eleven papers, two legs

754 108 205
                                    


"Ficamos acordadas a noite toda quando deveríamos dormir"

_____

— Dahyun? Você está acordada?

— Não, Sunny — resmungou. — Estou falando com você enquanto durmo.

— Isso é possível, sabia?

— Não me irrite, Sunny

Suspiro.

A garota de cabelos coloridos ergue um pouco o corpo, até envolver os dedos no controle remoto preto. Observo-a franzir o nariz e as sobrancelhas enquanto seu polegar trêmulo pressionava fracamente o botão dos canais. Surgem espamos em suas mãos devido ao desempenho desnecessário, as veias destacam-se. Dahyun não é dona de grandes movimentos nos membros superiores - e ela sabe muito bem disso.

— Você...?

— Estou bem.

Um pouco de suor irrompe em seu rosto. Quando percebe que não conseguirá realizar a tarefa sozinha, desiste, jogando o controle remoto longe, parecendo querer explodir de ódio.

Olho-a preocupada.

— Você quer que eu...?

— Só... — disse entredentes. — Cale a boca.

Foco meus olhos no teto pintando como o universo, desejando poder desaparecer nesse tipo de imensidão. Pisco diversas vezes, tentando conter as lágrimas.

Acho que Dahyun percebe que há algo errado ou percebe que passou dos limites, pois, olhou-me de relance e revirou os olhos.

— Procure por aquele programa de gatinhos — mumurrou, soando como uma garota de cinco anos. Cruzou os braços. — Eu gosto de gatinhos.

Sorrio.

— Eu sei.

Fui até o controle remoto perdido entre as cobertas, porém, uma idéia cortou meus pensamentos.

— Nós vamos sair. — falei.

— Não vamos, não — me analisou como se eu fosse louca. — Está tarde e eu estou doente.

Ignorei seus comentários e peguei dois casacos e um cachecol no armário.

— O que...?

Coloquei o moletom folgado no seu tronco magro, logo passando o cachecol pelo pescoço.
Algumas risadinhas escaparam-me.

— O quê? Qual é o problema? – perguntou, irritada.

— Você está parecendo um marshmallow gigante — continuei a rir.

— Eu não vou sair assim de jeito nenhum, Sunny.

— Ah, vai sim. Colabore comigo para que eu possa levantá-la da cama e colocá-la na cadeira-de-rodas.

— Eu não acho que isso seja... — arregalou os olhos escuros.

— Só... — imitei-a. — Cale a boca.

Dahyun bufou, apesar de querer parecer dizer algo mais. Ela utilizou os cotovelos para se locomover até a beirada do colchão.

Usei aquele momento para observar suas pernas: eram voltadas para dentro e muito magras, lembrando um vaso de vidro; quebrável a qualquer toque. Os pés eram tortos, porém, escondidos pelas meias.

— Então, acho melhor você... — murmurrei. — Hum, passar os braços pelo meu pescoço e...

Antes que eu pudesse terminar, Dahyun já havia entrelaçado seus braços no meu corpo e impulsionou o tronco para a frente

Quase caí para trás com o peso inesperado, no entanto, de algum modo, mantive-me em pé.

— O que está esperando, Sunny? — para minha surpresa, um sorriso debochado instalava-se nos seus lábios. — Me coloque na cadeira-de-rodas.

— E se eu não quiser? – retruquei.

Tive que abaixar as mãos até sua bunda, para segurá-la melhor.

E juro que a ouvi arfar.

— Tudo bem, Dahyun? – indaguei com falsa inocência.

Ela estava de palpébras fechadas.

— Você é uma maldita, Sunny...

— Sou?

— Sim... — por um momento, achei que ela fosse me beijar. — Agora, me coloque na cadeira-de-rodas.

Afastei-me, um pouco chateada e com uma enorme vontade de largá-la de qualquer jeito na cadeira-de-rodas. Suspirei e botei-a de forma delicada.

— Vamos.

Chaeyoung's

— Eu só quero deixar claro que estou aqui contra minha vontade — resmunguei.

— Estou procurando uma mesa reservada no nome de Myoui Mina.

— Como você conseguiu fazer uma reserva em menos de cinco horas? Você nem sabia se eu aceitaria o convite!

— Às vezes, é preciso fazer alguns movimentos... — bateu com os dedos no queixo. — arriscados.

— Ah, é? – cruzei os braços. — E se eu não viesse?

Ela sorriu, empurrando-me de encontro ao ambiente lotado de mulheres ostentando seus vestidos importados e homens tragando seus cigarros. Meus olhos se deslocam para meu tênis sujo, me sentindo envergonhada de súbito.

Sinto os lábios de Mina perto do meu ouvido, sussurrando palavras que me deixariam irritada apenas minutos depois, já que, naquele momento, era um pouco impossível de se prestar atenção em suas falas.

— Você não é a única a quem pago jantares caros com propósito de levar a um lugar muito mais divertido depois — se afasta, ajeitando o cabelo atrás da orelha — Não se preocupe com suas roupas. Você está ótima.

Ainda estava um pouco atordoada quando nós nos sentamos perto das paredes de vidro que ofereciam uma visão excepcional do rio e suas luzes.

— Só por curiosidade... — franzi as sobrancelhas. — Quanto você pagou por... — realizei um movimento de mão. — isso?

— Não vou te contar — Mina disse, olhando o cardápio. — Seria deselegante.

— Me conte ou eu vou embora.

A outra semicerra os olhos.

— Está blefando.

Arqueei as sobrancelhas.

— Quer descobrir?

Ela bufa.

— Você é insuportável. Digamos que custou mais que a sua casa.

— Mas...

— É só isso que você vai conseguir tirar de mim, sweet.

— Mas, como...?

— Não me obrigue a te beijar para te fazer parar de falar.

Bufei.

— Ótimo.

nina; saidaOnde histórias criam vida. Descubra agora