Ficamos juntas conversamos e pelo menos tentando nos atualizar das coisas durante mais de quatro horas. Não era algo muito fácil atualizar alguém de uma vida de quase cinco décadas, mas ela insistiu que eu contasse tudo desde quando me lembrasse e parecia encantada com cada palavra minha. Aquele momento foi tão esperado por mim que eu nem sabia direito com agir, apesar de ter praticamente treinado muito para saber o que fazer e o que dizer (e obviamente não funcionou).
Já estava escurecendo quando Ruby apareceu na nossa frente muito ofegante. Pelo seu estado ficou claro que ela veio correndo, mas estávamos tão entretidas em nossa conversa que não percebemos sua presença até ela estar bem na nossa cara e fazer barulho:
- Hey... Regina... Blanck...
Ela tentava não gaguejar, mas estava tão exausta que não tinha quase fôlego para formular uma frase completa sem interrupções. Como se eu fosse limpar levemente alguma sujeira que estava em sua roupa, eu assoprei fracamente na direção do rosto dela e imediatamente seu cansaço sumiu, dando lugar a sua tranquilidade. Minha mãe perdeu a fala, tamanha foi sua surpresa com o que eu acabara de fazer e arregalou os olhos para mim (isso quem me contou foi Ruby, porque eu nem reparei):
- Como você fez isso? – minha mãe perguntou, boquiaberta.
- Fez o quê? – eu juro que não entendi a pergunta, não fazia a menor ideia que ela se referia a eu ter acabado com o cansaço de Ruby com um simples sopro.
- Nada. Deixa pra lá. – ela respondeu, esforçando-se para parecer que não se importava, e nos voltamos para Ruby.
- Temos um pequeno problema.
Ruby disse aquilo com certo receio e entortou a boca, me levando a crer que na verdade ela tinha feito alguma besteira. Eu sorri, encorajando-a a falar o que diabos ela tinha feito, mas eu com certeza não esperava pelo que vinha, o que tornou o fato ainda muito mais engraçado do que na verdade já era:
- Lembra... – ela começou, com dificuldade de nos contar qual era o problema – Lembra quando treinamos essa manhã na floresta na frente da sua cabana para que eu aprimorasse meus poderes?
- Sim...
- Bom, lembra das pequenas bolas de cócegas que você lançava em mim para testar a minha capacidade de criar um campo de força protetor e a força dele?
- Sim... – respondi novamente, ansiosa pelo que viria.
- Você... você a treinou com bolas de cócegas? – Regina me olhou, abismada.
- Foi. Por quê? Tem alguma coisa errada? – eu estava começando a ficar confusa e bastante curiosa com as perguntas dela.
- Não. É só que... esquece, não é nada. – ela olhou para baixo, parecendo sem graça.
- Não! Me fala! O que tem de errado? – eu quis saber.
- Não tem nada errado. – ela continuava sem graça – Eu costumava treinar com Rumpelstiltskin me arremessando bolas de fogo e você... você treina com bolas de cócegas. Blanck, você não tem coragem de machucar ninguém nem ao menos em um treino de mágica. E você pensou mesmo que eu fosse me decepcionar com você? Eu não acredito que realmente passou pela sua cabeça que eu poderia não ter orgulho de você.
Eu fiquei mais uma vez sem palavras. Um dia de surpresas, era o que aquilo era sem sombra de dúvidas. Um dia de surpresas e revelações que estavam me deixando cada vez mais feliz. Estávamos nos encarando e eu ainda sem saber o que dizer quando Ruby acenou com a mão, praticamente nos acordando do transe:
- Oi? Nosso problema? Lembram de mim? – assim que conseguiu nossa atenção e nossas desculpas ela prosseguiu, retornando ao seu estado de apreensão – Então, voltando... bom, Henry queria praticar também então eu sugeri esse treinamento com as bolas de cócegas e... – ela parou de falar de repente.
- Ah meu Deus. – eu entendi onde ela queria chegar e comecei a rir, quase gargalhar, enquanto uma Ruby angustiada pulava no lugar e minha mãe tentava compreender o que poderia estar acontecendo.
- O que aconteceu? – minha mãe perguntou, sem sucesso com qualquer conclusão.
- Deixe-me adivinha: você atirou as bolinhas de cócegas nele e... primeiro, ele não conseguiu abrir um campo de força tão rapidamente e... segundo, você estar aqui surtando desse jeito só pode significar uma coisa: todas as pequenas bolas o atingiram e quando você tentou fazer algo a respeito, além de não conseguir retirá-las de Henry, mais e mais começaram a sair e ir para cima dele. – ela acenava lentamente com a cabeça com um semblante de quem estava prestes a ser repreendida a qualquer segundo e Regina permanecia de boca aberta, chocada, ao meu lado, enquanto eu tentava não rir – E é claro que nesse momento ele está deitado no chão em algum lugar rindo igual a um desesperado com muitas bolinhas em cima dele e... querendo te matar.
Nos mantínhamos em uma posição paralisadas: Ruby não parava de acenar positivamente com a cabeça, minha mãe não conseguia fechar a boca, tamanha era a sua surpresa, e eu queria muito rir e em dado momento não aguentei e gargalhei. Levantei e começamos a seguir Ruby até onde Henry estava, caminhando com rapidez.
- Apropósito, você ensinou para ele como lançar as bolinhas ou apenas a se defender delas? - perguntei.
- Ensinei a lançá-las também. – ela disse.
- Então se prepare para correr, porque conhecendo ele como você e eu conhecemos, ele tem duas opções: opção um, ele te mata. Opção dois, ele vai jogar todas as bolas em cima de você.
- Eu sei. – respondeu ela – Mas eu tenho meu campo de força para me proteger.
Assim que disse isso, Ruby abriu um grande campo de força protetor para demonstrar que estava preparada para Henry. Mas ela com certeza não estava preparada para mim:
- Ah não vai, não. – eu respondi em relação a seu campo de força e, assim que estalei os dedos, o escudo protetor desapareceu, deixando claro para Ruby que eu o havia roubado dela.
- Ah meu Deus... Blanck, não... – ela começou, mas eu já estava correndo na frente dela.
- Como eu disse: se prepare para correr!
Deixamos minha mãe um pouco para trás, rindo também, mas logo ela apertou o passo, pois achou que seria extremamente interessante e engraçado assistir Henry correndo atrás de Ruby usando mágica.
*****
E essa é a história de como minha mãe se lembrou de mim. Hoje as coisas estão ótimas entre nós, além de nos darmos muito bem, cuidamos uma da outra da maneira que eu sempre imaginei que seria. É claro que tivemos alguns problemas entre aquela época e a atual com pessoas nos atacando, tentando nos destruir e assassinar nossa família, que não era pequena (e só aumentou com o tempo), porem nos viramos bem, mas essa é outra história. Tivemos também algumas dores de cabeça referentes a minha querida e amada tia, Zelena, principalmente no início, pois ninguém sabia muito bem o que fazer com ela e ela ainda era má. Mas esta também... é outra história.
Apropósito, a primeira coisa que eu disse quando comecei a contar esta história foi o meu nome, mas acho melhor reforçar levando em consideração que eu só disse parte dele. Meu nome completo é Aileen Blanck de Locksley Mills. Mas você pode me chamar de Blanck Mills, o impacto é muito melhor.
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Blanck - Uma lembrança de amor em meio às trevas
FanficEscrevi este livro como parte da terceira temporada de OUAT. E se Emma não é a única Salvadora? E se quem gerou a primeira Salvadora foi Regina? E se o amor verdadeiro veio antes de Branca de Neve (Snow White) e do Príncipe Encantado (Charming) ? Há...