no legs, eight papers

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Tomei um terceiro gole de café puro. Os murmúrios e vozes soavam distantes e distorcidos, como se estivessem mergulhados no oceano. As luzes brancas incomodavam os meus olhos, fazendo-me coça-los com o dorso das mãos de um em um segundo. Meu tronco encontrava-se inclinado para frente, apenas encarando os cadarços sujos do tênis preto dela. As galochas amarelas haviam permanecido no quarto de Dahyun, por sorte, ela calçava o mesmo número que eu.

Pernas longas revestidas por uma calça jeans justa adentraram no meu campo de visão. Ergui os olhos até Momo, que encarava-me com os braços bronzeados cruzados e os lábios franzidos. Meu coração embateu contra minha caixa toráxica com força enquanto levantava-me em um pulo.

— Ela está bem? — indaguei. — Eu posso vê-la?

— Sim, ela está bem — falou, ríspida. — E, não. Ela está dormindo. E não acho que ela vá querer ver você.

— C-como assim? — gaguejei.

— Você já a ajudou muito, Sana — disse, um tom de ironia prevalecendo ali. — Ela quase morreu por sua causa.

— Por minha causa? — franzi as sobrancelhas. — Eu não sabia...

— Já está na hora de você ir embora. Não vai conseguir conversar com ela hoje mesmo — me cortou.

E dito isso, ela simplesmente virou-se de costas e andou até o interior do hospital, deixando-me deslocado entre o mar de pessoas com lágrimas salgadas nas bochechas.

[...]

— Sana... — Chaeyoung suspirou. — Isso é inútil. Você sabe que ela não está aí.

— Eu só... — encolhi os ombros, observando o jornaleiro vazio. As imagens de nós duas dançando -  se é que você poderia chamar  aquilo de dança - invadiram minha mente. —  Essa rua parece errada sem ela.

— Eu sei, Sana. Eu sei — a morena forçou um sorriso. — Vou te esperar no carro. Mina já está no aeroporto.

Chaeyoung voltou para o veículo, os pontos brancos de neve decorando suas mexeidas pretas. Levei um momento para acompanhá-la, dando uma olhada no prédio silencioso, implorando para que aquela fosse a última vez que o veria sem a garota colorida.

[...]

— Não acredito que estou com os pés em Seul novamente — Mina comentou. — Eu poderia me hospedar na Alemanha pelo resto dos anos que me restam. Mas, é claro... — sorriu. — Não sem ter você comigo.

Chaeyoung revirou os olhos e eu franzi a ponta do meu nariz.

— As alemãs são um bônus imperdível — falou com um sorriso convencido no rosto, esperando por um comentário da morena. — Ah — virou-se para mim. — Obrigada pelo cartão, Sana. Ele estava muito... Interessante. Sua letra, ahn, estava adorável.

— Obrigada, Mina — suspirou.

— O que há de errado com você, prima?

— Estou bem.

A menina de cabelos loiros escuros me estudou atentamente e, logo depois, agarrou minha mão que estava jogada entre minhas pernas, dando tapinhas calorosos na mesma.

— Não se sinta pressionada a me contar, Sana. Apenas me preocupo com você — deu um sorriso singelo — Não gosto de te ver triste como está agora.

— Eu... — mordi o lábio. — Eu gosto de alguém, mas, ela não gosta de mim. Pelo menos, não do mesmo jeito.

— O nome dela é Dahyun — Chaeyoung completou.

— Hummm... — ela murmurou. — Como ela é?

A mais velha passou a língua entre os lábios, ao mesmo tempo que passando vários momentos que ela teve com Dahyun.

— Teimosa. Interessante. Linda. Dona do meu coração e ao mesmo tempo a destruidora dele — falou sem emoção.

— Sana, ela é um tola se não consegue enxergar a sorte que possui por ter uma garota como você.

— Sorte? — soltei uma risada seca. — Acho melhor charmamos de azar.

Mina arqueeou as sobrancelhas, confusa.

— Não entendo o motivo. Você é leal, compreensiva e sensível. E muito, muito bonita.

Se fosse qualquer outra pessoa dizendo-me aquelas mesmas palavras, eu teria me sentindo envergonhada. Porém Mina assim mesmo; sempre doce e educada.

— Obrigada, Minari — disse novamente.

— Por nada. E nunca mais quero ouvir essas palavras tic autodepreciativas, estamos entendidas? Você é mais linda com aquele sorriso no rosto.

— Sim — realizei uma pausa. — Será que você poderia me deixar na casa de Dahyun, Chae?

[...]

Chaeyoung's

— Você está com frio? — Mina indagou.

— Eu estou bem — falou apreensiva.

— Você está tremendo, sweet — a garota retirou um par de luvas do bolso e encaixou-as em minhas mãos enquanto o trânsito encontrava-se monótono.

Os dedos da outra roçaram levemente em minha pele, retirando uma mecha preta que caía em minha testa.

— Eu senti tanta a sua falta, Chae — admitiu em tom baixo. — Todos os segundos em que estive lá gostaria de poder ter os compartilhado com você. Visitei lugares, experimentei comidas novas e aprendi coisas que sei que a deixariam encantada — ela começou a desenhar círculos aleatórios na minha mão. — Por que você não aceitou me acompanhar? E venha me dizer que foi por falta de dinheiro, me ofereci a pagar todas as suas despesas necessérias.

Mina procurou a resposta para um pergunta que não havia feito em meus olhos. Ela suspirou e afastou-se, deixando-me atordoada.

— Eu te amo, sweet — sorriu triste. — E quando você estiver pronto para dizer que ama também, eu estarei aqui. Por você, vale a pena esperar.

[...]

Sana's

Me arrependi no mesmo momenta em que toquei a campanhia.

— Você? — Momo semicerrou os olhos. — Que droga você faz aqui?

— Dahyun... — pigarrei. — Dahyun. Eu quero vê-la — disse, convicta.

— Acho que isso é problema seu — a garota riu sarcástica.

— Por favor... — implorei.

— Tchau, Sana.

Observei a superfície de carvalho por minutos incontáveis antes de virar-me, colocar o capuz sobre as mechas e descer em pulinhos os degraus. Meus pés mascaram a neve e logo constatei que ainda usava o vans de Dahyun. Apoiei-me no muro de pedras e retirei os sapatos, deixando-os alinhados do lado de fora da porta. Caminhei até em casa com o olhar focado em minhas meias coloridas, pensando que o frio nos meus pés não se comparava ao frio que havia se instalado em meu peito.

nina; saidaOnde histórias criam vida. Descubra agora