one paper, two legs

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Aposto que você conhece aquela sensação de estar esperando por algo que nunca vai aparecer.

Eu estava esperando por alguma coisa. Deus sabe o que. Passei a vida inteira de pé, em frente a uma porta, torcendo para que alguém batesse e trouxesse esse grande acontecimemo que mudaria tudo para sempre. Como se eu estivesse correndo uma maratona eterna, constantemente um pouco mais atrás dos outros participantes. Eu estava procurando por algo que nem ao menos sabia se iria encontrar.

E isso era uma gigantesca merda.

Para piorar o meu mau humor consequente de uma crise existencial idiota, o verão estava para chegar e era a personificação de um pedacinho do Inferno. Acho que se eu movesse um músculo que fosse, derreteria mais rápido que um pote de sorvete no micro-ondas. Então, preferia ficar jogada em minha cama, com os pés apoiados na parede, ouvindo o ventilador de teto girar preguigosamente.

"Youngblood" do 5 Seconds of Summer, tocou pelo quarto. Peguei o celular da cômoda ao lado, o levando até a orelha.

— Vou passar aí daqui a cinco minutos para a gente ir ao clube.

— Oi para você também, querida — disse, soltando uma risada.

— Cinco minutos, Sana! — repetiu.

— Pelo o que eu sabia, até ontem você tinha uma piscina — comentei.

Meu pai tem uma piscina — Chaeyoung rebateu. — E acho que a senhorita se esqueceu do pequeno incidente do ano passado.

— Ah. Isso — deixei uma risadinha escapar.

No último verão, nós fomos para a casa de Chaeyoung para fazer um projeto de Ciências. E, sem querer, acabamos deixando que os pigmentos azul e vermelho caissem na piscina. Quando o pai de Chaeyoung chegou do trabalho, eu falei para ele que, pelo menos, a piscina estava da cor da bandeira dos Estados Unidos. Engraçado, a cara dele chegou bem perto do tom de vermelho da bandeira também.

— É, isso — concordou. — É melhor ficarmos longe daquela piscina por alguns anos — suspirei.

— Então, clube? — perguntei.

— Yep, fique logo pronta. Beijos — e desligou.

Fiquei olhando para o teto por alguns segundos, arrumando coragem para levantar. Gostava de observar os adesivos de planetas e estrelas colados lá em cima. Saber que eles estavam ali me deixava mais calma, mais segura. Apesar de ser um tanto besta, eu não me senti tão sozinha.

— Mãe! — gritei. — Vou pro clube com a Chae!

Caminhei até o armário e escolhi um biquíni qualquer.

— Mina viajará para a Alemanha amanhã.

Me virei para trás. Ela estava encostada no batente da porta, com um pano de cozinha pendurado no ombro.

Encarei minha mãe com tédio.

— Eu vou com ela? — indaguei debochada.

— Não? — pareceu confusa.

— Então, por que eu deveria me importar?

— Sana! — bateu com o pano no meu braço.

— Droga!

— Você, pelo menos, comprou um cartão para ela — não respondi e ela semicerrou os olhos. — Não comprou?

— Um cartão pra que?

— Ela é sua prima, Sana, Deus! — jogou as mãos para o ar. — Custa comprar um daqueles cartões com mensagens legais, do tipo, sei lá, "você é a melhor prima do mundo, vou sentir saudades e espero que se divirta"?

Inclinei a cabeça.

— Sempre me disse para não mentir, mãe.

A questão não é que eu não gostasse de Mina. Quer dizer, é tecnicamente impossível não gostar dela. Ela é perfeita. Talvez fosse por isso que eu estava tão irritada.

— Quer saber, quando você estiver indo para o clube, passe naquele jornaleiro da esquina e compre o cartão mais caro que tiver — apontou o dedo na minha cara. — Com o seu dinheiro!

Minha mãe saiu do quarto com passos duros. Bufei, revirando os olhos.

XX

Isto é uma adaptação, dêem os créditos para a mukecolxrs, que foi um amorzinho em me conceder autorização para postar <3

Obrigada novamente :)

nina; saidaOnde histórias criam vida. Descubra agora