no legs, sixteen papers

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Dahyun's

Sana foi embora assim que terminou de pintar o meu cabelo. Foi um pouco estranho. A despedida, quero dizer. Geralmente eu falava o quanto estava feliz por não ter que olhar mais para a cara feia dela e ela comentava o quanto eu era gentil e agradecia por minha adorável companhia. Depois, eu ria e fechava a porta. Era mentira. A parte da cara feia.

De qualquer modo, hoje tudo foi um pouco desconfortável. Eu disse um "tchau" baixo e ela também. Só isso. Nada de sarcasmo ou piadinhas idiotas. Quase senti falta do jeito que ela me olhava de canto e mordiscava o lábio inferior, como se estivesse me desafiando. Quase. Não muito.

Momo estava sentado no sofá da sala, esperando por mim.

— Você contou — não acho que aquilo tenha sido uma pergunta, mas, de qualquer forma, balançei a cabeça, assentindo.

— Podemos conversar amanhã? Estou muito cansada — falei, forçando um bocejo. Não gostava de mentir para Momo, porém, eu sabia que ela me deixaria em paz se dissesse que estava cansada. Ela se preocupava muito com minha saúde.

— Por quê? — ela insistiu na questão, para minha surpresa e irritação.

— Por que o quê, Momo?

— Por que contou pra ela?

— Por que não contaria? — arqueei as sobrancelhas.

Ela permaneceu em silêncio por um segundo. Acho que estava tentando escolher as palavras certas.

— Eu só não entendo — suspirou. — Você nunca contou isso a ninguém. E você só conhece ela tem alguns meses.

— Me desculpe, não estou te entendendo — aquela conversa era estúpida. — Você está puta porque estou sendo amiga de alguém que não seja você?

— Só amigas? — inquiriu, de repente.

Uma risada rápida escapou de meus lábios.

— O quê, exatamente, você quer dizer com isso? — olhei para ela, entretida. — Acha que não percebo o jeito que a Sana me olha?

— Na verdade, tenho certeza que você percebe — levantou-se do sofá. — Mas, não acho que você perceba o jeito que olha para ela.

— Eu não gosto dela.

— Tudo bem.

— Eu realmente não gosto dela.

—  Legal.

— Eu não gosto dela.

— Então por que está repetindo isso?

Antes que eu pudesse evitar, estava chorando. Chorando de verdade. Gritando e soluçando. Era difícil respirar. Meus pulmões pareciam rejeitar o gás oxigênio, como se fosse algo tóxico. Meus ombros começaram a chacoalhar, para cima e para baixo. Eu caí para frente e Momo me segurou, passando os braços ao meu redor. O chão estava frio e Momo era quente. Era bom. Eu poderia só ficar ali para sempre — e não seria um grande sacrifício.

nina; saidaOnde histórias criam vida. Descubra agora