Capítulo 16 - Carl

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Carl
Westminster ― Inglaterra

Meu despertador não havia nem tocado ainda quando meu pai irrompeu em meu quarto.

― Carl, acorda. Você vai perder a hora.

― Bom dia para você também, pai – fitei o relógio no criado―mudo ao lado da minha cama. Quando vi a hora, virei―me novamente, puxando os cobertores acima da cabeça – Ainda é cedo, posso dormir mais um pouco.

― Você ainda sequer arrumou suas malas, pelo que me consta. Anda – ele puxou meus cobertores – Levanta.

― Malas? Eu não sabia que já teria direito a férias, mesmo sem trabalhar. Ou eu fui designado para alguma praia paradisíaca do Brasil ou do Caribe?

― Engraçado, Carl, muito engraçado. Talvez não tenha ficado claro ontem, mas precisamos de sua dedicação integral. Há um alojamento no prédio da Agência, é assim no mundo inteiro, você está cansado de saber.

― Mas pai, isso é para os agentes comuns. Moramos tão perto. E mesmo que não fosse, aposto que o vovô não se importaria de arrumar um quarto para mim no Palácio.

― Carl, entenda de uma vez por todas. Lá você não é neto do rei. Não há esse tipo de hierarquia. O seu avô, o Presidente dos Estados Unidos, o imperador do Japão, o secretário―geral da ONU, você e todos eles são agentes com o mesmo nível e o mesmo objetivo. Além do mais, você, mais do que qualquer um outro, precisa desse tipo de supervisão.

― Eu tenho 28 anos, pai, não preciso de babá.

― Carl, eu não vou discutir mais com você, meu filho. Eu posso pegar agora mesmo o telefone e dizer a seu avô que você não quer mais o acordo.

Levantei irritado e comecei a jogar alguns dos meus pertences dentro de uma mochila velha e outros dois sacos de viagem. Meu pai permaneceu em pé, fiscalizando cada item e sugerindo algumas coisas que eu poderia precisar. Eu só voltei a encará―lo quando ele confiscou o videogame, que eu já preparava para levar.

― Então é isso, eu devo desejar Feliz Natal de uma vez para minha mãe ou receberei algum indulto para as festas? ― ironizei.

― Carl, não confunda o que eu estou fazendo com opressão. Eu tenho muito orgulho do homem que você se tornou, meu filho. Por trás dessa máscara de playboy tem um cara generoso e com um coração muito bom. Eu só quero que você enxergue isso e se encontre.

― Boa sorte em convencer a mamãe a te acompanhar nos jogos do Arsenal.

O motorista do vovô já me aguardava do lado de fora e eu deixei meu pai na porta, sem sequer um adeus e com a infantil sensação de vingança, como se realmente aquilo fosse atingi―lo. Logo percebi que eu era o único a sofrer perdas com tudo aquilo e a raiva queimou ainda mais em minha garganta.

...

Eu estava sentado em uma cadeira de courino, em frente a um computador velho, com os braços cruzados observando há mais de quarenta minutos o sobe e desce do slogan da I.S.A. no descanso de tela.

― Eu peço desculpas pela demora, mas eu estou chegando de viagem. Prazer, eu sou Joannie Brand, supervisora na unidade britânica de segurança. Parece que vamos trabalhar juntos por um tempo – a mulher mantinha a mão estendida na minha direção quando eu me virei da cadeira.

Joannie tinha as feições nórdicas, o nariz proeminente, a pele branca como leite e os cabelos tão claros que pareciam fios de prata. O seu corpo magro aparentava uma fraqueza que os frios olhos azul―acinzentados insistiam em negar. A firmeza de sua voz confirmava essa ilusão.

― Eu sou o Carl e o prazer é todo meu – eu sorri, finalmente começando a me interessar por esse novo emprego.

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⏰ Última atualização: Oct 28, 2019 ⏰

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