Capítulo 13

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Eu estava deitada de lado em uma grande cama de casal, com um edredom grosso e negro, macio como se tivesse acabado de sair da lavanderia e colocado em cima da cama. Apoiava minha cabeça em um travesseiro e brincava tranquilamente com uma pequena bola de fogo feita por mim. A apagava. A acendia novamente. A apagava. A acendia novamente. Em alguns momentos deixava-a maior, outras vezes menor, alternava suas cores entre vermelho escuro e preto, enfim, era apenas uma distração que deixava claro que eu não tinha nada melhor para fazer naquele momento.

Minha calça jeans preta combinava perfeitamente com a bata que eu vestia, também preta, e não cobriam a beleza de minhas botas de salto alto que repousavam no pé da cama. Eu estava com um grande rabo de cavalo amarrado de maneira simples do topo da minha cabeça e os fios lisos desciam pelo meu pescoço.

Alguém me tocou o ombro e olhei para saber quem era. Ao ver minha mãe sentando em um canto da cama ao meu lado, sorri e continuei brincando com a bola de fogo, que agora estava grande e preta. Ela usava um vestido preto feito de uma malha grossa e pesada, com mangas compridas que ultrapassavam os punhos alguns centímetros, cobrindo metade das mãos. Não pude ver seus pés por conta de estar longe do meu alcance de visão, mas imaginei que fossem botas ou algo semelhante, como ela gostava e lhe caía muito bem. Encarei-a por um instante, tempo suficiente para admirar o delineador preto em seus olhos combinarem com o carregado rímel em seus cílios e com o batom vinho extra forte em seus lábios. Linda. Linda e radiante com aqueles olhos castanhosescuros hipnotizantes e um rabo de cavalo bem alto (parecido com o meu, mas ainda mais bem feito e mais belo) que deixava seu cabelo cair pelo lado direito de seu rosto.

Ela levou uma das mãos até minha cabeça e começou a acariciar meus cabelos, como uma mãe carinhosa e preocupada. Aconchegou-se ainda mais perto de mim, o que me fez também chegar mais perto dela, aqueles toques eram muito gostosos, minha mãe era incondicionalmente amorosa comigo e o sentimento era inteiramente recíproco. Ela baixou os olhos para mim e confessou:

- Sabe, Aileen... eu sempre tive medo de que você não se tornasse a pessoa que eu tanto queria. Tive tanto medo... tive tanto medo de que você cedesse... mas você nunca cedeu. Querida, você nunca cedeu e isso, além de muito orgulhosa, me deixa tão feliz, tão feliz. – eu ainda brincava com a bola de fogo, agora vermelho escuro, enquanto sorria em resposta as palavras dela. – Você é má, Aileen. Má como eu. Má como sua mãe. E não seremos derrotadas por aqueles que acreditam ingenuamente que magia boa é o caminho certo, que um dia mudaremos de lado e os ajudaremos com as estúpidas questões de suas estúpidas vidinhas sem sentido moldadas pelo... amor verdadeiro.

Eu sorri, concordando. Eu sentia que ela não poderia estar mais certa. Amor era um sentimento para os fracos, aqueles que não conheciam o que era poder e não saberiam o que fazer com ele se conhecessem.

Na frente do pé da cama alguém mal respirava, assustada e apertada, aflita dentro de uma pequena gaiola. Escutava nossa conversa tremendo e tentando, sem sucesso, cada vez mais espremer as costas contra as grades de trás da gaiola. Era Branca de Neve. Mirei meu olhar nela e aumentei a bola de fogo deixando-a do jeito que eu queria, bem a tempo de escutar minha mãe sussurrar:

- Tive medo de que te arrancassem de mim.

- Isso não vai acontecer. – eu respondi sinceramente, atirando a bola de fogo dentro da gaiola.

****

A passos curtos e calmos minha mãe se aproximou de mim. Regina Mills bem na minha frente. Usava um vestido de cor vinho longo cheio de brilhantes, mas que não chegava nem perto da beleza do seu sorriso. Seus cabelos estavam compridos e caíam pelas costas do vestido, ondulados. Ela veio até mim sorrindo, sozinha, ninguém estava com ela. Estendeu-me uma das mãos, convidando-me a colocar a minha em cima da dela, delicadamente. Seus olhos eram muito mais bonitos olhando de perto, olho no olho. Eu podia ver que Alma sempre estivera certa ao dizer que eu tinha os olhos dela.

Blanck - Uma lembrança de amor em meio às trevasOnde histórias criam vida. Descubra agora