Capítulo 10 - Nicholas

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NICHOLAS
Washington

Theodore havia me ligado naquela manhã, pedindo que eu fosse até à Agência o mais rápido que conseguisse. Recentemente ele havia me encontrado em uma reunião em Salt Lake, onde me revelou alguns fatos que me fizeram finalmente compreender o súbito interesse dele e da Agência na senhorita Villa―Lobos. Concordamos em tentar levá―la até a Agência para se juntar à nós tão logo o seu filho fosse encontrado – e eu havia solicitado ao governo brasileiro que interferisse para otimizar as buscas ―, porém fomos surpreendidos com sua chegada repentina. Por sorte, Theodore havia a encontrado tentando entrar em nosso prédio e a chamou para uma reunião em sua sala, tentando ajudá―la, mas pelo visto ela preferiu resolver sozinha os próprios problemas. Quando eu a encontrei no quinto andar, Viggo já tentava intimidá―la, mas consegui ouvi―la pedindo para se juntar a nós nas buscas por seu filho, o que surpreendentemente, o General parecia disposto a fazer. Mal sabia ela – e o próprio Viggo – que isso era tudo que a Agência queria.

― Mitchell, dessa vez você passou de todos os limites. Eu não vou me sujeitar às ordens de um moleque como você – Viggo estava enfurecido e eu suspeitava que mesmo do lado de fora da sala do General, todos nos comando conseguiriam ouvir os seus berros – O poder pode ter subido à sua cabeça, mas você sabe bem que eu não sou sequer um cidadão americano e a Agência é um organismo internacional, então aqui dentro você deve se lembrar que eu sou o seu superior e você é um mero agente.

― General, eu não quero o seu lugar – eu me sentei, mantendo uma tranquilidade perturbadora ― Eu tenho tanto interesse em preservar a Agência quanto o senhor. Eu fui colocado à frente dessa missão por uma designação de todo o Conselho, com a anuência de Theodore.

― Você pode ficar com a sua missão, mas eu não vou autorizar que você mude nosso processo seletivo só porque você chegou aqui agora, sem nem saber o que estava acontecendo, e se encantou por um par de peitos.

― Isso não tem nada a ver com encantamento, General – falei, surpreso pelo julgamento que ele havia feito – Ela é uma SEMI. A Agência vem monitorando a senhorita Villa―Lobos há algum tempo.

Finalmente o General se acalmou e se sentou em sua mesa, surpreso.

― Isso explica muita coisa – ele passava a mão sistematicamente no vão entre as sobrancelhas ― Pouco antes de você aparecer, ela estava dizendo que Joseph está vivo e que sequestrou o menino. Ela investigou e descobriu sozinha em menos de uma semana.

― Joseph, vivo? Impossível.

― Eu também achava, Mitchell, mas não chega a ser surpreendente. Nós dois sabemos muito bem que ele era inteligente o suficiente para forjar a própria morte e sair impune. Surpresa é não termos desconfiado antes.

― É por isso que precisamos de alguém como ela conosco – falei.

― Eis o ponto. Nós não podemos simplesmente confiar nela, Mitchell. O Joseph passou por nossa triagem e ainda assim nos traiu. Isso tudo pode ser uma armação dos dois. Eles tiveram um relacionamento, quem garante que não continuam juntos? – ele maneou a cabeça para os lados – Não, definitivamente aceitá―la aqui está fora de cogitação.

― General, eu tenho um profundo respeito pelo senhor e lhe devo tudo que eu sou hoje, mas eu preciso da garota aqui e se isso significa que eu tenha que te confrontar, assim será. Eu sei que a I.S.A. não pertence aos Estados Unidos, mas ela funciona sob a fachada de um Departamento de Segurança daqui e eu tenho uma emenda constitucional fresquinha me dando plenos poderes na gestão de assuntos referentes à segurança nacional, o que inclui o Departamento, sendo ele falso ou não. Você naturalmente pode a qualquer momento chamar o caminhão de mudanças e transferir a Agência inteira para outra base em outro país e não se submeter a isso – ele me olhou surpreso. Eu continuei ― Ou nós podemos simplesmente superar isso e trabalharmos juntos nesse caso. Nós sabemos muito bem que esse é um dos assuntos mais delicados que temos, então eu sugiro que você pondere bem as opções e escolha a mais sensata.

― Minha vontade era de ficar com a primeira opção, você sabe, não é? Mas não sei como você conseguiu manipular tão bem o Dr. Sorensen para ele comer na sua mão. Enquanto ele for o presidente da I.S.A. eu duvido muito que ele aceite a transferência de sede. Só que fiquem sabendo que mais um desacato desses e eu mesmo pedirei meu desligamento.

Eu assenti e me levantei, nada feliz em ter sido tão arrogante. Quando eu ia saindo, o General me chamou.

― Mitchell, a garota é sua responsabilidade.

Deixei a sala do General e percebi os olhares curiosos em minha direção. Logo meu olhar foi atraído para a senhorita Villa―Lobos, que parecia impaciente para definir sua situação. Caminhei em sua direção.

― Senhorita Villa―Lobos, nós não podemos simplesmente deixar que você entre e participe de uma operação sem ser uma agente – ela tentou me interromper, mas eu fiz um sinal para ela esperar – Contudo, caso você esteja disposta a entrar para a Agência e receber o treinamento adequado, podemos lhe conceder uma licença provisória para atuar em campo e lhe designar para essa operação.

― Eu aceito – ela falou sem hesitar, com os olhos marejados – Eu faço qualquer coisa para ter meu filho de volta. Obrigada.

― Não me responda ainda. Fique pronta, amanhã eu mandarei alguém te buscar às nove. Temos alguns assuntos para tratar antes de você dizer sim.

― Mitchell – a agente Norma Müller me chamou – nós não costumamos trabalhar em um caso quando há envolvimento emocional, creio que a moça terá seu julgamento prejudicado pelo filho e ex―namorado.

― Eu penso o contrário, Müller. Ela terá mais empenho que qualquer um aqui e nós precisamos de todas as armas em uma operação. Nem sempre a frieza é um bom aliado, um dia você irá entender isso.

― Agora você está dando as ordens aqui? – ela perguntou com desdém.

― Não, Müller, o General continua gerenciando o Comando, mas eu estarei à frente dessa operação, junto com ele – eu me virei para Christian – Chris, eu gostaria que você treinasse a senhorita Villa―Lobos. Dê a ela um treinamento intensivo, pode pegar pesado que eu tenho certeza que ela sairá muito bem.

― E quando é que iremos atrás do meu filho? – ela perguntou, impaciente.

― Quando você estiver pronta. Enquanto isso nossa equipe de inteligência irá atrás de qualquer pista. Pia cuidará disso, tudo bem, Pia? Até lá, fique na cola do Christian. Ele é nosso melhor agente, você estará bem assistida.

― Mas eu não vou ficar aqui esperando enquanto...

― Senhorita Villa―Lobos – eu a interrompi – se você está mesmo disposta a entrar para a Agência, terá que aprender uma coisinha ou outra sobre liderança. Nós não estamos parados. Estamos cuidando do caso. Por enquanto, você se prepara para quando precisarmos de você. Aqui nós agimos com a cabeça e não por impulso. Se você se lembrar disso, será a melhor de nós.

Deixei a Agência para voltar ao trabalho. O motorista já me esperava na porta. Afrouxei a gravata e peguei o jornal do dia, esquecido no assento ao meu lado, mas não consegui concentrar em nenhuma notícia. Eu não esperava que a tal senhorita Villa―Lobos fosse tão jovem e atraente. Além disso, em menos de meia hora ela já havia deixado claro sua personalidade forte. Eu não podia dizer que estava infeliz com esse desafio. Quando Theodore me pediu para assumir o caso, eu achei que estava entrando em uma fria desafiando Viggo. Eu ainda achava que tinha grandes chances de terminar encrencado, mas provavelmente meu maior risco não era mais o General.

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