Capítulo 1

381 28 70
                                    

-Querida, acorde! É o seu primeiro dia.

Acordei com a luz do banheiro brilhando sobre o meu rosto. Abri meus olhos lentamente e olhei para o despertador: 7:10.
Após alguns meses voltarei para a minha rotina: acordar cedo, ir para o colégio e voltar para casa. Antigamente eu ficava muito feliz em realizar essas tarefas diárias e o motivo era meu pai. Eu sempre o considerei meu melhor amigo, aquele que me ajudava em qualquer hora. Mas então, na manhã do dia 12 de dezembro de 2012, ele me deixou, "vítima" de um possível suicídio. Todos os médicos legistas disseram a mesma coisa, mas eu não acredito. Quando eu completar meus queridos 16 anos, vou investigar por conta própria.

Após enrolar 20 minutos na cama, resolvi levantar. Essa seria a minha volta para a escola então teria que ir com uma roupa ao menos apresentável. Mesmo perdendo algumas aulas e os testes finais, os professores sabiam sobre o meu caso e deixaram eu seguir normalmente.

Coloquei uma roupa bem simples e discreta, tudo o que eu menos precisava naquele momento era chamar atenção. Anos atrás, nem drogada eu usaria aquilo, porque, qual é, "Pattie Claire Jackson" era a rainha daquele lugar! Calças jeans e tênis ficavam fora do meu caminho, já saias e sapatos de salto alto... Isso era o meu paraíso. Eu humilhava todos a minha frente, tinha duas amigas, ou melhor, dois capachos e me sentia a melhor de todas. Mas então, tudo aconteceu e eu me fechei, literalmente. Agora vou ter que aguentar olhares maldosos e aquelas duas se achando. Viva a escola!

Desci as escadas, me despedi da minha mãe e fui a pé para a escola, pelo caminho mais longo, é claro. Quanto maior a demora, melhor... Pena que o caminho não é infinito. Quando percebi, já estava andando em direção ao corredor principal da escola, sentindo os olhares de pena sobre mim e conseguindo ouvir os "cochichos" das pessoas. Os corredores estavam abarrotados, mas mesmo assim cheguei até a minha sala. Praticamente todos os lugares estavam ocupados, exceto um, no fundo, atrás de um carinha que eu não conhecia. Estava quase chegando ao lugar, quando meu professor de história, Gerald Fitz, pediu para eu voltar à frente da sala:

-Pattie! Que bom te ver de novo! Como você está?

-Por enquanto, tudo bem -eu disse sem nenhuma animação.

-Ok então, quero que saiba que todos estamos aqui por você! E por que não chamamos nosso novo colega de classe para se apresentar para nós? -ele disse olhando para o carinha no fundo da sala- Venha cá, Josh!

Assim que ele terminou de falar, o garoto se levantou. Ele era um pouco mais alto que eu (entre 1,70 ou 1,75), seus cabelos loiros estavam arrumados em um topete, tinha os olhos num tom verde claro e parecia ter um corpo bonito. Assim que ele chegou lá na frente, lançou um sorriso para mim e virou-se para a classe:

-Olá, meu nome é Joshua Melbourne, mas vocês podem me chamar de Josh e... hum... Eu acho que sou legal.

-E EU acho que você é um gato! -uma voz alta e estridente ecoou pela sala, seguida de risadas. Eu conhecia aquela voz... Reparei bem na garota e então finalmente a reconheci: Era a Lauren, uma das minhas "mandadas" e atrás dela estava Katherine, a minha outra "mandada". O professor balbuciou alguma coisa e fez um gesto para voltarmos para os nossos lugares, e em seguida, começou a falar sobre alguma guerra (pra variar).

(...)

As aulas passaram voando. O intervalo foi uma porcaria, fiquei sozinha, mas ainda bem que existe o celular. Cara, por que diabos os corredores estão tão cheios? Eu mal consigo enxergar a porta do meu armário. Mas o bom é que, do mesmo jeito que lota rápido, esvazia rápido então consegui chegar ao portão de saída rapidamente. Estava quase saindo quando escuto alguém me chamar: era Joshua

-Ei! Ei! - Ele veio correndo - Quer... Uma carona? - Perguntou com a respiração ofegante.

-Hum... ?

-Claro, desculpa. Eu sou filho do Patrick Melbourne. Ele era amigo do seu pai.

-Patrick... Patrick... Ah sim! Cerveja. Pizza. American Pie? -eu disse sorrindo.

-Cerveja. Pizza. American Pie! -nós rimos- e então, carona?

-Claro.

Nós saímos rindo feito idiotas, como se já nos conhecêssemos há anos. O carro dele era um Dodge Dart, com bancos de couro e um design incrível. Durante o caminho, fomos contando histórias da juventude dos nossos pais e falando sobre como eles eram loucos. Josh era a única pessoa que eu conseguia falar sobre meu pai sem chorar durante todo esse ano e isso era estranho e inovador ao mesmo tempo.

-Eu sei que parece impossível, mas eu nunca conheci seu pai, Josh.

-Ta brincando né?

-Sério. Eu só ouvia eles conversando, os dois juntos, não.

-Sabe... Um dia ele me contou o porquê disso.

-Quem, o meu pai?

-Não exatamente ele. Ele contou para o meu pai que contou para mim.

-E qual é esse "porquê"?

-Seu pai dizia que não te levava lá em casa por minha causa -ele olhou rapidamente para mim e riu- É, ele tinha ciúmes de você.

-Ah meu Deus!

Ele riu, já estávamos na rua da minha casa (e até aquele momento, eu não tinha a mínima ideia de como ele sabia o caminho até lá). Eu já podia sentir o cheiro dos almoços do quarteirão inteiro: lasanha, algum tipo de cozido vegetariano e almôndegas.

-Bom Pattie, vou para casa, ok?

-Tudo bem, mas... Tem certeza de que não quer ficar para almoçar? Para conversarmos mais?

-Não Pattie, valeu mesmo. Eu até aceitaria mas o Macarrão Melbourne é o Macarrão Melbourne.

-Hum... Ok então.

Eu ri, me despedi e entrei em casa. Por que será que agora estou com vontade de comer macarrão?


Miss JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora