Capítulo 17

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Ao entrar no hospital já fui reconhecida com uma rapidez impressionante. Alguns fugiam, outros gritavam, outros paralisavam, mas apenas Emma e minha mãe vieram para cima de mim, tentando me intimidar e um segundo depois me atacar. A felicidade de ainda estar com meus poderes explodiu dentro de mim. Ainda bem que vieram contra mim, isso me possibilitou afastá-las ativando um feitiço de defesa, pois obviamente eu não teria como atacá-las. Eu simplesmente fiz um movimento com ambas as mãos como se estivesse abrindo caminho e as duas foram lançadas uma para cada lado do corredor. Foi uma cena de cinema e com certeza se minha mãe estivesse em pleno controle de seus poderes, ela não conseguiria me ferir, mas meu feitiço para afastá-las teria sido rebatido com facilidade. E mais uma vez um delicado pedacinho de felicidade em meio a tudo aquilo me atingiu simplesmente por meu feitiço ter funcionado.

Ruby estava sempre ao meu lado, apenas dois ou três centímetros atrás por pura precaução, afinal, a única coisa que nos faltava era eu acertá-la com algum feitiço que saísse não tão bem direcionado. Nem eu nem ela acreditávamos que isso aconteceria, mas era melhor prevenir do que remediar, certo? Ruby vinha caminhando tranquilamente, em forma humana, com semblante sério e agressivo arrancando gemidos assombrados das pessoas e alguns pedidos de que ela parasse ali mesmo e ficasse com eles ao invés de continuar comigo. Sua avó tentara se aproximar dela, mas eu já sabia que isso aconteceria e a empurrei com toda sutileza que me era possível para longe de Ruby. Não poderia ser muito ignorante, mas pegar em sua mão sentando-a numa cadeira estragaria nossos disfarces e talvez nossos planos.

Mary Margaret estava sentada em uma cadeira ao lado de Henry dentro do quarto de vidro e prendeu a respiração quando nos viu chegando. Quando perceberam que era Henry que eu queria, minha mãe e Emma correram desesperadas em direção ao quarto, mas já era tarde demais. Eu e Ruby passamos através do vidro como se fosse apenas um portal transparente e não uma parede sólida. Fácil demais para mim, eu diria. Já tinha praticado aquele feitiço mais de mil vezes nos últimos quarenta anos, antes e durante a maldição.

Ao entrar no quarto onde Henry estava deitado fiz um sinal para onde minha mãe e Emma estavam quase chegando, um sinal como se pedisse que parassem onde estavam, mas não era um pedido, era uma ordem. Meu feitiço as segurou exatamente onde estavam, como se prendesse seus pés no chão. O desespero tomou conta delas quando eu transportei Mary Margaret de dentro do quarto para a sala de espera, sentada em uma cadeira logo ao lado delas e comecei a estender um feitiço que obviamente manteria qualquer pessoa que não fosse eu ou Ruby fora do pequeno recinto.

Eu já tinha utilizado tanto esse feitiço, treinando proteção ao meu redor, ao redor de objetos, ao redor de poções e até em alguns animais durantes os anos, que o feitiço adquirira a textura de uma fumaça branca, que era minha marca. Enquanto aquela fumaça saía das minhas mãos, protegendo a sala pelo lado de dentro contra quaisquer invasores ou feitiços que tocassem a minha barreira, Emma e Regina esmurravam o vidro com uma força absurdamente violenta, mas naquele momento não adiantava mais, pois a parede que antes poderia ser facilmente quebrada agora tinha a intensidade de uma muralha, nada passaria por ela sem a minha permissão. Bom, pelo menos até eu transferir meus poderes para Henry. Depois disso, se Ruby não conseguisse me proteger eu seria literalmente surrada por Emma e, se não usasse mágica, também por minha própria mãe.

Ignorei os gritos do lado de fora e olhei Henry deitado naquela cama. Ele era a última pessoa que merecia estar passando por tudo aquilo. Se alguém deveria ser poupado disso, esse alguém era Henry. Pela expressão no rosto de Ruby ela pensava exatamente o mesmo. Olhei-a nos olhos com um brilho maligno no olhar para que ela se lembrasse que ali eu estava interpretando uma bruxa má que ela estava ajudando, portanto deveria fazer o mesmo. Ela logo se lembrou e, sem ninguém perceber nosso pequeno deslize, retornamos às expressões de desprezo e maleficência.

Blanck - Uma lembrança de amor em meio às trevasOnde histórias criam vida. Descubra agora