A Chama da Paixão

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Dias se passaram sem que nenhum tivesse visto o outro, tudo estava normal, calmo, e Milu se sentia à vontade nessa vida branda que havia escolhido para si mesma, por mais que sonhasse em se apaixonar um dia, ela não queria alguém que a tirasse dessa vida, pois só os problemas de guardiã já eram suficientes. Ela decidiu sair da loja para respirar um pouco, quem sabe não ia falar com Ondina para colocar o papo em dia, ela queria se distrair e era exatamente o que ia fazer.

Na igreja as orações em dias de quinta eram prolongadas, mas Jurandir gostava delas porque acreditava que a salvação vinha de todo o tempo que alguém poderia dedicar a Deus, e nos últimos tempos ele se dedicava ainda mais, pois o cheiro do talvez maior pecado de sua vida não ia embora, então acreditava que não estava rezando o bastante para que a tentação passasse.

Horas mais tarde, depois da missa, Jurandir saia pela porta da igreja quando Mirtes chama por ele:

- Seu Jurandir espere, queria te perguntar algo...

- Pode perguntar- respondeu ele

- Outro dia enquanto falava com a primeira dama sobre como ela rejuvenesceu mesmo depois que a vi como um zumbi, foi insinuado que o senhor estava um pouco interessado demais na feiticeira de fundo de quintal...

- Não entendi onde a senhora quer chegar com essa conversa- disse ele no ato.

- Quero dizer que o senhor sempre foi um membro muito importante para nossa comunidade e não gostaria de perdê-lo para o pecado- ela ainda não havia terminado quando ele falou novamente:

- Senhora Mirtes meu dever com a igreja para mim é sagrado, não precisa dessas preocupações exageradas, ainda mais por conta de comentários sem fundamentos- agora era a vez dela em interromper:

- Estou falando tudo isso porque me peguei lembrando que não importa a situação o senhor sempre coloca a bruxinha no meio do assunto...- ele não queria mais ouvi-la.

- Senhora Mirtes, estou com a consciência tranquila, se falo na bruxa é porque quero alertar a todos sobre o perigo real que ela oferece, e somente isso, passar bem! - ele terminou e deu as costas para aquela que sempre foi sua aliada nas celebrações religiosas, mas ele não podia ficar lá ouvindo aqueles absurdos que ela dizia a seu respeito, e com isso ele nem percebe que está andando na direção contrária de sua casa.

Milu havia passado a tarde na companhia com a amiga Ondina mesmo, que lhe contava cada história que havia passado na vida para ser quem é, isso fazia Milu rir, mas já era hora de ir embora, quando está na porta de casa sente os pingos de chuva atingirem seu corpo, refrescando o calor dos últimos tempos, ela fica parada na porta deixando os primeiros pingos da chuva lhe trazerem boas vibrações como acreditava, e foi nesse momento que percebeu estar sendo vigiada, no começo demorou para identificar a figura do outro lado da rua, mas não foi preciso muito esforço para reconhecer aquele homem vestido sempre de roupa social preta:

- O que o senhor faz parado aí? Pode se resfriar. - ela grita para que ele escutasse de onde estava.

- A senhora também está na chuva, não deveria estar aqui.

- Estou na frente da minha casa se não percebeu...- ela disse até o momento que o raio atinge a caixa de energia e deixa tudo no escuro da noite.

- Venha para dentro seu Jurandir, está chovendo muito agora, e é perigoso até mesmo para o senhor ir embora nessa escuridão.- ele não responde nada, somente anda até a casa que agora está com a porta aberta, ela só esperou que ele passasse para fechar a porta novamente.

Com o fechamento da porta, a casa fica totalmente às escuras, Milu começa acender velas e Jurandir já começa a falar:

- Isso é a invocação do mal, não fico aqui nem mais um segundo.

MILUDIROnde histórias criam vida. Descubra agora