Capítulo 13 - Noêmia

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NOÊMIA
Washington

― Vem, eu vou te mostrar o nosso quarto – Pia me puxou pelo braço para dentro do elevador, apertando o botão para o segundo andar.

― Então vocês moram aqui mesmo no prédio? ― perguntei – Por que?

― Nosso trabalho exige máxima descrição. Temos que ser quase fantasmas. Além disso, podemos ser chamados a qualquer hora do dia ou da noite. Não somos obrigados a ficar, mas a grande maioria acha conveniente, até porque quase ninguém é daqui da cidade. Aliás, quase ninguém é norte―americano, na verdade.

― Então você simplesmente corre o risco de acordar no meio da noite e dar de cara com o Presidente Mitchell?

― Até ano passado, com certeza – ela riu – Agora ele pouco aparece aqui na Agência.

― Pelo visto você se interessou pelo Nicholas, não é? Quem sabe? Até onde eu sei, ele está solteiro.

― Não ― refutei – Eu estava só brincando. Agora eu não tenho nem tempo para distrações. Tudo que eu quero é achar meu filho.

― Sinto muito pelo que aconteceu. Quantos anos ele tem?

― Cinco anos. Eu tenho foto dele no meu celular, que ver? – mostrei a ela a última foto que eu havia tirado do meu filho, um dia antes do sequestro, sorridente com sua nova miniatura de caminhão de bombeiros ― Ele é tudo para mim. Tenho até medo do que eu farei com Joseph quando colocar a mão naquele filho da mãe.

Com toda aquela adrenalina desde o sumiço de Joe, eu tinha tentado ocupar a cabeça com as questões práticas para encontrá―lo, negando a mim mesma o sofrimento. Era como se me entregar à dor me tirasse um tempo precioso que eu poderia gastar procurando por ele. Comecei a passar as imagens e encontrei a foto que eu havia feito do trabalhinho dele de escola, no último dia das mães. Ele havia nos desenhado no parque onde costumávamos ir e escreveu "mamãe eu te amo" dentro de um coração. Tal qual aquele dia, comecei a chorar.

― Eu vou te encontrar, meu filho – falei baixinho – custe o que custar.

...

O despertador do quarto tocou às 6h da manhã. Tomei um banho e vesti um trench coat para suportar os primeiros decréscimos de temperatura do outono de Washington. Antes mesmo das 7h eu já estava no refeitório da Agência, tomando café sob o olhar atento de todos, curiosos para conhecer a nova intrusa. Ansiosa pela reunião, mal consegui comer e me dirigi até à garagem, onde o motorista já estava pronto para me levar. A Mercedes preta parou em frente a uma casa em uma área nobre da cidade. Quando os porteiros autorizaram nossa entrada, imediatamente fui conduzida até o interior da residência. A casa era luxuosa, com uma decoração de extremo bom gosto. A sala, com o pé direito alto, trazia um conjunto estofado de couro negro em contraste com as paredes brancas. O piso de madeira era ornado por um suntuoso tapete lã de carneiro creme e uma lareira no canto esquerdo deixava o ambiente ainda mais aconchegante. Eu ainda estava admirando a decoração quando uma senhora, de cerca de sessenta anos, me levou até a primeira sala após o corredor, onde anunciou que o Sr. Mitchell estava pronto para me receber.

Mitchell estava vestindo uma roupa mais despojada, considerando que estava em casa, com um jeans de lavagem escura e uma camisa social branca dobrada até os cotovelos, destacando ainda mais sua excelente forma física. Ele foi até a porta e quando me viu me cumprimentou formalmente, trancando a porta quando a assistente saiu. Ele arrastou uma cadeira de frente para sua mesa para que eu sentasse.

― Senhorita Villa―Lobos ― começou.

― Noêmia ― corrigi― Pode me chamar de Noêmia. Lá no Brasil não costumamos chamar ninguém da minha idade pelo sobrenome. Eu me sinto meio velha – comecei a tagarelar, como sempre acontecia quando ficava nervosa.

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