Simón a liberar do que você deve a ele, abra mão do dinheiro. Mas se ele exigir o pagamento, você deve fazer o mesmo.

- Nunca pensei que um dia eu iria me prostituir. Às vezes penso que agora Benício pode ver o que eu faço e vai saber que eu dormi com Simón enquanto ele estava doente e morrendo. - Sem controle, meus olhos encheram-se de lágrimas. - Ele vai saber quem eu sou.

- Sim. Vai saber que você é forte e que fez o que foi preciso para dar o melhor para sua família. - Luna acariciou minha mão sobre a mesa. - Escute, eu conheço você há anos, Àmbar. Sei que não é prostituta. Assim como sei que o que aconteceu entre você e Simón não foi só um acordo que envolvia sexo e dinheiro. Olhando para vocês, deu para perceber que há algo mais os ligando. Vocês tinham um passado em comum e já se desejavam.

- Isso não muda nada, Luna. - Sequei os olhos com as pontas dos dedos.

- Claro que muda. Aquele seu último patrão ofereceu muitas vantagens para que você dormisse com ele e você recusou.

- Naquela época o agiota não estava me ameaçando. Se fosse o caso, talvez eu dormisse com ele.

- Faria mesmo isso?

Olhei-a. Não. Só de pensar naquele homem eu sentia asco. Ele era rico e bonito, mas não era Simón.

- Sabe o que eu acho, Àmbar? Que no fundo, você e Simón queriam se tornar amantes desde dez anos atrás. Inventaram desculpas. Ele fingiu comprar e você fingiu vender. Mas o que queriam mesmo era ficar juntos.

- Que loucura! Você viu como eu estava desesperada pelo dinheiro!

- Mas acho que recusaria a proposta de qualquer outro homem. Fugiria, daria um outro jeito. Aceitou porque no fundo você o desejava, estava sozinha, carente, cansada de lutar.

Balancei a cabeça negativamente, mas pensei sobre o que ela falou. Só de me imaginar com outro homem eu tinha vontade de vomitar. Mas não com Simón. Mesmo com raiva, eu o desejava. Nunca fora horrível ficar com ele. Mesmo quando foi violento, eu continuei a desejá-lo.

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