three papers, two legs

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"Você disse-me que eu podia tocar guitarra como se tocasse sinos."

...


— ela disse que "não se importava"! - acertei uma batata frita em minha boca. - Dá para acreditar?

— Na verdade, dá sim - Chaeyoung resmungou enquanto encarava o hambúrguer em suas mãos. - Já que você contou essa história cinco vezes em dez minutos.

— Sério? - fiz uma careta acompanhada de um riso singelo. - Bem, foi porque ela me irritou bastante. Ela parece ser aquele tipo de pessoa que se acha melhor que todas - balancei a cabeça. - Super arrogante.

— Você devia levar em consideração que a garota está presa em uma merda de cadeira-de-rodas. Obviamente, a vida dela não deve ser fácil, certo?

— Acho que sim — concordei.

— Imagine se você não pudesse mais tocar violão — Chaeyoung falou.

— Retire o que disse! — bati em seu braço, irritada. Chaeyoung soltou uma garglhada. — Não teve graça. E eu estou atrasada para a aula de música, graças a você.

— Foi você que me convidou para lanchar! — exclamou.

— Mas é você que come muito devagar — pisquei e dei um beijo em sua bochecha —   Ligue para a senhora Sophia mais tarde e aguente os gritos dela!

[...]

Ao caminhar por uma rua com casas de telhados inclinados e jardins decorados por margaridas, avistei o letreiro apagado da pequena loja em que Dahyun trabalhava. Ajeitei a corda do violão no ombro.

Tateei meu bolso e achei algumas notas amassadas, talvez o suficiente para comprar um jornal. É, ótimo Minatozaki Sana, acho que tinha um fraco por pessoas arrogantes e bonitas.

O sino soou pelo ambiente, assim como no dia anterior.

— Devo chamar a polícia? — Dahyun indagou com um sorriso mínimo. Havia sete caixas de papelão rodeando sua cadeira-de-rodas, e jornais amarrados por plásticos espalhados pelo chão.

— Não. Não dessa vez — falei, envergonhada. — Acho que tenho dinheiro suficiente para comprar um jornal.

— Maravilha, irá me poupar um grande esforço — bateu nas rodas metálicas. — Você não sabe como é dificil lutar contra uma árvore sentada.

— Você acabou de me chamar de árvore? — perguntei, incrédula. Eu nem era tão alta assim.

— Talvez - respondeu com aquele sorriso mínimo. Linda do caralho.

Dahyun tinha olheiras profundas embaixo dos olhos castanhos. detalhe que não havia percebido no dia anterior. Além de machucados circulares em suas mãos, como se uma agulha houvessem perfurado o local diversas vezes. E ficava tão visível em sua pele tão branca...

Ela abaixou o corpo e começou a desenrolar um dos nós que prendia uma pilha de jornais.

— Deixe que eu faço isso...

— Apenas minhas pernas estão paralisadas - falou, rude. - Meus braços estão bem.

Recuei, um pouco magoada e coloquei as mãos nos bolsos.

Ela ajeitou-se na cadeira de rodas e limpou o suor com o braço. Apenas um pequeno esforço deixava-a exausta.

— São 3 wons — informou.

Lhe entreguei uma nota e Dahyun foi até o caixa, que emitia um som agudo ao ser aberto. Ela tentou entregar-me algumas moedas insigniticames de troco, no entanto, permaneci com as mãos no bolso.

— Pode ficar — dei de ombros, como se aquilo não fosse nada demais. Mas eu poderia usar aquelas moedas para comprar chiclete mais tarde.

— Ainda não me disse seu nome — disse de uma vez.

Pude sentir meu canto da boca querer se curvar em um sorriso.

— Então agora se importa? — soltei.

— Tudo bem, não é minha prioridade - ia voltar para fazer alguma outra coisa.

— É Sana — trouxa.

Ela pareceu processar aquilo.

— Sabe tocar? - mudou de assunto, apontando para o violão.

—  Mais ou menos.

— Toque algo — pediu. — Gosto do som do violão e a muito tempo não o ouço.

Assenti e sentei-me no balcão do jornaleiro, posicionando o violão no meu colo e meus dedos nas cordas. Dedilhei a melodia de Pallete da IU.

Dahyun fechou os olhos e maneou a cabeça positivamente, aprovando minha escolha de música. Me animei um pouco e até cantei algumas partes, sorrindo.

— Você é boa — limitou-se a dizer.

— Obrigada — cocei a nuca. — Eu tenho que ir. Acho que até amanhã.

— Você vai voltar? — ela perguntou um pouco surpresa.

Andei até a porta e olhei-a de relance.

— Por que não voltaria?

XX

Repostando pq o wattpad me odeia :)

nina; saidaOnde histórias criam vida. Descubra agora