Prólogo

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O sol não demorou a surgir ao leste.

Mesmo na eminente escuridão que antecedia os primeiros raios solares um homem caminhava pesarosamente. Embora utilizasse pesadas roupas de lã, o frio o castigava acometendo seu corpo trêmulo e nada parecia fazer efeito para tentar agasalhá-lo. Sentia que a túnica preta e a máscara sinistra com um bico pontiagudo só serviam para fazer sua situação piorar.

Tendas estavam espalhadas por um morro em desnível e lá de baixo podia se avistar o vilarejo de Santillana del Mar.

"Cidade das Três Mentiras." Pensou consigo mesmo o homem que, de repente, parou de andar.
Ele estava perdido?

Não. Apenas ficou observando o vilarejo que ainda dormia. Mesmo por baixo daquela incômoda máscara, forçou um sorriso de lado.

Não faltava muito para ele chegar até onde pretendia e pelo jeito que caminhava o tempo não parecia mais fazer nenhum sentido.

Entretanto, precisava chegar ao seu destino, por mais sofrível que aquilo pudesse ser!
Talvez tivesse passado horas ou mesmo vários minutos, em seu delírio o homem não saberia responder.

Finalmente avistou uma tenda como tantas outras que já havia passado até chegar ali, mas ele tinha certeza absoluta era aquele lugar que procurava. 

A tenda era espaçosa poderia caber dentro dela cinco ou mais pessoas. Mas ele sabia que haveria apenas uma pessoa dentro.

 "E é justamente com essa pessoa que eu necessito conversar."

Sem hesitação chamou por um nome.

-Nolan Deakins!

Não houve respostas.

-Nolan Deakins!

Silêncio.

-Nolan... Deakins! -O homem percebeu que aquele esforço o deixou aparentemente cansado, somado com o tempo em que já estava caminhando.

Sem mais conseguir resistir, ele acabou perdendo o restante de sua força e caiu no chão desacordado. 

Ao abrir os olhos percebeu que o sol já havia nascido. Quanto tempo? Ele não saberia responder. Intuitivamente passou a mão em seu cabelo escuro e liso e ao perceber que estava sem a máscara ficou sobressaltado. Foi então que percebeu que sentado à sua frente havia um rapaz alto e magro, sua barba era falha e usava um chapéu.

-Nolan, por favor, não posso ficar sem a máscara. Pegue-a para mim.

-Não há necessidade, Carl Weaver.

-Você não entende rapaz essa doença é contagiosa. Por favor.

Nolan Deakins deslizou de sua mão um cordão de contas. Era um terço feito de madeira. 

-Estou protegido.

Carl observou o rapaz, suspirando ele assentiu. Então começou a falar:

-Eu não poderia ter vindo nessa região do campo. Aqui é a área das pessoas que não estão infeccionadas com a doença. Mas é chegado a hora, você deve partir.

-Eu pretendo partir juntamente com o senhor, doutor.

O médico tinha os olhos muito escuro, quase pretos, ligeiras rugas marcavam o canto de seus olhos. Por causa da doença sua face estava cheia de manchas vermelhas, do lado esquerdo de seu rosto havia nascido uma bolha e estava com pus.

-Sejamos realistas. Isso não será possível, Nolan.

Nolan não disse nada. Observava o homem a sua frente.

-Ouça com atenção o que tenho para lhe dizer. -O médico estava com os olhos lacrimejados. -Não poderei concluir com nosso objetivo, mas você ajudará Gerald Brandt, será seu braço direito. Em você eu confio, Nolan. Pegue. -Ele puxou uma corrente que usava e estendeu-a. -Use um pano limpo para segura-la e quebre o pingente de cristal.

O rapaz fez o que o médico pediu. Segurou a corrente e nela havia um pingente com um cristal de vidro. Ele jogou o objeto no chão duro e quebrando o vidro revelou-se uma carta.
Carl o esperou ler a carta e continuou:

-Doutor Gerald Brandt está acomodado na ilha de Stantler. Vá até ele e ajude-o. Nessa carta eu transfiro todo meu legado a você, Nolan Deakins.

Admirado, o rapaz encarava a carta. Ele respondeu:

-Irei me dedicar com minha vida se for necessário por esse intento. O senhor não irá se arrepender de ter depositado sua fé em mim.

Carl forçou um sorriso de lado.

-Tenho certeza que não. -O médico suspirou profundamente. -Agora faça algo indispensável para mim.

Nolan assentiu. O médico continuou:

-Não se esqueça da minha família. Tudo que eu mais desejo é estar ao lado de minha esposa e do meu filho. Não será possível. Prometa, Nolan, que irá incluir, na hora certa, meu filho nesse nosso intento. Não deixe que nada falte a ele e a sua mãe.

O rapaz teve vontade de apertar a mão do médico, mas sabia que não seria possível.

-Eu prometo!

-Mais uma coisa. - Carl apontou com a mão trêmula para uma mesinha que estava do lado oposto. -Deixei aqui alguns livros de medicina e uma pequena quantia em dinheiro Insalur. Minha esposa e meu filho estão vivendo na ilha de Matioli. Entregue a eles. E diga que sempre os amarei, não importa onde eu estiver.

-Será dito, doutor. -Assentiu Nolan emocionado.

No outro dia, bem cedo, Nolan já havia se preparado para zarpar, primeiro iria até a ilha de Matioli, em seguida partiria para Stantler. O rapaz arranjara um navio clandestino que fazia a frota entre alguns países europeus até as ilhas em meio ao oceano Atlântico. Uma rota completamente proibida que apenas um exilado poderia conhecer! Foi quando ajudava a desamarrar as cordas do navio que recebeu um homem estranho que veio lhe trazer notícia que o doutor Carl Weaver havia falecido. 

-Enterre juntamente com o doutor Weaver. -Ele entregou ao homem o terço.

... ...

Olá, esse é meu primeiro livro, então devo orientá-los que existirá erros ortográficos, porém sempre leio e corrijo para garantir a vocês uma excelente experiência nesse universo que eu criei para todos nós. Saibam que são vocês que me motivam a escrever cada dia mais. Por favor, não esqueçam de me ajudar votando e comentando !! Muito obrigado.

OS REINOS EXÍLIOS - Espadas e ConflitosOnde histórias criam vida. Descubra agora