Eu tinha dez anos. Ele era meu avô. Eu nunca me senti a vontade perto dele. Apesar de a minha avó ser minha pessoa favorita no mundo, ele não chegava nem perto de ser. Ele sempre pedia para que me sentasse em seu colo. Eu tentava acreditar ser um ato de carinho, já que era meu avô. Isso acontecia com frequência e, para mim, não existia maldade. Até o dia que ele não me deixou levantar, apertou o meu corpo contra o dele e começou a passar a mão em mim. Mesmo assustada, eu contei para minha mãe, que ficou desorientada e sem saber direito o que fazer. Eu vivia a maior parte do tempo na casa dos meus avós e quando aconteceu, fui induzida a não falar sobre o assunto com ninguém e minha mãe não quis denunciar para a polícia. Nada foi feito. Foi assustador. Minha mãe apesar de ter se tornado a pessoa fria e rancorosa que é hoje, costumava me ouvir e ser uma mãe descente para mim naquela época.
Eu não costumava confiar muito nas pessoas naquele tempo e depois que isso aconteceu, confiei menos ainda. Mudei meu comportamento perante a família, principalmente em situações que ele estava. Todo mundo sempre me questionava e eu me esquivava, fingia estar tudo bem. Meus tios cercavam a minha mãe o tempo todo para saber o que estava acontecendo. Ela sempre negava que algo estava acontecendo, por não querer expor uma situação desconfortável, mas acabou contando. Um deles duvidou de mim e resolveu confrontar o meu avô, que confirmou o que aconteceu. A partir desse momento, eu só quis esquecer tudo aquilo. Eu queria sumir ou voltar em um momento da minha vida em que isso não tivesse acontecido. O assunto nunca mais foi tocado em família e, de certa forma, sempre fui forçada a um certo convívio com ele. Ninguém nunca tomou nenhuma atitude e me induziram a calar, guardar isso sozinha, me senti extremamente culpada, mesmo com um cenário ao meu favor, já que ele assumiu o que fez e eu deixei de ser a mentirosa da situação. Aos dez anos, tudo isso é muito confuso. Eu ainda era uma menina. Uma criança. Essas coisas são muito complicadas.
Minha avó morreu naquele ano, e me permito pensar que foi de desgosto pelo que o marido fez, e não pelo câncer. Ele morreu um ano depois, e eu me senti aliviada. Fico pensando que, minha avó sempre tão maravilhosa morreu e ele ficou. Eu não aceitava isso. Nunca aceitei. Eu ainda acredito que tive sorte que aconteceu apenas uma vez. Que ele tenha assumido a culpa do que fez! O tempo passou, mas, as imagens ainda vêm e vão. Tive muitos momentos de depressão, descobri a ninfomania e meu psicólogo disse que guardar tudo isso fez tudo piorar. Isso é uma coisa que eu nunca superarei. A penetração não aconteceu, mas eu ainda sinto suas mãos passando pelo meu corpo, ainda ouço sua respiração ofegante no meu ouvido e os barulhos que ele fazia enquanto me masturbava. Ainda sinto seu membro ficando rígido embaixo do meu corpo. É um ‘loop’ infinito de um pesadelo que vai me perseguir para sempre. É meu inferno pessoal. Eu ainda me incomodo quando vejo meus tios se referindo a ele como “o grande herói da família”. Eu nunca o vi assim.
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Ninfomaníaca
Short StoryCompulsão sexual, vicio em sexo, loucura. Chame como quiser. Mas acredite, sexo não é tudo, e a vida de uma ninfo não é fácil. Me chamo Angeline, mas me chamam de Angel. Eu sou filha de um major e uma médica, e vivo em Boston, minha vida nunca foi u...