OUTRO CASO

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       Cipriano desejou o amor de uma menina de nome Adelaide. Foi pedi-la a seus pais, mas em vão, porque estes não deram con​sentimento.       Desesperado com a negativa dos pais da jovem, irou-se de tal maneira contra eles que mandou o seu diabinho, que trazia sempre na algibeira,destruir sem mais perda de tempo as casas e todos os bens dos pais de Adelaide. As suas ordens foram de imediato executadas.       Logo que Adelaide viu os seus haveres destruídos, dirigiu-se a Cipriano e invectivou:       —  Homem, que mal te fez meu pai para que procedesses para com ele com tanta maldade? Cipriano respondeu:       —  Não vês, Adelaide, que te amo tanto que nada vejo, senão o lugar onde moras? Disse então Adelaide:       —  Se for verdade o que me dizes, faze de conta que de hoje em diante sou tua escrava, mas não tua mulher, pois não sou digna de ser desposadapor ti.       —  Por que razão — respondeu Cipriano — por que razão tu dizes que não és digna de ser minha esposa?       Esclareceu Adelaide:       — Sendo tu um santo, como vou ser tua mulher, se sou a maior pecadora do mundo?       Voltando-se para Adelaide, Cipriano respondeu:       —  Menina, pois se tu adoras tanto a Deus, e ainda assim dizes que és a maior pecadora do mundo, que Deus vingativo tu admiras?       Ouvindo estas palavras, Adelaide ficou como pasmada e duvi​dando do que tinha ouvido, disse consigo mesma:       "Que Deus será o que adora este homem? Porventura haverá outro Deus, sem ser o meu? Não é possível!"       Tomou coragem e disse a Cipriano:       —  Homem, obrigo-te da parte de Deus, a quem adoro, que me digas que Deus estranho é esse, que tu adoras e que te obriga a renegar o meu!       —  O Deus que adoro é Lúcifer dos infernos! Ouvindo isto, Adelaide benzeu-se três vezes e falou:       —  Esconjuro-te e obrigo-te da parte de Deus, a quem adoro, a que me restituas os meus haveres, tal e qual eles estavam. Obrigado pela força deDeus Onipotente, Cipriano restituiu os bens aos pais de Adelaide e no fim de tudo isso retirou-se sem gozar o amor de Adelaide.       Lúcifer aparecendo falou neste tom a Cipriano:       —   Meu amigo Cipriano, não estejas sempre a incomodar-me. Já te ensinei todos os feitiços e toda a arte mágica. Já tens todo o poder que eutenho, porém, como teu amigo, que sempre fui, sou e serei, vou dar-te um conselho para gozares o amor de Adelaide.       —   Tu, meu amigo, a quem amo de todo o coração, corpo e alma, dize o que tenho de fazer neste caso.       —   Pega na tua garrafa mágica, mete a tua fava na boca e torna-te invisível. Agora mesmo vai à casa de Adelaide. Logo que chegares lá, deitaum pouco de azeite da tua garrafa em uma das luzes que vires. Tanto Adelaide como seus pais se assustarão e tu, Cipriano, aproveita essa ocasião paragozar o amor de Adelaide.       Decorrido cinco minutos, Cipriano já tinha feito amor com Adelaide; estavam satisfeitos seus lúbricos desejos.

São Cipriano O Legítimo Capa PretaOnde histórias criam vida. Descubra agora