Capítulo 7 - Noêmia

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NOÊMIA

                             Rio de Janeiro

Eu tinha muito o que pensar depois da visita de Christian e Lucas, mas primeiro passei na delegacia para verificar as novidades sobre o caso do meu filho.
Depois de quase duas horas na sala de espera, presenciando o entra e sai de inúmeras pessoas — alguns detidos, outros desesperados para solucionar os próprios crimes dos quais foram vítimas — , finalmente o Delegado Alcântara mandou que eu entrasse.

— Bom dia, delegado – falei, estendendo a mão —  eu sou mãe do Joseph Villa-Lobos, ele está desaparecido desde ontem. Eu preciso encontrar meu filho.

— Por gentileza, o boletim de ocorrências para que eu possa localizar no sistema — ele disse, rispidamente, sem sequer olhar na minha cara.

Entreguei o documento e aguardei enquanto ele digitava preguiçosamente em seu computador.

— Infelizmente, não temos nenhuma novidade. Seu telefone está salvo, qualquer coisa ligaremos. Caso o sequestrador entre em contato e peça resgate, nos procure imediatamente. Mais alguma coisa?

—  Delegado, há algumas câmeras na rua, vocês verificaram? Se tivermos o rosto do sequestrador, talvez possamos ampliar as buscas.

— Lamentavelmente ontem o sistema da central de segurança da cidade sofreu uma pane, nenhuma das câmeras do olho vivo da cidade funcionou — ele respondeu, visivelmente entediado.

—  E quanto à funcionária que liberou meu filho na creche, ela foi interrogada?

— Minha senhora, nós sabemos fazer nosso trabalho. Empenharemos todos os esforços para que seu filho seja localizado. Mais alguma coisa?

Meu sangue começou a ferver e eu tive que me controlar para não desacatá-lo. Eu tinha acabado de me livrar de responder por um ataque hacker ao governo americano, era bom me conter. Felizmente, antes que eu pudesse responder, o telefone celular do Delegado começou a vibrar insistentemente. Ele verificou o visor e me disse que tinha que atender, na expectativa para que eu me retirasse, mas eu não o fiz. Ainda não pretendia encerrar o assunto assim, sem garantir algum avanço. Depois de travarmos uma batalha silenciosa, ele finalmente desistiu e atendeu o telefone.

Por mais que fingisse me distrair com um objeto de decoração da mesa do Delegado, foi inevitável prestar atenção na conversa, uma vez que a voz alta, grave e autoritária dele permitia que qualquer um até na outra esquina escutasse o menor dos sussurros que ele proferisse. 

"Pois não, Secretário".
"Sim, estamos nesse caso".
"Claro". "
Por coincidência eu estou aqui conversando com a mãe do menino e estava dizendo pra ela que vamos agora mesmo sair em diligência para encontrá-lo".

"Claro, pode deixar que eu vou cuidar pessoalmente disso. Não sossegaremos até ele estar nos braços da mãe".

— Afinal de contas, quem é você? — ele se dirigiu a mim após desligar o telefone.

— Noêmia Villa-Lobos, já lhe disse — respondi, confusa.

— Você poderia ter dito antes que era gente importante, menina — falou, com o semblante visivelmente mais amistoso — Não é todo dia que o Secretário de Defesa do Estado intervém em um caso atendendo a um pedido da Presidente da República. Estou saindo para interrogar a funcionária, você quer me acompanhar?

— Claro.

Entrei no carro do delegado, no banco da frente, ainda mais confusa do que antes. Eu não tinha ideia de quem havia intercedido por meu filho, mas eu estava grata por isso. Primeiro pensei em Tio Vicente, mas apesar de conhecer muita gente, sua influência não chegaria nem ao prefeito da cidade, quanto mais à presidente do país. Logo lembrei dos dois agentes que me visitaram mais cedo. Será possível que eles tivessem feito isso? Talvez Lucas não fosse tão inexperiente quanto imaginei ou Christian fosse menos insensível do que aparentava. O Delegado parou em frente à creche do meu filho e desceu para conversar com a empregada. Fiquei observando de dentro do carro. As feições do delegado eram assustadoras por uma cicatriz horrível do lado direito, provavelmente causada por algum tiro que tenha tomado. Se ele foi capaz de sobreviver àquilo, provavelmente teria o respeito de qualquer um, o que para mim, no momento, era de grande valia. Vi, contudo, sua expressão se tornar ainda mais assustadora depois que a funcionária da creche comunicou alguma coisa e ele voltou ao veículo ainda mais sério do que antes.

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