no legs, twelve papers

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— Sunny... O quê nós estamos fazendo aqui?

Sunny. Isso é um sinal de tempestade. De um furacão, chamado Kim Dahyun. O lugar em que estávamos era aconchegante e frio - por causa do ar-condicionado. A menina de cabelos coloridos, escondido pelas camadas de casacos e cachecóis, ergueu os olhos curiosos até mim, procurando por algo; não sei o quê exatamente. A cor de seus olhos é estonteante, do tipo que não revela muita coisa sobre o alguém. E os lábios... Escarlates como sangue. Dahyun é um pecado. Quer dizer, só pode ser. Alguém tão bonita assim só pode ter vindo direto do Inferno. Na primeira vez em que o vi, aposto que pensei, inconscientemente: essa garota será a causa de minha ruína.

— Pare com isso, Dahyun - falei.

Ela arqueeou as sobrancelhas, surpresa.

— Com o quê? - indagou.

— De soar tão calma, controlada. Sei que é exatamente o contrário.

Ela apenas me ignorou. Nada de novo.

— Sabe que é a única que se refere a mim desse jeito? - continuei. - Como Sunny?

— É o seu nome, não é? - disse, distraída.

Um pequeno cachorro esfregou-se pelos meus pés, soltando pelos.

— Ei, garoto - peguei sua coleira. - Uh, você não tem nome, né? Isso parece errado. Todos deveriam ter um nome. Que tal Cookie? - o animal pareceu se animar com a idéia. - Tudo bem, garoto. Cookie, então.

— Cookie? - Dahyun soou debochada.

Dei de ombros, um pouco envergonhada.

— Sempre foi um sonho meu ter um cachorro e colocar o nome dele de Cookie - desviei o olhar. - Tanto faz. Nós estamos aqui por você, não por mim.

— É?

— É. E minhas amigas me chamam de Sana - falei, retomando o assunto.

Os olhos dela se iluminaram por um breve segundo.

— Esse é o ponto, não somos amigas.

Fomos até o canto do pet shop, onde os gatos localizavam-se. Dahyun nem ao menos reclamou de eu empurrá-la até o local; talvez já estivesse acostumada com isso, ou só estivesse cansada demais para fazer uma cena.

— Vê algum que goste? - indaguei, olhando-a de relance.

Ela inclinou-se para o lado de repente e percebi que estava acompanhado o olhar de um dos gatos, que também estava um pouco torto.

— Esse? - sorri.

— Hum, não - disse.

A de cabelos coloridos parou no corredor estreito.

— O quê? - franzi as sobrancelhas.

— Essa - ela falou, sorrindo com todos os dentes.

Acompanhei seus olhos e soltei um "ah" ao ver a gata que a outra havia escolhido.

Ela não possuía um olho.

— Vê? - virou-se para mim, ainda sorrindo verdadeiramente. - Ela é defeituosa, igual à mim.

— Dahyun...

— Eu quero essa, Sana.

— Tudo bem.

— Pegue a carteira no meu bolso esquerdo.

— O quê? - falei. - Sem chances. Eu quero te dar ela de presente.

Ela me observou como se eu fosse uma aberração.

— Você quer o quê?

— Te dar um presente, nunca ganhou um, não?

Ela parecia perdida.

— Eu... Sim. Claro. Mas há tanto tempo que ninguém...

Dahyun é ácida. E acidez não ganha presentes.

- Ei - coloquei minha mão em seu ombro, aproveitando aquele momento, aquele pequeno e breve momento, em que ela estava vunerável, com suas defesas destruídas. - Vamos levá-la logo para casa, Dah.

A menina piscou.

- É, sim. Claro.

[...]

Dahyun's

O pequeno animal estava correndo em círculos há alguns minutos pelo chão do meu quarto. Até que em um momento, a gata prendeu-se ao tapete, rolando até o outro extremo do cômodo e caíndo de rosto no solo. Ela levantou-se, meio tona. Um pequeno sorriso ardonou meus lábios.

Desviei o olhar para o sofá, vendo uma menina com belas pernas largada no mesmo. Sana dormiu assim que chegamos do pet shop, para o meu alívio.

Ouvi o som de alguém colocando a chave na fechadura e rodando-a. Momo.

Arrastei minha cadeira-de-rodas até a sala e encontrei uma garota confusa, com várias sacolas do supermercado em mãos, observando a gata que se esfregava nela.

- Nós temos um gato agora? - indagou.

- Gata.

- Sei - não pareceu aborrecida. - Já tem nome?

Fiz uma pausa.

- Estava pensando em Sunny.

XX

Obs importante: não comprem animais, adotem!

nina; saidaOnde histórias criam vida. Descubra agora