Capítulo 9

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- Chegamos. - Christopher anunciou.

Naquele momento, Felicia já estava vestida e Michael se encontrava longe dali. Ele desejava estar sem a venda para poder observar a amada mesmo que disfarçadamente pelo retrovisor do carro. O menino sentiu uma movimentação e ouviu uma porta se abrindo.

- Você não pode estar falando sério.

- Sobre? - Felicia perguntou.

- Traze-lo para cá.

- Você que fez a merda toda, não vai me dizer que está com medo agora?

- Eu só tentei te ajudar, não podia pensar que ele iria te procurar. - ele confessou, abrindo a sua porta - Vamos de uma vez, então.

- Fe! - Michael exclamou, rezando para ela ainda estar no carro - Me diz se você está aqui ainda.

- Estou. - a menina lhe tirou a venda.

- Não briga com o Christopher. Ele só foi me alertar do completo idiota que eu estava me tornando e...

O rapaz parou de falar. No momento em que sua visão voltou a focar bem as coisas a sua volta, as íris escuras da jovem foram a única coisa que viu. Elas estavam próximas, envolventes, e a cada segundo que passava a vontade de beija-la aumentava gradativamente.

- E... - Felicia repetiu, sabendo como ele estava se deixando dominar pelo desejo.

- E que você não merece sofrer por mim.

Ela permaneceu ali, parada, ainda encarando-o profundamente. A moça queria achar ali algum sentimento que tornasse aquele momento fácil de esquecer, mas encontrou apenas vários motivos para não tira-lo da cabeça. Piscou o olho algumas vezes para tentar desgruda-lo dali e, sem mais delongas, saiu do carro.

O rapaz saiu logo depois, seguindo os dois agentes por um corredor escuro que dava em um elevador. O silencio foi sufocado pelas vozes que vieram quando a porta se abriu e os três sairam, já dentro do lugar onde trabalhavam. Os dois o acompanharam até a mesa de Felicia, onde mandaram-no ficar enquanto falavam com o agente Flirman.

Era uma mesa normal, como qualquer outra, com um computador, alguns papeis, um lugar para ela deixar a bolsa, um porta retrato com a foto dos pais dela e do irmão e um envelope lilás com seu nome escrito em branco com a letra da Regina. Foi a única coisa ali que chamou a atenção do menino, que não pensou duas vezes antes de ver seu conteúdo.

O que encontrou ali o fez parar por um tempo. Era uma foto dos dois, em alguma festa depois de um show do garoto. Michael a abraçava pela cintura e Felicia olhava-o com um sorriso enorme no rosto. Seu vestido preto, rodado, estava ainda mais curto por causa do jeito que o menino a segurava.

A foto era linda e o rapaz pode ouvir até a risada que a moça dera antes dela ser tirada e a briga que se sucedeu após aquele momento. Tudo por causa de um outro fotógrafo que perguntou o nome do mais novo romance de Michael Turner, fazendo Felicia se sentir extremamente traída.

- Senhor Turner? - uma voz soou atras dele, que logo guardou a foto no envelope e o devolveu para cima da mesa.

- Sim.

- O agente Flirman está chamando o senhor na sala dele. - o rapaz se levantou - Queira me acompanhar.

Ao chegar no seu destino, Felicia e Christopher estavam sentados em frente a mesa do agente. Lhe foi indicada a última cadeira para que se sentasse e foi o que fez. Aquele lugar estava deixando-o com um certo receio.

- Bom, eu só queria deixar claro aos três que eu já estava ciente que o senhor Turner estava com vocês antes de chegarem aqui.

- Como?

- Seu segurança é mais eficiente do que qualquer rastreador. - o menino engoliu em seco - Você não conseguiu despista-lo e quando chegou na casa da agente Foster, ele veio me contar o que estava acontecendo.

- Eu não tinha outra escolha. - Felicia se pronunciou - Era mais seguro para ele estar com a gente.

- Foi errado de qualquer jeito. - seu olhar era sério e a agente respirou fundo, completamente nervosa - Eu não vou fazer nada com vocês, tira-los do caso agora seria terrível.

- O que faremos agora, então?

- Vocês vão espera-lo acordar e interroga-lo, estão dispensados. - assim que Michael fez menção de levantar, o agente Flirman fez um sinal para que parasse - O senhor fica, ainda temos que conversar.

O rapaz se acomodou novamente em sua cadeira e, involuntariamente, olhou na direção da porta, encarando a menina por poucos segundos até a mesma fechar a porta. Ele voltou a olhar o homem na sua frente que não sustentava mais uma expressão tão autoritária.

- Nós precisamos conversar de homem para ho‐ mem. - Michael franziu o cenho, ainda encarando-o - Entenda, a Felicia te ama de verdade e por esse sentimento ser tão forte que ela tomou a decisão de se afastar de você.

- Não é me afastando dela que eu vou parar de ama-la. - falou antes que ele pudesse continuar - Pode ter certeza, eu tentei todo esse tempo que ficamos afastados e é só eu ouvir a voz dela para ser tomado por todo esse sentimento mais uma vez.

- Eu sei o quanto é difícil se afastar de quem a gente ama, pode ter certeza que eu sei exatamente o que você está passando.

- Impossível.

- Nós, agentes, somos destinados a outro que nos "complete", ela já deve ter explicado para você.

- Sim.

- Então, e normalmente se forma um casal, como ela e o Christopher. - ele parou por um segundo - Como eu e a Meredith.

O rapaz percebeu que o mais velho ficou inquieto assim que mencionou aquele nome. O agente na sua frente pareceu entrar numa viagem do tempo para um passado que parecia ser longe dali.

- Eu era um pouco só mais velho que vocês quando conheci a minha mulher e comecei a namora-la. Naquela época eu era um agente e minha parceira, a Meredith, praticamente vivia comigo. Eu não podia contar para ela nada, eu estava em missão e também não sabia como ficaríamos quando eu tivesse que... - ele parou de falar.

- Tivesse que deixa-la? - o senhor concordou com a cabeça.

- Até que uma noite ela acabou descobrindo tudo e, além do medo, veio também o ciúmes da Meredith e com isso vieram as brigas. Até que um dia o cara que eu estava atras pegou-a como refém, alegando que só a soltaria se eu lhe entregasse o que ele queria.

Michael percebeu que o agente Flirman estava quase chorando quando fez a segunda pausa durante a sua história. O rapaz estava curioso, mesmo tudo aquilo parecendo um grande clichê de filme.

- Eu acabei indo atras dela com a Interpol e a Meredith e numa troca de tiros que acabou tendo eu perdi a minha parceira.

- O senhor acha que isso pode acontecer com nós três? Por isso está me contando?

- Sim.

- Eu não posso deixar que ela entregue a sua vida por mim.

- E ela não pode deixar que você entregue a sua vida por ela, muito menos pode deixar que o Christopher dê a vida dele por vocês dois, assim como a Meredith fez.

- Isso não vai acontecer.

- Somente se vocês estiverem separados. - ele apoiou as duas mãos entrelaçadas em cima de sua mesa e se aproximou um pouco de Michael - É só por mais algumas semanas.

- Eu entendo e não vou mais fazer as coisas que ando fazendo. - O rapaz disse e o senhor fez um movimento com a cabeça, concordando.

- Dispensando.

Assim que saiu da sala, o jovem foi acompanhado pelo seu segurança para a saída da cede. Não queria ver Felicia mais um vez, sabia que, mesmo depois daquela conversa, ele não ia conseguir controlar a vontade de beija-la. Ele precisava se conter e se, para isso, fosse preciso aceitar calado toda aquela situação de afastamento, assim faria.

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