Capítulo 15 - Nicholas

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Nicholas
Washington

― Joseph era um SEMI, como você já deduziu – confirmei para Noêmia ― Ele se infiltrou na Agência trocando a amostra de sangue para que os resultados indicassem que ele possuía os alelos dominantes.

― Então era para vocês que ele trabalhava quando supostamente morreu na Universidade de Georgetown.

― Estamos caminhando para essa parte da história. Sempre que detectamos novos SEMI's, enviamos agentes para discretamente recolherem o material genético e enviar para nosso laboratório de análises, para descobrirmos as tendências psiquiátricas, como eu já te expliquei. Além disso, nossos agentes de campo fazem relatórios sobre cada um deles, para analisarmos se seriam ou não recrutados para a Agência, caso sejam dominantes. Joseph era um desses agentes e estava em missão pela América do Sul. Inclusive, na época, ele qualificou como aptos à agência só seis dos cinquenta e dois SEMI's da região. Hoje desconfiamos de que havia mais, mas ele queria impedir que a I.S.A. aumentasse seu contingente e temos ainda fortes indícios de que ele chegou a recrutar alguns SEMI's intermediários para sua organização.

Noêmia me olhou assustada. Pude ver em seus olhos que ela sabia onde eu iria chegar. Ela se mexeu na cadeira e pediu que eu prosseguisse com a história.

― Os SEMI's do Joseph não eram nossos únicos palpites. Nós havíamos acabado de desenvolver uma tecnologia de ponta para detectar novos SEMI's e conseguimos rastrear praticamente todos ao redor do mundo. Nós tínhamos uma leva surpreendente de SEMI's com DNA dominante, a tal "índole do bem", e estávamos confiantes de que com esse número de agentes, bem treinados e com seus dons trabalhando a nosso favor, certamente acabaríamos com qualquer ameaça como a da Liga. Decidimos então marcar uma reunião onde revelaríamos que eles eram especiais e os recrutaríamos para a Agência. Foi aí que, quando Joseph soube desses novos planos, decidiu articular o massacre. Sem esses novos agentes, continuaríamos contando com uma pequena equipe de SEMI's ao passo que eles continuariam em maior número. Essa é a verdade por trás do Massacre de Georgetown. Foi assim que descobrimos que a Liga estava se reorganizando e que estávamos em uma guerra cada vez mais longe de acabar. Agora talvez seja a hora de você me contar como foi a única SEMI sobrevivente do Massacre.

― Deve estar tendo algum engano. Não tem a menor lógica nisso. Eu, SEMI? Acho que eu saberia se eu fosse – Noêmia se levantou, inquieta.

― Você está em negação, Noemi, mas você já havia entendido isso desde que eu te contei quem eram os SEMI's. Eu vi no seu rosto. Você sabe que é mais inteligente do que a maioria das pessoas que você conhece: Você sempre foi a melhor aluna na escola, na faculdade e passou em primeiro lugar em um concurso sem sequer ter estudado. Você domina o inglês sem nunca ter feito um curso. Mesmo sem ser uma hacker, você conseguiu invadir o sistema da I.S.A, que nós nos orgulhamos por ser o mais seguro do planeta! Você não precisa ter vergonha de ser quem você é. Você não é como o Joseph.

― O Joseph sabia disso? Por isso ele me encontrou e se aproximou de mim?

― Sim, ele sabia que você era SEMI o tempo todo. E provavelmente foi através de você, quando te convocamos, que ele soube da reunião em Georgetown, porque somente os convocados e os líderes da I.S.A. sabiam dessa convocação.

― Ele até tentou me convencer a não viajar, mas eu não dei ouvidos – ela começou a falar. Suas mãos estavam trêmulas e ela narrava mais para ela mesma do que para mim – Mas ele me deixou ir, mesmo sabendo que eu iria morrer ali. Provavelmente eu teria morrido mesmo, se não fosse o Joe. Eu descobri que estava grávida e resolvi dar a notícia na mesma hora. Ele entrou em pânico e disse que tinha que me tirar dali com urgência. Foi assim ele me ajudou a escapar. Ele quis salvar nosso filho.

― Quanto a seu filho...

― Filho de pai e mãe SEMI – ela me interrompeu – não preciso nem de superinteligência para concluir que ele também é SEMI. Mais do que sequestrar o filho, Joseph estava recrutando um aliado. Alguém que ainda é novo o suficiente para ele moldar como quiser.

― Sinto muito, Noemi – eu me levantei e coloquei a mão sobre o seu ombro – De verdade.

― Não sinta – ela enxugou uma lágrima e se recompôs – Apenas me ajude a tirar meu filho de perto desse monstro.

― Nós precisamos muito de você, Noêmia. Não é só você quem precisa de nós. Você pode nos ajudar a prender não apenas o Joseph, mas também impedir que todos que estão com ele consigam o que querem.

― Eu estou dentro.

...

Eu ainda estava respondendo às inúmeras perguntas da Noêmia quando fomos interrompidos por minha assessora, que batia insistentemente na porta.

― Sr. Mitchell – ela anunciou – o Sr. York está esperando na sala de visitas.

― Obrigado, Srta. Lincoln, peça para ele entrar – eu me virei para Noêmia assim que a Srta. Lincoln se retirou – Você vai conhecer o Dr. Theodore Sorensen, Presidente da Agência. York foi o sobrenome que ele adotou para me assessorar na Presidência dos EUA, ele é meu Ministro da Defesa.

― Eu acho melhor eu ir embora para vocês conversarem à vontade – ela se levantou visivelmente nervosa, mas Theodore já estava na porta.

― Ah, que bom que você pediu pizza, Nicholas, eu estou mesmo com fome – Theodore se divertiu.

― Dr. Sorensen – Noêmia o cumprimentou, envergonhada – eu gostaria de lhe pedir desculpas por ontem. Eu não queria invadir sua Agência daquela forma. É uma longa história, o Nicholas pode...

Noemi – eu a interrompi – o Dr. Sorensen sabe de tudo, ele mesmo autorizou seu ingresso na I.S.A.

― É uma honra tê―la conosco, Noêmia – Theodore falou.

― Você pode treinar a pronúncia do meu nome com ele, Nicholas – ela se dirigiu a mim ― Ele soube pronunciar Noêmia sem eu sequer precisar me apresentar.

― É essa mania dos americanos de americanizar tudo, não é, Nick? E eu ainda tive uma grande amiga brasileira que me ensinou sua língua. Não foi difícil acertar.

― É mesmo? Bom saber que eu tenho alguém para conversar caso eu sinta vontade de falar português – Noêmia sorriu.

― Vai ser um prazer, Noêmia – Theodore sorriu de volta.

― Eu vou deixar vocês conversarem à vontade – Noêmia anunciou ― Eu tenho mesmo que ir. O Christian está me esperando para começarmos o treinamento e eu sinto que ele não vai muito com a minha cara, melhor eu não atrasar.

― Eu te acompanho até o carro – falei.

Fomos em silêncio até a garagem onde o motorista aguardava para levá―la de volta à Agência.

― Boa sorte com o treinamento – eu me despedi – Você ouviu o General, você está sob minha responsabilidade, então me deixe orgulhoso. Eu estarei sempre por perto. Qualquer coisa que precisar, você tem meu telefone, é só me ligar.

― Sim, Senhor Presidente – ela sorriu.

Noemi... Noêmia – corrigi – nós vamos encontrar seu filho, eu te prometo.

― Obrigada, Nicholas.

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