"As memórias de um demônio"

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X Capítulo 11 X

Frio. Tudo estava completamente frio. O sangue já estava seco em sua pele, causando uma pequena coberta que definitivamente não o protegia desse vento gelado. Esse era o seu castigo por ter desobedecido uma ordem do seu pai. Ficaria na rua por sabe-se lá quanto tempo, alimentando-se de restos e adormecendo com os ratos.

Por que nunca conseguia aprender? Ele era o alfa da casa. O homem que mandava em todos. Então por que ainda ousava desobedecer suas ordens? Seu instinto simplesmente lhe dizia que deveria proteger aquela que o protegia quando bebê. Achava injusto a forma que seu pai agarrava sua mãe e a forçava a fazer tudo que quisesse.

Tomura odiava ver sua progenitora chorar.

Por isso peitava o patriarca. Por isso cuidava de Nana quando aquele monstro a deixava ferida no solo. Porque a amava e não queria vê-la chorar a causa de erros simples, mas que eram amplificados por Muscular. Um dia, quando fosse grande o suficiente, fugiria com a beta e a levaria para o lugar mais lindo que pudesse imaginar.

Ou pelo menos custava sonhar. Estava à beira da morte numa estrada desolada e que provavelmente habitava mendigos que não tiveram sorte na vida igual a Tomura. Não queria morrer. Não queria deixar Nana à disposição de uma aberração. Então o pequeno resistia firmemente a essa tontura e esse enjoou, pois não podia vomitar o líquido presente em seu estômago.

Foi quando seus olhos estavam prestes a se fechar que ele escutou uma voz. Tímida, baixa e doce. Indagava se Shigaraki estava vivo e se conseguia se mexer. Ele limitou-se a piscar vagarosamente, dando sinal de que estava consciente. A visão de Tomura estava turva, portanto não sabia diferenciar quantas pessoas haviam ali e quem era esse que o tratava com tanta delicadeza.

— Está tudo bem agora. Não precisa sentir medo. — escutou, sentindo como era tirado do solo. — Eu estou aqui, junto com a minha família. Vamos ajudar você, tudo bem?

Ajuda? Ele não precisava de ajuda. Quem precisava era Nana. Essas pessoas tinham que ajudá-la a escapar. Todavia não lhe era permitido dizer a alguém o que passava dentro do seu próprio lar. Caso contrário seria morto cruelmente e entregue aos animais selvagens que habitavam o bosque que morava.

Mas devia admitir que sentiu confiança em relação a essa pessoa de voz doce.

— Me chamo Izuku Midoriya! — exclamou, feliz. — Qual o seu nome?

Tomura o ignorou. Não entendia o porquê desse ômega chato viver o importunando. Só porque o salvou naquele dia não quer dizer que ambos seriam amigos. Foi apenas o senso comum atuando. Qualquer um ajudaria uma criança moribunda na beira da estrada. Então por que ele não entendia e seguia insistindo?

— Eu já sei o seu nome. — revirou os olhos. — Por que continua repetindo?

— Porque você ainda não disse o seu. — falou, em um tom zombeteiro. — E vou continuar repetindo até você dizer.

— Tomura Shigaraki. — respondeu de imediato. Não aguentaria escutar o nome dele mais uma vez. — Você não tem escola? Por que está aqui?

— Levei um atestado médico para a escola alegando ter danos emocionais após ver outra criança em uma condição angustiante. — deu de ombros. O alfa ficou levemente intrigado com a informação. — Obviamente é uma mentira. Mas é uma boa desculpa para te visitar!

O de cabelo acizentado o analisou inteiramente. Essa áurea amável e espontânea o fazia lembrar de Nana. Shigaraki colocou na cabeça que havia ganhado certo apego com Izuku por causa da sua personalidade similar ao de sua mãe. Isso, só podia ser esse o motivo.

Complexo de Édipo [ KatsuDeku ]Onde histórias criam vida. Descubra agora