Capítulo 9 - Noêmia

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NOÊMIA
Washington

Por economia, comprei um voo com várias conexões, o que me garantiu uma viagem bastante cansativa de quase trinta horas, mas eu finalmente estava em Washington. Naturalmente meus pensamentos se voltaram para a última vez em que estive aqui, cheia de sonhos, ideais e uma expectativa de que tudo seria diferente dali para frente. Eu havia sido convidada para uma reunião na Universidade de Georgetown e, apesar de não se mostrar muito satisfeito por eu ter aceitado ir até lá, eu tinha certeza que era um blefe e havia o dedo de Joseph naquilo. Ele sempre destacava que eu possuía uma inteligência acima da média – muito embora eu suspeitasse que eu somente tivesse facilidade para aprender, mas acabava me destacando por estudar em uma escola pública, onde a grande maioria dos alunos não fazia a menor questão de estar ali – e dizia que eu deveria pensar em ir com ele para os Estados Unidos para fazer faculdade. Assim, a única razão que eu conseguia imaginar para ter sido chamada em uma universidade americana era a interferência de Joseph. Simultaneamente, a recém―desconfiança, posteriormente confirmada, da minha gravidez, igualmente me enchia de expectativas e, mesmo com o risco de não ser bem aceita pelo meu namorado, eu me sentia estranhamente feliz. Hoje, porém, cinco anos depois, apesar de medo e tristeza, eu sentia uma força sobre―humana, capaz de qualquer extremo para ter meu filho de volta e, por isso que, mesmo exausta, eu estava ali, em frente ao endereço impresso no cartão de visitas deixado por Lucas. O prédio de seis andares trazia na fachada uma placa escrita "Departamento Especial de Segurança dos Estados Unidos da América".

Eu imaginei que não seria tão fácil entrar, me identificar como Noêmia, a hacker, e pedir para falar com Lucas ou Christian, então articulei um plano. Claro que eu tinha a opção de vigiar a saída e interceptá―los, mas eu sentia que não podia confiar em ninguém, pelo menos não completamente, então quanto maior o público presente quando eu os confrontasse, maior a chance de ser ouvida. Eu me afastei e analisei o comércio nos arredores. Comprei um boné e uma camisa de malha vermelhos, enquanto aguardava minha encomenda na pizzaria ao lado. Podia não ser a melhor estratégia, mas era minha melhor chance. Reuni coragem e entrei no prédio.

― Entrega de pizza para o Sr. Christian Santos, anunciei para a recepcionista, em um inglês impecável, fruto do meu trabalho no hostel.

Preferi usar o nome de Christian ao de Lucas por ter percebido que sua posição era superior à do irmão e esperava que com isso fosse melhor atendida. Além do mais, se alguma coisa desse errado, preferia colocá―lo em maus lençóis do que entregar a ajuda de Lucas, que havia sido tão amistoso. A secretária, contudo, mal olhou na minha cara e só repetiu mecanicamente que interfonaria para me anunciar, mandando que eu aguardasse.

Enquanto esperava, observei a recepção, que se parecia muito menos com uma repartição pública do que eu esperava. A construção, elegante, estava mais para uma multinacional, bem como as pessoas que entravam e saíam se pareciam mais com executivos do que com agentes de segurança.

― Desculpe, senhorita, deve haver algum engano, o Sr. Santos não está esperando nenhuma entrega.

― Tudo bem – mantive a calma, já esperando por isso – Às vezes o telefone foi registrado em nosso sistema com o nome dele, por algum pedido feito anteriormente, mas dessa vez outra pessoa que pediu. Acontece sempre. De qualquer forma, se eu não fizer essa entrega estarei no olho da rua – corri o dedo indicador pelo pescoço, como se tivesse indicando que minha cabeça estava a prêmio – será que eu posso só entrar e perguntar de quem é o pedido?

― Sinto muito, senhorita, não vai ser possível liberar sua entrada.

― Mas esse é um departamento público, nós cidadãos deveríamos ter amplo acesso, não? – pisquei, dessa vez mais nervosa. Preparei minha última cartada – Pode pedir ao menos que o Sr. Santos autorize minha entrada ou venha até aqui assinar a desistência do pedido?

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