nine papers, two legs

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Chaeyoung's

— Oh, eu me lembro disso! — Mina riu, os olhos focados nos enfeites natalinos espalhados pelo meu quarto, especialmente o Papai Noel sorridente que ocupava metade do espaço disponível. — Pelo visto, sua mãe ainda não encontrou um lugar decente para isso tudo, certo? — a garota soltou uma risadinha enquanto brincava com uma das renas de cristal.

— Pelo amor de deus, solte isso! — resmunguei, aproximando-me de Mina e retirando o objeto de suas mãos fazendo com que desse ainda mais gargalhadas. — Qual é a graça?

— Seu rosto — ela arrastou o dedo pelo meu maxilar, fazendo um leve carinhoso. — Você é ainda mais linda quando se irrita. Sabe, uma ruginha aparece bem aqui — apontou para a área entre minhas sobrancelhas. — E esse bico adorável... — suspirou. — Droga, Chaeyoung, se eu pudesse...

— O que você quer, Mina? — cruzei os braços. — Por que me ligou?

Ela pegou um dos globos de neve da cômoda e começou a girar em suas mãos.

— Eu não vi a Tzuyu com você durante esses dias... — ergueu o olhar até mim novamente. — Vocês... terminaram?

Arregalei os olhos.

— Não. Talvez. Sim — murmurei e o sorriso do outra quase fez-me desmentir o que havia falado. — Não acha que isso não é da sua conta?

— Ah, claro que é, sweet — tocou no meu nariz. — Isso quer dizer que você está disponivel para um jantar comigo.

— Não, não estou! Eu não quero sair com você!

— Eu não estava pedindo — sorriu de lado e caminhou até a porta. — Passo para te buscar às oito.

Eu poderia protestar, porém, tinha consciéncia de que Mina não me daria ouvidos. Antes de ir embora, ela virou-se e olhou-me por cima do ombro.

— Você já parou para pensar que talvez tenha terminado com a Tzuyu porque está apaixonada por outra pessoa? — seus lábios repuxaram-se em um sorriso triste. — Até amanhã, sweet.

Sana's

Meus dedos longos e pálidos seguraram um dos pedregulhos escorregadios jogados no quintal de Dahyun e logo o mesmo estava sendo arremessado no ar, caindo no solo segundos depois. Suspirei. agachando-me com intenção de pegar outro pedregulho do montinho que havia feito. Dessa vez, o baque chegou aos meus ouvidos; esperava que aquele fosse o quarto da colorida.

— Dahyun! — gritei com as mãos ao redor da boca. — Dahyun! Por favor, fale comigo!

Talvez eu estivesse soando um pouco desesperada, porém, estar desesperada é uma sensação comum nos meus dias depois de conhecer Kim Dahyun - desesperado por ser tão Minatozaki Sana.

— Sério? Você? De novo? — Momo saiu correndo pelo quintal em minha direção vestido um roupão roxo e com os cabelos despenteados.

— Meu deus, Sana, vá embora!

— Não — bati o pé no chão. — Eu quero vê-la.

— Ela não quer te ver.

— Eu não me importo! — gritei, exasperada. — Por favor, eu só preciso de cinco minutos.

Momo olhou-me como se eu fosse um inseto irritante do qual ela não conseguia se livrar. E passou os dedos pelo cabelo, e suspirou, e andou de um lado para o outro, até franziu o nariz e deixar os ombros caírem.

— Cinco minutos, está me ouvindo? — quase podia ter soado ameaçador, se não fosse pelos cachos dourados bagunçados e no meio do rosto.

— Sim. Claro — sorri.

— Não entendo como Dahyun te suporta — murmurou enquanto andávamos até o quarto da garota. A outra olhou de relance para o balde de tinta em minhas mãos. — O que é isso?

Dei de ombros. Entrámos no quarto.

Os olhos da colorida encaravam-me; não estavam surpresos, nem felizes, nem mesmo curiosos em ver-me. Estavam vazios, é, acho que essa é a melhor palavra que eu poderia usar para descrevé-los. Para descrevé-la. Kim Dahyun era vazia, e ao mesmo tempo, transbordava.

— Vou deixar vocês sozinhas. — Momo disse baixo. — Cinco minutos ouviu?

Ela encontrava-se sentada na cama. Depois de um tempo, desviou o olhar de mim para a parade.

Comprimi os lábios e suspirei, logo usando o espaço vazio do colchão para colocar meu pé e subir, até alcançar o teto. Mergulhei o pincel na tinta preta e centímetros antes de começar a pintar, a voz surpresa dela interrompeu-me:

— O que está fazendo?

Olhei para ela.

— Pensei que como você terá que ficar nessa cama durante um bom tempo, não poderá ver o céu — sorri fraco. — Então, resolvi pintar o seu universo particular.

Quando acabei, eu sentei no silêncio, então. Não; não no silêncio. Aquilo era uma atmosfera de palavras não ditas acumuladas. E Dahyun ainda estava ali. Nós duas olhando para Marte, que estava com o traço um pouco torto. Ela não disse nada, e nem precisava, eu queria pensar que tinha gostado. Era melhor assim.

nina; saidaOnde histórias criam vida. Descubra agora